A culpa é dos alunos?

As escolas brasileiras enfrentam uma grande crise de valores.

As escolas brasileiras enfrentam uma grande crise de valores. De modo simplificado, elas podem ser divididas em dois grupos: em um deles, as que aceitam os problemas como inevitáveis e eternos, e que debitam as dificuldades em obter bons resultados educacionais a causas diversas: o governo, qualquer que seja, os baixos salários, a falta de motivação profissional, e principalmente aos próprios alunos que seriam indisciplinados, mal preparados, desinteressados, até mesmo agressivos entre eles e com os professores e funcionários.

O outro grupo, que parece estar em crescimento, é constituído por escolas que reconhecem os problemas e tentam resolve-los; não ignoram a realidade sociocultural em que atuam, conhecem seus alunos e suas dificuldades, procurando realizar mudanças significativas para adequar docentes e discentes a essa realidade e às novas demandas de ensino e aprendizagem.

De acordo com um dos mais expressivos pesquisadores da área, o catarinense Pedro Demo, o problema principal da escola não está no aluno, mas sim na possibilidade de recuperar a competência do professor, que sofre todas as mazelas do sistema educacional, enfrenta a precariedade de sua formação, não domina as tecnologias que estão disponíveis a seus discípulos, tem extrema dificuldade de capacitação e sente-se desvalorizado profissionalmente.

Acrescente-se a isso o fato inconteste de que os jovens hoje têm formas inteiramente diferentes de buscar informação e conhecimento em relação àquelas utilizadas pela maioria de seus professores. Eles se movimentam no ciberespaço, interagem com outros de mesmo interesse, tem acesso instantâneo à área que valorizam.

Evidentemente, por imaturidade também confundem o grande número de dados “brutos”, não devidamente racionalizados e contextualizados com conhecimento, e essa questão teria que ser debatida e aclarada, estabelecendo-se formas de discernir uma de outra coisa. Porém, muitos professores produzem e consomem conhecimento de maneira tradicional, fazendo uso quase exclusivo das tecnologias associadas à sua própria formação, e apenas trocando experiências com quem tem proximidade geográfica.

Atribuindo valor ao registrado em papel, em tempos nos quais enciclopédias continham o resumo do saber humano, percebem o conhecimento de forma muito distinta de seus estudantes. Reclamando que seus alunos são desmotivados e sem leitura, deixam de observar que estes passam muitas horas por dia às voltas com Facebook, MSNs, Youtube e outros recursos multimídias, os quais poderiam ser utilizados de forma interativa, imersiva e criativa, aproveitando esta disponibilidade para as redes, fazendo delas locais onde “fazer a lição de casa”, assistindo vídeos instrutivos, lendo textos pertinentes, postando a colegas reflexões sobre a disciplina.

Mediadas pelo professor, estas atividades poderiam ser úteis e esclarecedoras. No entanto, embora estes recursos possam ser necessários e importantes, não são apenas softwares e a disponibilidade de espaços informatizados que poderão resolver toda a defasagem que enfrentamos na questão educacional.

Qualidade não se compra junto com um computador, é preciso implementá-la nos procedimentos escolares todos, o que envolve desde o resgate das competências do magistério, já que é preciso flexibilidade para conectar diferentes situações de aprendizagem, e muitas vezes readequação profissional para transpor o obstáculo representado pela ineficiência tecnológica.

Investimentos materiais fazem, sim, muita diferença na metodologia utilizada, bons laboratórios e bibliotecas, acesso às mídias digitais aproximam o aluno de uma área do saber, mas sozinhos não garantem boa aprendizagem, o professor ainda é essencial neste processo.

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É educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil, e assina a Coluna Educação & Cotidiano.

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