Basta uma coisa.

Por que é tão difícil mudar de vida? Por que tanta gente desiste dos sonhos? O texto de hoje fala sobre o próximo passo. Sobre o primeiro passo – talvez o único em que se deva pensar quando se deseja empreender na própria vida, uma mudança de estruturas.

Não que baste uma coisa. Mas às vezes mudando apenas uma coisa, consegue-se uma mudança de grande dimensão, que às vezes nem se pensava.

Digo isso porque pensar numa mudança estrutural aparenta enorme esforço, grande dificuldade. Mas pensar em mudar “uma” coisa, acrescentar “uma” tarefa ou “um” único novo procedimento, não.

E nem digo que seja preciso pensar na mudança maior. Às vezes não se almeja uma mudança global, é coisa que acontece em consequência, não planejada. Mas um hábito novo pode reverberar  em vários outros setores da vida, independentemente de previsão ou objetivo maior, e isso é que importa.

Tenho mais de um exemplo, felizmente, de pessoa que se inscreveu na academia, por exemplo, e mudou a vida. Começou apenas acrescentando exercício físico à rotina, às vezes por motivo de saúde, e a coisa foi tomando uma dimensão maior do que jamais se imaginou, mudou o corpo, a autoestima, depois os gostos, o apetite e até, por que não, as amizades, as prioridades, os objetivos de vida.

E a procura não era mudar fundamentalmente a vida, balançar os pilares da personalidade e rearquitetar a estrutura por inteiro, mas apenas, talvez, atender um pedido médico, ou uma necessidade  interna, de certa forma limitada ou despretensiosa. Mas o que se consegue com um pequeno e único novo hábito pode ser surpreendente e resultar num novo jeito de viver, novas companhias, e às vezes até em uma união, um namoro, um casamento, ou um rompimento (é também possível, e não raras vezes, bem-vindo).

Não só apenas com a academia percebemos isso. Pode ser que alguém se inscreva numa aula de violão e ganhe, de lambuja, novos interesses, novas perspectivas, novas amizades, além, é claro, da dádiva de aprender um instrumento.

Outra pessoa pode ser que encontre isso em aulas de dança, num curso de línguas, numa rotina de caminhadas no parque, ou numa hora do dia reservada para estudar pra um concurso público, ou numa prática religiosa.

O que eu percebo é que se se pensar na mudança estrutural, num grande salto, a antevisão dos obstáculos do caminho podem obstruir a obtenção do que se deseja. Mas quando a ambição é “mais pequena”, ou seja, quando se pretende apenas um passo, apenas uma pequena interferência no modo de viver, o caminho para a reformulação da vida pode se dar mais facilmente, e sem o empecilho da autossabotagem, que muitas vezes nos infligimos.

Digo isso pra vocês, mas digo especialmente para mim mesma. Pense no próximo passo. Num único passo. Não adiante ficar premeditando a vida assim, deixe que a vida te surpreenda,!

Pra mim, uma época, funcionava muito pensar que eu precisava ter “uma” atividade no dia. Isso valia principalmente para os fins de semana, já que os dias de semana estavam cheios por conta da rotina de trabalho, cuidados com a casa, com a filha, etc.. Mas teve um tempo em que os finais de semana eram longos demais, e me deixavam ansiosa. Até  que criei essa regra: preciso apenas de “uma” coisa para fazer, uma ida à academia, ou ao supermercado, aquele filme no cinema, um encontro de algumas horas com uma amiga, qualquer alguma coisa que me tomasse uma ou duas horas do dia seria suficiente pra não deixar aquela sensação de vazio que às vezes acomete as pessoas sozinhas. E pra mim funcionava, porque, afinal, preciso de tempo livre e também de solidão, se quiser criar e concretizar os projetos de criação que tenho, pois escrever é um trabalho solitário.

É preciso acrescentar apenas uma coisa.

Basta uma coisa, se ela for empreendida de coração.

Uma coisa pode ser suficiente pra modificar o fundamento da sua vida e, com certeza, é o primeiro passo, o próximo passo, a única coisa em que é preciso pensar pra empreender uma grande mudança e reinventar o jeito de viver (quem queremos ser),  e deixar nascer quem de verdade somos.

Apenas “uma” coisa pode ser o mesmo que não desistir e, de quebra, ressignificar o sentido de tudo.

Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.

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Lári Germano é autora dos livros "Cinzas e Cheiros" e "En plein air - ao ar livre". Conheça e adquira os trabalhos no site www.larigermano.com. Lári escreve também na página pessoal do Facebook e nos Instagrams @lari poeta e @lariprosaetrova . É compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud, Twitter e Youtube. A foto do logo é assinada pelo fotógrafo Fernando Pilatos www.fernandopilatos.com.br.

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