Nessa semana estive presente no II Encontro Nexos Sudeste, um evento do grupo de pesquisa sobre Teoria Crítica e tecnologia na UFABC, e gostaria de apresentar aqui algumas ideias acerca da mesa sobre Indústria Cultural (IC) que me chamaram atenção e que mostraram como o termo da IC é muito atual e, para nossa infelicidade, parece se intensificar cada vez mais.
Primeiramente, a própria ideia de Indústria e Cultura, conforme criada por Adorno e Horkheimer, mostra uma contradição inerente ao aparato da arte no século XX. Indústria, o lugar da produção material e da alteração da natureza em detrimento a um tipo de produção capitalista, ao se unir com a Cultura, forma aquilo que se concretizou ao longo do século XX se tornando um nicho de mercado, ou mesmo uma manifestação da vida do trabalho industrial no âmbito da arte. Nesse sentido, é relevante pensarmos nessa relação intrínseca que se dá na arte atual: ela não pode ser desvencilhada dos fenômenos da sociedade e do modo de como o mundo do trabalho se prolonga na mais simples ida ao cinema.
No período analisado por Adorno e Horkheimer, ainda durante a Segunda Guerra, o mundo capitalista não tinha tomado seu caráter global, o que ocorreu apenas com a implementação do modelo neoliberal a partir da década de 70 e se consolidou com a queda da URSS em 1989. Sendo assim, esse modo de política e economia que se instaurou desde então, teve ampla dominação e se alocou em diversas sociedades como forma de dominação.
Um exemplo interessante é o caso chinês. Com a industrialização crescente nas últimas décadas e ainda vivendo sob um regime comunista, a estratégia mais recente deste século chinês tem sido também um investimento na Indústria cultural. Uma forma de dominação ideológica, o softpower, que causa impacto regional e global de sua cultura. Sua mudança para uma nova hegemonia já começa a dar os passos na cultura através desse modelo da IC se reproduzindo.
As respostas da IC ao modo tradicional que ela mesmo vinha operando parecem se tornar cada vez mais atrativos. A exemplo disso, o Facebook e o Netflix podem ser lidos sobre essa relação inerente do modo da sociedade e de sua repercussão na IC. O Face se apresenta como uma rede social gratuita, que opera de acordo com a movimentação de seus 2 bi de usuários e oferece propagandas, pelas quais se mantém dominante. A produção de seu conteúdo é administrada, isso significa que ocorre de acordo com os gostos do usuário. Recentemente uma mudança na política da empresa gerou a intensificação desse modelo, criando bolhas ideológicas, dado que cada usuário só tem acesso ao conteúdo relacionado aos seus likes. Já o Netflix opera por uma lógica semelhante, mas cria conteúdos específicos: séries e filmes. Tal conteúdo é também disponibilizado de acordo com os likes dos usuários. Talvez não seja difícil vermos no futuro próximo a disponibilidade de conteúdos exclusivos para os usuários, seguindo a mesma lógica do Face.
Os problemas políticos decorrentes desse novo modo de IC podem ser vislumbrados na crescente da direita política e dos nacionalismos. Assim como um usuário que se chateia ao encontrar com a diversidade do mundo e recebe um choque moral, os países se fecham cada vez mais para si mesmos, negando a diferença existente.
Quais seriam, nesse atual cenário, as saídas das amarras da Indústria Cultural, se é que elas existem?