Temos sido programados para pensar e agir conforme interesses maiores. Não falo apenas de política, ou do sistema capitalista, mas do calendário.
Não bastassem as datas comerciais que nos regem os dias, os meses, os anos, agora há outras “ondas”, rosa, azul , verde, uma cor para cada mês a fim de nos programar e estabelecer às cabeças vazias, que na certa precisam de direção e preenchimento pois não podem pensar por si, no quê pensar, o quê fazer, para não cair no tédio sem fim de decidir os próprios rumos, tomar autônomas decisões e serem, elas mesmas, a autoridade na questão do próprio cuidado.
É preciso “alguém” dizendo: este mês faça isso, neste, aquilo. E agora que já fizeram, é hora de ir às compras, se não pelas mães, pelos pais, pelas crianças, porque é carnaval, páscoa ou natal.
Maneira de enclausurar o cidadão ainda mais num sistema que toma dimensões imensas, e devora a liberdade de direcionamentos, escolhas, do quê comemorar, o que priorizar, vem interferir até na capacidade da pessoa de se programar, de decidir a hora de cuidar da saúde, de fazer seus exames.
Com certeza muita gente pensa, ah, mas é necessário! são campanhas válidas, importantes, precisam ser inseminadas no inconsciente coletivo para vingarem, – e eu não quero dissuadir ninguém da sua forma de pensar, longe disso.
Mas é bom parar e refletir: essa maneira de viver, o ritmo, os eventos, a sequência, o que se compra, o que se come, o que se bebe e em que dias, e até o que se comemora, e que compõem os anos, a vida: é justo que “alguém” decida em seu lugar e que você apenas siga no compasso, aplaudindo em apoio a cada data inventada, programada pra preencher a Sua vida?
Quando se irá parar para pôr em prática e viver aquilo que realmente se quis? Quando haverá tempo para planejar e mergulhar nos seus próprios interesses sem que isso resulte em prejuízo para o cuidado próprio e do meio ambiente? Quanto tempo será necessário, neste contexto de eventos incomensuráveis e coisas a fazer que ninguém para pra pensar se são realmente as coisas que se quer fazer, para encontrar a conexão verdadeira consigo mesmo e o sentido da própria existência?
Talvez no dia 31 de dezembro você pense nisso. Mas, caso se esqueça nos dias que se seguirem, saiba que todos os dias há “alguém” pensando por ti como e onde deve ser empregada a Sua energia vital, e se você não agarrá-la como seu legítimo dono, quando se der conta, ela lhe terá escapado, se esvaído como areia entre os dedos, no decorrer de dias de “pomarola” e meses coloridos, enquanto os anos se aglomeram e o fim da vida se aproxima.
“Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.”