Segundo o censo do IBGE, no Brasil, em 2010, a população masculina, “agregada em células de 1 km2, era de quase 91 milhões” e a feminina “era de quase 95 milhões”. Ainda de acordo com o mesmo censo, a população brasileira – a partir da classificação por etnia usada na referida pesquisa – é composta por 47.51% de brancos, 43.42% de pardos, 7.52% de pretos, 1.1% de amarelos e 0.42% de indígenas. Quanto a densidade demográfica e distribuição espacial, é salientado que a “célula com maior densidade de população (mais de 40 mil pessoas em 1 km2) se localiza em Paraisópolis, São Paulo (SP).
Entre as células que apresentam maior densidade de população, além daquela localizada em Paraisópolis, São Paulo, temos algumas outras também localizadas em aglomerados subnormais, como Rocinha e Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e Bom Gosto, Liberdade, Pero Vaz, São Domingos, Santa Luzia, Dom Avelar, Baixa do Petróleo, Fazenda Grande do Retiro, em Salvador.
Na cidade do Rio de Janeiro o bairro de Copacabana também se destaca por sua alta densidade populacional.
Sob coordenação da Profª. Drª. Regina Dalcastagnè, um trabalho desenvolvido na UnB (Universidade de Brasília), pelo Grupo de Estudos em Literatura Contemporânea, ao longo de 14 anos, aponta questões bastante significativas para pensarmos a literatura no país e a formação de um cânone nacional. Segundo dados apresentados por Paulo Lannes, em Metrópoles, o corpos da pesquisa “compreende livros nacionais lançados entre 1965 e 2014” e os resultados mostraram que mais “de 70% deles foram escritos por homens, 90% são brancos e pelo menos a metade veio do Rio de Janeiro e de São Paulo”.
Conforme aponta Lannes:
A análise também entrou no enredo da literatura nacional e chegou à conclusão de que os personagens retratados se aproximam da realidade dos escritores. Cerca de 60% são protagonizados por homens, sendo 80% deles brancos e 90% heterossexuais.
Esse corpos, de 692 romances e 383 escritores, se subdivide em três corpora – recortes específicos – a saber: 1) publicados entre 1965 e 1979, pelas editoras José Olympio, do Rio de Janeiro, e Civilização Brasileira, transferida, em 1984, para São Paulo; 2) entre 1990 e 2004, com a Companhia das Letras, de São Paulo, a Rocco e a Record, ambas do Rio de Janeiro – sendo a Record a continuadora, em certa medida, da José Olympio; 3) entre 2005 e 2014, com as mesmas editoras, mas substituindo a Rocco pela Objetiva – que, desde 2015, pertence à Companhia das Letras.
Mantendo as vistas sobre o texto de Paulo Lannes, vejamos o que diz Dalcastagnè a respeito das conclusões da pesquisa:
“Com a pesquisa, percebemos que as editoras não estão dispostas a diversificar o cenário literário. Assim, caso o leitor esteja atrás de literatura produzida por mulheres, negros e de diferentes regiões terá que buscar autores independentes, com menor alcance às livrarias brasileiras”.
Em meio a tantas questões, uma desponta: por que não estão dispostas a “diversificar”? Não seria demasiadamente simplista ignorar a demanda, as implicações do mercado editorial, a existência – para o bem ou para o mal ou para qualquer outro fim menos dicotômico – de um cânone mais ou menos já estabelecido e consolidado? O que tudo isso diz sobre o leitor? O que pode dizer a respeito das “dinâmicas do livro”, ou seja, da seleção, impressão, edição, tradução, distribuição, entre outras atividades? E a respeito dos festivais e concursos literários, dos prêmios nacionais e internacionais? Há um conluio maléfico e conspiratório por trás disso tudo? Não sei. O que de fato me parece relevante não é dividir, de forma reducionista e quase dogmática, as coisas todas entre “laia 1 e laia 2”, mas as problematizações possíveis – e, quase sempre, necessárias – que permeiam, envolvem e circundam essas questões. Se o cânone, como aponta Harold Bloom, é “uma escolha entre textos em luta uns com os outros pela sobrevivência”, interessa saber quais são as regras que elegem e possibilitam que determinados lutadores concorram em certas categorias – em arenas específicas – e quais condições inviabilizam a participação de outros – tão competentes quanto, em técnica e talento – apagando seus nomes, suas páginas, seu esforço, sua mensagem. Toca saber as normas do “campo literário”, as mecânicas de formação e diluição dessas normas, assim como seu “habitus”, ou seja, o que instiga é a busca por compreender o funcionamento – passando, como fica claro, por Bourdieu – dessa rede de relações complexas e objetivas firmada entre posições, bem como o grupo de estratégias de ordenação do mundo – da forma entendida por Clovis – e o “conjunto de disposições de ação” reproduzidos e cultivados, de forma mais ou menos consciente, nesse campo em particular.
Se não buscarmos compreender os motivos, se cairmos sempre – por uma razão ou outra – em um dogmatismo autoritário, subsistente em um ciclo fechado de opiniões, que não admite o diálogo, que não exercita a escuta e não pondera ou reflete, resumindo tudo a uma partida de futebol – com arquibancadas e uniformes bem definidos, divididos por brasões e cores e números – continuaremos caminhando, pé ante pé, rumo ao assombro de um lugar sem volta, rumo a um buraco de onde – talvez – nenhuma utopia poderá nos tirar.
Na ciranda da intolerância e da austeridade, os membros da roda estão de olhos vendados e ouvidos tapados, cantando bem alto e de forma ininterrupta o seu próprio hino – que é, por sua vez, uma variante adaptada de um hino maior.