Há pouco mais de cem anos muitas famílias se constituíam em grupos tribais, sob a liderança de um patriarca ou matriarca e formadas por esposas ou maridos, irmãos, filhos, netos, sobrinhos, agregados, todos habitando um mesmo espaço e assumindo sem discutir seu lugar na hierarquia. Tal arranjo ainda é comum em alguns países, mas foi substituído no ocidente pela família nuclear composta por um casal e seus filhos; ainda que mantendo laços com o conjunto familiar mais próximo.
Na dinâmica que caracteriza as relações humanas estamos vivendo um momento que, de certa forma, marca retorno a algo parecido com as “tribos”. Entre os mais pobres não houve grandes mudanças, as famílias sempre se mantiveram associadas por questão de sobrevivência; quando filha ou filho se casa não falta lugar para mais um, e até mesmo para a construção de um “puxadinho” nos fundos do terreno ou na laje.
Na classe média torna-se comum que filhos continuem a morar com os pais além da idade em que, noutros tempos, sonhariam em ter sua própria casa e liberdade. Moram com namorados e namoradas no lar paterno/materno, têm filhos que são criados com a parceria encantada dos avós, até arriscam a operação doméstica de startups.
Isso deve-se à liberação de costumes, não há mais impedimento para ser livre na casa dos pais, e às demandas materiais cada vez maiores para estudos num mercado que exige especialização, para viagens num mundo que precisa ser desvendado, para todas as atividades de sociabilização que são indispensáveis na imensa aldeia global que perde fronteiras.
Isso evidentemente influencia o processo de amadurecimento, maturidade é decorrência do enfrentamento das dificuldades normais da vida, e uma vida excessivamente protegida raramente produz pessoas sensatas.
Há poucos anos um dos maiores indicadores da passagem para a idade adulta era constituído pelo conhecimento, ou seja, o preparo para o mundo do trabalho e as responsabilidades familiares. Em tempos de internet com todo o tipo de informação disponível, o retardamento da permanência na casa dos pais, ou o seu oposto, a entrada prematura na vida profissional, tem criado seres híbridos em termos de discernimento, de ponderação ou visão social.
No Brasil a própria insegurança do mercado de trabalho e as sucessivas crises políticas produzem alterações culturais já inevitáveis pelo avanço tecnológico e às quais o sistema educacional tem dificuldade de responder.
Acrescido a isto, o próprio fato de que crianças e jovens são hoje encarados como consumidores potenciais, e que com as novas tecnologias desenvolvidas depois da Segunda Guerra Mundial, uma série de produtos têm sido direcionados a eles, em diferentes segmentos – entretenimentos, jogos, vestimentas, alimentos, livros e revistas, entre muitos outros, fica mais evidente ainda a dicotomia entre mundo adulto e juvenil.
O próprio conceito de infância tem sido reelaborado pelos novos conhecimentos médicos, psicológicos, sociais e jurídicos, e é complexo definir as várias modalidades de “meninices” existente entre os diversos povos ou classes sociais.
Algumas sociedades parecem estar tratando mais igualitariamente rapazes e garotas, em outras as discrepâncias de gênero parecem aprofundar-se. Mídias locais acentuam tais discursos e os propagam e moldam formas culturais específicas de entender juventude e maturidade distintamente.
Em muitos países a saída do jovem de casa para estudar, normalmente em universidade distante, marca o início de sua vida adulta, ele sabe que poderá contar cada vez menos com o apoio material de pais que geralmente iniciaram uma poupança ou similar quando de seu nascimento para pagar a faculdade, e sentem que seu dever foi cumprido com este ato.
Nós brasileiros, para o bem e para o mal, somos menos frios com relação a isto, sentimo-nos responsáveis por nossos filhos quase até que tenham netos, mas em compensação raramente temos a previsão de economizar para seus estudos.