Atenção aos pequenos episódios. Eles podem mudar tudo! Seja na sua vida, seja na ordem mundial.
Repare que as revoluções iniciam-se a partir de uma resolução que, ao primeiro olhar, pode parecer inofensiva e sem importância.
Havendo uma atenção minimalista, o que é corriqueiro deixa de ser. Todo detalhe importa.
São com pequenos gestos que a transformação ocorre.
O que é o hábito senão pequenas práticas agregadas ao dia-a-dia? E quão grandes coisas ele faz!
Sabe, amigos, não concordo com essa cultura de que o Brasil só pega no tranco depois do Carnaval. Esta coluna inicia coincidentemente depois dele, mas lancei um livro em janeiro, a despeito do risco, por não concordar com essas “regras” de conduta que só nos atrasam.
Por que nos rendemos ao senso comum sem agir para o transformar? Ainda que seja com um pequeno gesto, com um pouco de coragem, como em lançar um livro antes do carnaval?
Mas falemos do formato 2018, já que “A rosa e o sorvete” inaugura hoje. Esta coluna (eu tenho esta preocupação) não fala sobre os temas em alta. Não me envolvo em polêmicas de pomarola. Pelo menos, não aqui.
É uma pequena iniciativa de ser diferente, de dirigir o olhar pra outras coisas, às quais o mundo nos diz, com petulância, não haver tempo a perder.
Mas quem dita as regras do que importa?
Eu desejo que este ano, (que é claro, já começou há dois meses e uns bocados), você possa dizer a si mesmo o que importa.
E que nessa lista tenha espaço para encarar sentimentos sufocados, “coragem” para “suportar” e talvez até apreciar poesia, tempo para estar consigo mesmo e com quem se ama.
Das poesias, vou atrás.
Porque elas podem dizer mais. Podem fazer contato com o que foi renegado, nos engrandecer, nos recontactar (o elo perdido).
Esta não é só uma esperança minha, mas uma certeza.
Espero que possamos ir juntos! E aí vai a primeira:
“Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
Estou perdido.
Sem olhos, sem boca
sem dimensões.
As fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
Pobre poesia.
O pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido,
gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.
Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.”
(Um homem e seu carnaval. Carlos Drummond de Andrade. Brejo das Almas, fl. 27)
Ouça esta canção, e entenda com o coração o que não está dito.
(Homenagem a Niltinho Tristeza, compositor da Imperatriz Lepoldinense, que nos deixou no último sábado de carnaval.)