Na última publicação desta coluna, eu falei sobre a liberdade, e sobre como ela é valiosa!
Sobre como é uma penalidade terrível não poder ir e vir, – apesar de sempre pensarmos ser pouca essa pena (para os outros, é claro).
Escrevendo sobre isso, pensei em quanto podemos fazer pelos recém-libertos das cadeias deste país! Como é importante possibilitar-lhes um regresso ao convívio em sociedade que lhes dê alguma perspectiva.
Em como podemos ser úteis, não só para essa causa, mas para muitas outras! E como isso é essencial para que possamos melhorar como indivíduos.
Não há melhora individual sem passar pelo coletivo.
Talvez seja isso.
E talvez mesmo por isso, num mundo de exaltação das individualidades como é o nosso hoje, tenhamos tantas neuroses a acometer-nos em menor ou maior grau (sempre negadas, é claro!).
Às vezes nos dispomos a fazer o bem, mas raras exceções só o fazemos por orgulho ou vaidade. São pouquíssimas as ocasiões em que fazer o bem tem de nossa parte um comprometimento íntimo, uma crença de poder fazer a diferença na vida de alguéns ou alguém, e isso sem pensar em marketing ou promoção pessoal (num mundo de muita propaganda e pouca essência).
É claro que políticas públicas seriam bem-vindas. Não é nada fácil fazer caridade sem direcionamento, pois isso feito sem racionalidade pode apenas dar origem a mais problemas (vejamos o caso da distribuição de colchões a moradores de ruas na cidade de São Paulo, promovida por populares compadecidos com a situação miserável desses cidadãos marginalizados. No entanto, a cidade virou um imenso albergue a céu aberto, muitos colchões abandonados, apodrecidos. Nesta seara, só ter boa intenção não é suficiente!).
Mas para o povo criativo que somos, não nos foi delegada a função de dar ideias , contribuir em projetos em andamento ! – e isso é um desperdício!
Agregar a sociedade civil interessada em caridade e ação a políticas públicas de, por exemplo, reinserção social para recém-libertos – possibilidades muitas vezes que dependem apenas de um espaço físico e algumas cabeças pensantes, interessadas no bem comum, e que não fazem nada primeiro por falta de oportunidade, segundo porque percebem que seus interesses iniciais geralmente morrem n’água diante das dificuldades que implica, pasmem!, ajudar o próximo.
E sem ajudar esse próximo, muito difícil curarmo-nos do egoísmo (causa absoluta da grande parte, senão totalidade das neuroses).
É preciso aumentar o campo de visão. Convocar o deprimido e o ansioso ao trabalho!
Parece incongruente, ou conversa de leigo, mas acreditem, não é.
Afinal, não dá pra ficar bem num mundo em que tanta gente sofre. Mesmo que não se esteja a passar fome ou frio, e não se saiba dar nome aos bois (a maioria dos deprimidos não sabe o motivo de sua quebra com a vida), como se sentir feliz num mundo tão repleto de injustiças e desigualdade?
Difícil é não sucumbir à neurose.
Você chora sem saber por quê
A madame sofre sem nenhum motivo
O adolescente quer o que não tem
O neném resmunga pedindo por leite
Aqui, ali, em todo lugar
Falta em nós sempre alguma coisa
E assim é porque no mundo inteiro
Ainda abunda o que fere e é feio
Enquanto neste aqui ou n’outro canto
‘Inda houver fome, angústia, desalento
Mesmo você que está longe de tudo
Irá sentir um buraco no peito
A humanidade é um organismo imenso
Se qualquer parte dele adoece
Também padece o que resta ileso
E é por isso que o rico e aquele
De um lugar desenvolvido
Por dentro chora, mesmo indiferente
E sente em si um vazio latente
Enquanto houver em cada continente
Quem não possua em casa alimento
Ou mesmo água a sair da torneira
Quem sinta dor e nenhum cuidado
Vindo de médicos ou do Estado
Ainda haverá no mundo tristeza
E em cada homem um’incompletude
Lágrima que não se sabe d’onde veio
Uma chaga aberta que na alma aumenta
Pois desconhece a causa matreira
Quem não reflete bem o universo
E ignora nossa natureza
: Que cada ser humano é uma célula
Parte pequena de único corpo
De mesma importância – equivalência
Torne-se a Terra um lugar equânime
E então será a alegria inteira
E a felicidade que tanto sonhamos
Não mais apenas uma passageira.
(Lári Germano)
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Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.