Mazé optou pela indicação de Klee: “ver com um olho, sentir com o outro”. Assim ela faz com que o observador tenha a chance de se aproximar do seu universo, cujo objetivo é a felicidade de ver e a alegria do olhar. (Fernando Bini*)
A Coluna INcontros visitou a exposição Horizontalidades Possíveis e conversou com a artista, Mazé Mendes**. Abaixo, um resumo da conversa que se estendeu depois para um bate-papo com outros amigos, em um café.
INcontros: Como se desenvolveu sua trajetória artística?
M.M.: A minha primeira exposição individual, foi em Curitiba, em um espaço para artistas iniciantes, no Inter Americano em 1977, logo que terminei a graduação na Faculdade de Belas Artes. A exposição era composta por desenhos, de figurações que representavam a repressão da ditadura militar daquela época. Inclusive três dos desenhos dessa mostra, foram censurados, pela direção do espaço. De lá para cá, fiz dezenas de exposições individuais e coletivas, bem como, cursos de gravura entre outros. Tenho atualmente, obras em acervos, em todos os Museus de Curitiba, como o MON, MAC, MUMA, Museu da Gravura, MUSA (Ufpr) MASC (Museu de Santa Catarina) MARGS (Rio Grande do Sul) entre outros.
INcontros: Qual a temática desta exposição, sobre o que ela trata?
M.M.: Nesta mostra, a linguagem é a pintura, onde o nome: Horizontalidades Possíveis, retrata imagens das horizontalidades que encontramos em nossa memória, que podem ser retas,curvas ou infinitas.
INcontros: Quais as suas referências artísticas, em que você baseia seu trabalho?
M.M.: Nos anos 80, o objeto de minhas pinturas eram personagens inusitados que perambulavam pela cidade, a exemplo de Gilda, travesti muito conhecido de nossas ruas. A partir dos anos 90, esses personagens saíram de cena, e passei a observar a Geometria Urbana,com suas horizontalidades e verticalidades, assim, automaticamente o trabalho foi abstraindo. E ao observar melhor a cidade iniciei uma série de pinturas as quais dei o nome de Impressões Urbanas. Essas obras continham narrativas que transitavam entre o horizontalidade e a verticalidade da geometria urbana, incorporada ao cotidiano e ao nosso olhar.
INcontros: O que os visitantes vão ver como inovação, em relação aos seus trabalhos anteriores?
M.M.: Os visitantes, principalmente quem acompanha essa trajetória, podem observar as sutilezas da pintura, tanto na técnica quanto nas formas que carregam memórias de várias fases. Em 2004 apresentei na Casa Andrade Muricy a obra Identidades Paralelas, que se tratava de uma instalação composta por representações impressas de grandes digitais identificando números e nomes comuns de pessoas. O objetivo era questionar “quem somos sem os números que identificam a nossa existência”? entre frestas e recortes continuei observando os vestígios deixados pelo homem e a ação do tempo no processo dinâmico das cidades – muros desgastados, grafites, tapumes e signos urbanos.
A fotografia veio contemplar a captação dessas imagens fugidias, em constante mutação, marcadas pela ocupação ou abandono desses espaços, uma cidade em trânsito. No Museu Alfredo Andersen em 2007 a exposição Vestígios composta por fotos com interferências visuais, retratam esse processo. Hoje, algumas dessas imagens permanecem como palimpsestos continuum ou Horizontalidades Possíveis.
INcontros: O que essa nova exposição representa para você como autora, como ela está inserida na relação com suas obras?
M.M.: Para o autor/artista representa uma renovação, a cada mostra construída e exposta. Meu diálogo com a pintura é um campo aberto a inserções, não descartando as múltiplas possibilidades de sair do plano e incluir em minhas vivências objetos-esculturas, que também fazem parte deste universo.
Finalizando ainda com uma observação de Bini, “A obra de Mazé Mendes é precisa na qualidade de execução da pintura, de organização da tela: nada é por acaso ou gratuito. Mas é vaga no que quer voluntariamente nos deixar adivinhar, nos deixar procurar ou no que quer evocar sem nos deixar encontrar. ‘Mais a cor se harmoniza, mais o desenho se precisa’ (Merleau-Ponty). Seu trabalho parte da memória desordenada prolífica e criativa em direção à memória organizada por etapas. Ela trabalha com uma superposição, com a transparência, num labirinto de velaturas e revelações.”
*Fernando A.F. Bini é professor de História da Arte e Estética; Crítico de Arte e membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte.
** Mazé Mendes é artista plástica paranaense e reside em Curitiba,PR. Formada em Pintura e Licenciatura em Desenho pela EMBAP (Faculdade de Belas Artes do Paraná), e pós-graduada em Arte Educação pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná/UNESPAR), Mazé também realizou cursos de extensão em gravura e história da arte. Foi professora da FAP/UNESPAR entre 1984 e 2008, além de ministrar oficinas em diversas cidades do Paraná e participar de diversos eventos culturais e artísticos no Brasil e em países como Finlândia e Japão, realizando exposições individuais e coletivas. A artista já publicou dois livros: Traço e Cor – Travessia de um tempo, lançado em 1997 e Matiz, de 2004.
Site oficial: www.mazemendes.com.br
SERVIÇO:
Exposição – Horizontalidades Possíveis (em cartaz até o dia 06/09).
Local – Museu Guido Viaro, Rua XV de Novembro, 1348 – Centro, Curitiba/PR, 80060-000.
Telefone – (41) 3018-6194