As propostas de retomada da economia brasileira serão um dos assuntos mais difundidos durante e depois desse período de eleição que está em fase final. De acordo com o G1, o novo presidente encontrará déficits dos últimos cinco anos das contas públicas, consequentemente, uma dívida bruta considerável e o tão temido mal estar de muitos eleitores: o desemprego [1].
Com o desemprego, empregos informais tiveram nos últimos anos um aumento gradativo, até culminar na superação de empregos formais em 2017 [2]. Questões como estabilidade empregatícia são discutidas e o trabalhador se encontra cada vez mais num campo de instabilidades, incertezas e desesperança.
Como está a saúde do trabalhador, tanto nas perspectivas da informalidade quanto nos empregos com carteira assinada? Esse é um questionamento tendencioso com a finalidade de criar imediatamente uma inferência sobre o cenário atual.
Esta é uma temática antiga: com a reforma sanitária, na década de 80, a interseção de empenhos de várias instâncias como o Ministério da Saúde e sindicados de trabalhadores propiciaram o surgimento de um conceito de estudos e práticas chamado Saúde do Trabalhador que tem como norte a Psicologia, Medicina Social, Saúde Pública, Medicina do Trabalho, entre vários outros que só podem contribuir com esses sujeitos se os mesmos tiverem acesso à cada realidade de trabalho e seu respectivo território. (NARD, 1997)
De acordo com o caderno de número 5 do Programa Saúde da Família, Saúde do Trabalhador:
[…] refere-se a um campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho e o processo saúde/doença. Nesta acepção, considera a saúde e a doença como processos dinâmicos, estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em determinado momento histórico. Parte do princípio de que a forma de inserção dos homens, mulheres e crianças nos espaços de trabalho contribui decisivamente para formas específicas de adoecer e morrer. O fundamento de suas ações é a articulação multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial. (BRASIL, 2002, p. 7)
Basicamente, o profissional que se habilita intervir nesse contexto laboral, deve se atentar ao ambiente de trabalho, diagnosticando através das demandas e vivências, as situações e doenças advindas do desgaste da produção e do clima organizacional.
Como psicólogo, percebo um aumento drástico das queixas e demandas relacionadas ao trabalho: cobranças exorbitantes; falta de autonomia dentro da empresa; desrespeito; psicopatologias como depressão, síndrome de burnout, transtornos de ansiedade como síndrome do pânico dentre outros associados a atividade laborativa.
O discurso de quem sofre, quase sempre é o mesmo: “Preciso suportar essa situação, tem muita gente que nem tem emprego!”. Aparentemente vivemos uma naturalização de que é melhor viver num ambiente adoecido do que se inserir na informalidade.
Acontece que não há investimento maior para a empresa do que investir em pessoas. Essas que irão mover a economia das empresas e, por conseguinte a economia do país que se encontra tão devastada com a crise. Os gestores de sucesso já perceberam isso, entretanto nem sempre há capacitação adequada para os profissionais que cuidam do bem estar de seus colaboradores, e nem sempre existe alguém específico para esta função.
Proponho nessa coluna, levantar questões acerca da saúde mental de profissionais, que antes de tudo são seres humanos, e por definição, possuem discrepâncias, fronteiras sociais e interpessoais, qualidades e inúmeros defeitos, mas que, somados, representam o maior nível de complexidade da escala evolutiva.
REFERÊNCIAS
[1] Disponível em: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/08/19/conheca-o-cenario-economico-que-o-futuro-presidente-da-republica-encontrara.ghtml
[2] Disponível em:
BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica. Programa Saúde da Família nº 5. Brasília, 2002, 63p.
NARDI, H. C. Saúde do Trabalhador. In: CATTANI, A. D. (org.) Trabalho e tecnologia, dicionário crítico. Petrópolis: Editora Vozes. Porto Alegre: Ed. Universidade. 1997, p. 219-224