- Viajar só não é um hábito de brasileiros. A nós, que tanto gostamos de festa e, portanto, de companhia, parece algo triste, de quem não está de bem com a vida. Mas muito temos que aprender nessa matéria com gente de hábitos menos provincianos! Porque viajar sem companhia não é uma bravata de fóbicos sociais, sequer de solteirões esquisitos. Conheci por aí menininhas na flor da idade viajando em busca do mundo e, de quebra, de si mesmas.
- É nisso que o brasileiro não tem tradição: expedição de lugares, sem compromisso de interação com pessoas, o qual, ocorrendo, é muito bom, mas ainda que não, é incrível a revelação de que aí, por aí, muitas coisas e detalhes nos esperam. E quem se dispõe a essa empreitada desafiadora, descobre, ao final, o tesouro da autonomia de Ser. Uma forma incrível de preenchimento.
- É claro que não é uma tarefa fácil, é preciso despreender-se do medo do julgamento do outro (que em muitos lugares pelo mundo é muito menor, quase não existe), do medo de não poder se divertir dum companhia, do medo, inclusive, de que o sentimento de solidão vença a batalha com a busca da libertação. É preciso ter um pouco de hábito, e, também, realmente encantar-se com os lugares que nos dispomos desbravar.
- É preciso ainda saber viver coisas maravilhosas, talvez as melhores, sem a presença de quem mais amamos. Muitas vezes esse é o dilema das viagens.
- Mas vale a pena!
- Uma vez escutei alguém dizer que não queria ir para um lugar distante sozinha porque ficar 8 ou 9 horas dentro de um avião sem falar com ninguém era muito ruim. Este é o pensamento de pessoas que não se acostumaram à leitura, à companhia de um livro, ou até a contemplar os próprios pensamentos, tantas vezes desconhecidos de nós mesmos.
- Por outro lado, conheci uma italiana que vivia o dia de seu aniversário como um outro dia qualquer. Não recebia ligação nem dos filhos – mas não aparentava mágoa por isso! Entendia que eles tinham uma vida corrida (cada qual morava de um lado do globo). Por que raios somos tão arrogantes a pensar que uma data de aniversário tem que mexer com a vida de todos?
- Muito desapegada, ela!
- É claro que não é preciso ser tão radical. Basta um pouco de coragem para uns dias a sós, quem sabe, numa iniciativa nova, de estar um braço dado com o mundo e o outro balançando ao vento, no embalo dos nossos próprios passos sem ninguém (o que é que tem?).
- Vi meninas de 17 anos fazendo isso. Conquistando amigos numa noite, e deixando-os no dia seguinte, pois a viagem seguia para um outro lugar!
- Sim, é preciso ter coragem! É um exercício novo! É uma índole de aventureiros que se alimenta com pequenos intervalos de solidão, uma porção de histórias e centenas de fotos!
- E, por fim, um ser humano mais completo, com outra visão de mundo e uma autonomia quase “estrangeira” , capaz, certamente, de nos levar mais longe que qualquer trupe de amigos, nascendo para os outros, e para nós mesmos!
- Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.