Sheila Moura Skolaude
Mestranda do Programa de Ensino e História das Ciências e Matemática da Universidade Federal do ABC – UFABC. Licenciada em Letras pelo Centro Universitário Ibero-Americano e em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Adriana Pugliese
Professora Doutora da Universidade Federal do ABC, Centro de Ciências Naturais e Humanas.
Maria Inês Ribas Rodrigues
Professora Doutora da Universidade Federal do ABC, Centro de Ciências Naturais e Humanas
Resumo
Este artigo originou-se de um ensaio acadêmico realizado a partir do entrelaçamento da reflexão de três textos e palestras realizadas na disciplina de Seminários I ofertada pela Universidade Federal do ABC – UFABC e ministrada pela Professora Doutora Adriana Pugliese Netto Lamas durante o 1º quadrimestre de 2018 e de um relato de experiência sobre indagações de alunos da Educação de Jovens e Adultos – EJA, em atividades de rodas de conversas para a elaboração de redações de vestibular com temas que envolvessem Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente – CTSA. Esses alunos fizeram parte do Programa da Secretaria do Estado de São Paulo, Escola da Juventude, no ano de 2005.
Palavras Chave: Alfabetização Científica. CTSA. Capital Cultural. EJA.
You know, we had never thought about it before! Scientific literacy present in our daily life: Reflections around yarnig circles with students of youth and adult education
Abstract
The academic essay was carried out through the interweaving of the reflection of three texts and lectures held in the discipline of Seminars I offered by the Universidade Federal do ABC – UFABC and taught by Professor Adriana Pugliese Netto Lamas during February to May 2018 and an experience report about inquiries of students of the Young and Adults Education in activities of yarning circles to write college application essays involving science-technology-society-environment – STSE. These students were part of the Program of São Paulo Secretary of Education named Escola da Juventude, Brazil, 2005.
Keywords: Scientific Literacy. Youth and Adult Education. Cultural Capital. STSE.
Introdução
Sabe, nós nunca tínhamos pensado nisso! Foi a exclamação escolhida para enfatizar o sentimento dos alunos nas rodas de conversas numa turma de Ensino Médio da Educação de Jovens e Adultos – EJA, chamada de Escola da Juventude no ano de 2005. Esse trabalho me incentivou, posteriormente, a atuar como voluntária no Programa Escola da Família em 2006. O Programa abria os espaços da escola para a comunidade durante os finais de semana e oferecia diversas atividades para a comunidade. Atuei como professora de português trabalhando com os alunos da EJA, tendo como objetivo prepará-los para as redações de vestibular. Todavia, não foi bem isso o que aconteceu.
Ao longo das aulas, durante o Programa, percebemos que o tempo era insuficiente para estudarmos o que precisávamos e os finais de semana não eram dias viáveis para muitos alunos. Decidimos, então, nos encontrar na casa de um aluno, uma vez por semana, para fazer rodas de conversas, as quais foram realizadas no decorrer de dois anos e tinham como objetivo a leitura e discussão de assuntos diversos de Ciências, Tecnologia, Sociedade e Ambiente – CTSA com o levantamento de ideias e produção de textos para o vestibular. Essas rodas de conversas aconteciam todas as quartas-feiras das 19h30 às 22h00.
Fizeram parte desse trabalho 10 alunos que pertenciam a uma turma de, aproximadamente, 30 alunos do Programa Escola da Juventude e que sentiram a necessidade de buscar ajuda em seus estudos. Esses alunos vieram de um histórico que apresentava significativos índices de reprovação, incompatibilidade do horário das aulas com o horário de trabalho ou das tarefas domésticas, dificuldade de acompanhar o curso, baixa autoestima etc.
Apesar das dificuldades, construímos, em pequenos e lentos passos, diversos debates que transformaram ideias em metas, metas em superação, superação em novos desafios, desafios em novos significados.
Essa experiência do passado, aliada a um novo contexto de estudo da primeira autora no curso de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ensino e História das Ciências e da Matemática, da Universidade Federal do ABC – UFABC, fizeram repensar acerca do trabalho docente, sua relevância para a Alfabetização Científica – AC, assim como sobre as contribuições de Pierre Bourdieu para a Educação e o enriquecimento que uma pesquisa etnográfica pode trazer para o trabalho do pesquisador.
Para que alunos como aqueles não perpetuem suas vidas à margem da escola, todos nós temos um grande desafio e compromisso com a Educação Brasileira: buscar condições de proporcionar a esses jovens e adultos, verdadeiras oportunidades de ascensão cultural e social, por meio de um ensino democrático e por meio de novas práticas docentes.
Sheila não sabia bem o que estava fazendo naquela época, mas a atual oportunidade de investir em sua formação continuada tem lhe mostrado o quanto, nós professores, trabalhamos com diferentes práticas pedagógicas e não registramos e o quanto podemos aprender e ensinar outros professores com nossas experiências ao passo em que também investimos em nossa formação.