Cecília de Oliveira Prado*
Certamente a cena descrita a seguir não é inédita: Amanda, jovem tímida, aluna do 8º ano do Ensino Fundamental abriu, por algum pretexto pessoal, seu aplicativo Facebook e, não se sabe por qual motivo, ao sair do laboratório esqueceu de sair do link do referido aplicativo. Posteriormente alguém, ao encontrar o aplicativo aberto publicou uma mensagem de oferecimento sexual como se fosse a proprietária do perfil. Tal fato se espalhou e comentários maldosos apareceram em seu perfil e a aluna envergonhadíssima não quer mais ir para escola, fica trancada em seu quarto.
No caso citado acima, a “oferta” publicada, por se tratar de uma notícia falsa pode ser caracterizada como fake news e por atingir a honra da adolescente envolvida, pode ser considerada como bullying. Tanto bullying como fake news são características marcantes do nosso tempo – século XXI – e a necessidade de prevenir, enfrentar e superar fenômenos violentos estão necessariamente ligados aos seus contextos político, social, comunitário, moral e educativo.
Em que pese as fakes news atinjam e influenciem indiscriminadamente adultos e crianças, na escola e com crianças e jovens as falsas notícias se tornam muito perversas e podem arruinar a imagem delas gerando consequências negativas na autoestima e no seu desenvolvimento. Nos referimos ao tão proclamado bullying, que disseminado entre os pares é, no nosso entendimento, uma forma de fake news devastadora.
O avanço tecnológico da atualidade faz com que encontremos desde a mais tenra idade perfis pessoais em redes abertas a um grande número de pessoas e ainda que a maioria das escolas e docentes não faça uso educativo de tais espaços, não há que se deixar de considerar a importância e invasão dos meios de comunicação (internet e seus aplicativos) como algo estranho ao espaço educativo se furtando a dialogar francamente sobre a realidade virtual e sobre ela conversar acerca das consequências, ou, dito em outras palavras, considerar tal ação dentro de uma perspectiva construtivista que trata a educação um processo em construção, propiciando uma prática de educação de pessoas. A integração entre os distintos espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial etc.) é uma necessidade urgente, pois jovens e crianças bem informados entendem o que se passa ao redor, formam opiniões e se tornam cidadãos mais críticos e ativos.
Se desejamos viver numa sociedade justa, ética, sustentável precisamos de seres humanos com essa formação e esses valores, e enquanto educadores, não podemos nos furtar a discutir atitudes que discriminam e humilham visto que as mesmas precisam ser prevenidas, enfrentadas e combatidas no seio da escola. Notícias falsas e que minimizem o outro não poderão ser toleradas e nem consideradas como brincadeirinhas de crianças.
Direitos Humanos e respeito a convivência com a diversidade são faces de uma mesma moeda e de acordo com Julio Groppa “…, a escola é o lugar não só de acolhimento das diferenças humanos e sociais encarnadas na diversidade de sua clientela, mas fundamentalmente o lugar a partir do qual se engendram novas diferenças, se instauram novas demandas, se criam novas apreensões sobre o mundo já conhecido. Em outras palavras, escola é, por excelência, a instituição da alteridade, do estranhamento e da mestiçagem – marcas indeléveis da medida de transformabilidade da condição humana.”
Encerro essa breve reflexão, com os ensinamentos de Moacir Gadotti, que nos relembra que enquanto educadores devemos propiciar no espaço escolar a formação integral do ser humano, não tolerar mentirinhas e insultos não nos torna autoritários, ao contrário, exige de nós uma busca de equilíbrio rumo a esperança. Para tanto não podemos nos furtar de orientar nossos alunos à leitura atenta de qualquer tipo de publicação, para tanto nos oferece um “roteiro” básico a ser tratado dentro e fora da escola:
– Verificar a fonte da informação (antes de multiplicar)
– Comparar outras fontes antes de compartilhar a notícia.
– Cuidado com títulos bombásticos. Ler toda a notícia!!
– Checar a data da notícia.
– Observar o tipo de texto (acusação, desinformar, …)
Fake news e bullying, fenômenos tão presentes na nossa atualidade necessitam ser considerados em todos os âmbitos: na escola, na família, no rol de amigos, nas empresas… , afinal, ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e sensibilidade e Educar em Direitos Humanos é uma plataforma ética, ideológica e política a partir da qual podemos e devemos atuar pedagogicamente intervindo, prevenindo e enfrentando fakes news e bullying.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Julio Groppa. Diferenças e preconceitos na escola: alternativas teóricas e prática. São Paulo: Summus Editorial, 1998.
DIETRICH, A. M. & HASHIZUME, C. M. (Orgs). Direitos humanos no chão da escola. Santo André, SP: Universidade Federal do ABC (Coleção Transversalidades EDH), 2017.
CANDAU, Vera M. et. al. Educação em Direitos Humanos e formação de professores(as). Coleção Docência em Formação. São Paulo: Cortez, 2013.