Kezia Vieira de Sousa Farias
Leticia Costa Silva
Kelly Carolyne Cirqueira Alves
Preocupado em analisar a constituição jurídica do poder, uma genealogia das formas jurídicas no interior dos saberes no contexto da modernidade, Foucault (2005), em diálogo com as obras de Nietzsche discorre sobre a invenção do conhecimento. Desse modo, ele elabora como o saber se institui e molda os sujeitos através dos discursos que são aceitos como verdade. A invenção do conhecimento, segundo Foucault (1995), deriva das relações de poder para regular os corpos através de mecanismos de controle com práticas disciplinares.
Imagem 1: Iba Mendes: Ciência e Poder. Imagem 2: Chefia e liderança. Imagem 3: Mística de encerramento no acampamento pedagógico / Gisele Brito.
A disciplina é, segundo o autor, uma técnica em que são organizadas formas para os corpos se adequarem, mas a condição das relações de poder é, sobretudo, a resistência. Quer dizer, para Foucault (2005), que a verdade não é um estado que se alcança, mas sim uma construção demarcada nas relações entre poder e saber.
No campo dos estudos de etnologia indígena, podemos destacar as formulações de Viveiros de Castro. Para esse autor o perspectivismo ameríndio também tem apresentado críticas à colonialidade epistêmica na busca pela verdade através do conhecimento. Segundo Viveiros de Castro (2015), no campo do pensamento indígena, o outro é tratado no processo de devoração, ou seja, na medida em que se devora o outro assimila-se a sua cultura. A compreensão do outro se dá no esforço de não o ver como estranho, ela rompe com as barreiras e faz o esforço de assumir e assimilar a perspectiva do outro. Nas suas palavras, “o perspectivismo indígena é uma doutrina do equívoco, isto é, da alteridade referencial entre conceitos homônimos” (VIVEIROS DE CASTRO, 2015, 53). Nessa epistemologia corre-se o risco de ser dominado pelo outro, mas ela não reforça a padronização dos conhecimentos.
É importante ressaltar o fenômeno do devir, ser outro é o que movimenta o perspectivismo indígena. Dessa maneira, as epistemologias não se constroem sozinhas, ela sempre se dá na relação e na mediação. Kopenawa em “A queda do céu” (2015) expõe que o pensamento indígena pode e tem contribuído para que o Ocidente reflita sobre seus problemas. Ele aponta outras formas de conhecimento científico, que é o contato com os vários mundos. A ciência ocidental é uma das formas de explicar o mundo, mas não é a única. O discurso produzido pela lógica da verdade científica como homogênea tem produzido dicotomias. Os subalternizados não são passivos, uma vez que, reclamam os sentidos nas práticas do cotidiano, sendo capaz de criar e recriar um movimento dialético na práxis de resistência.
As concepções e manifestações dos conhecimentos dos subalternos se contrapõem à lógica linear da produção de sentidos. Outras epistemologias se apresentam como fundamentais no processo de criação de novos sentidos para os sujeitos que foram e, que continuam sendo marginalizados.
FONTES DAS IMAGENS:
REFERENCIAS
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: editora Nau, 2005.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami; trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Lugones, Maria.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
Kezia Vieira de Sousa Farias, discente do programa de pós-graduação em dinâmicas territoriais na Amazônia, UNIFESSPA/Campus Universitário de Marabá, vieirakezia@hotmail.com
Leticia Costa Silva, discente do programa de pós-graduação em dinâmicas territoriais na Amazônia, UNIFESSPA/Campus Universitário de Marabá, leticia_200914@hotmail.com
Kelly Carolyne Cirqueira Alves, discente do programa de pós-graduação em dinâmicas territoriais na Amazônia, UNIFESSPA/Campus Universitário de Marabá, kellyalves@unifesspa.edu.br