Sexualidade e abuso infantil. Só a família é quem deve tratar do tema? Cabe a escola participar de uma discussão desse tipo? A partir de que idade discutimos sexualidade? O que a Educação em Direitos Humanos tem a ver com isso?
O risco de o tema não chegar as escolas, é uma negativa a realidade vivida por muitas crianças. E sim, a Educação em Direitos Humanos visa não só combater, mas enfrentar e prevenir situações que podem vir a atacar os Direitos Fundamentais de crianças, razão pela qual têm estreita relação com Educação em Direitos Humanos e o papel da escola na prevenção e enfrentamento do tema.
Uma das vertentes mais importantes da educação em Direitos Humanos é a prevenção. Afinal, Direitos Humanos não é uma invenção para defesa de bandidos. Se não dermos conta de prevenir precisaremos mediar e resolver os direitos violados que podem acometer os ditos cidadãos de “bem” e os ditos cidadão do “mau” e no caso em que aqui discutimos crianças cidadãs de direitos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais colocam temas como orientação sexual, educação para a saúde, ética, pluralidade cultural, meio ambiente como temas transversais que devem ser tratados durante toda a escolaridade. Quando o professor pede para as crianças escovarem os dentes e a torneira fica aberta, ele está trabalhando o tema transversal meio ambiente, mas com o desperdício. Quando ele trabalha a sexualidade, um dos conteúdos a serem abordados é o do “respeito ao próprio corpo e ao corpo do outro”, momento em que ele pode estar prevenindo situações de abuso infantil, que infelizmente são mais corriqueiros do que se queira dentro do âmbito familiar.
E com qual faixa etária devemos iniciar tal reflexão? A rigor, pode-se trabalhar a temática da sexualidade em qualquer situação do convívio escolar. O professor deve estar atento às diferentes formas de expressão dos alunos. Muitas vezes a repetição de brincadeiras, produções escrita ou gráfico-plástica (desenho) podem significar uma necessidade não verbalizada de discussão e compreensão do tema. Mas é importante que se eleja um (ou mais) momentos em que o tema seja diretamente abordado, como trabalho planejado e sistematizado, e é sobre um momento desses que vamos falar a seguir, de um projeto desenvolvido numa escola pública do Grande ABC e compartilhado por uma grande educadora de um terceiro ano do ensino fundamental (antiga segunda série), o que pode se transformar numa luz a outros educadores que poderão facilmente adaptá-la à sua realidade.
No desenvolvimento do tema, a professora optou por partir de uma pesquisa na Internet, selecionou vídeos e livro, próprios a faixa etária com que atua (crianças em torno de 07 anos) que estimulam a uma discussão aberta sobre o tema (relacionados ao final da página), e a partir de então levantou os conhecimentos prévios, problematizou e questionou-se como forma de ampliar o leque de conhecimentos.
No desenvolvimento do trabalho perguntas anônimas puderam ser encaminhadas para professora e posteriormente discutidas por todo o grupo. Texto coletivo foi produzido tendo a professora como escriba. Parodia musical foi criada. Junto com as famílias puderam assistir novamente os vídeos trabalhado com os alunos e conversar um pouco a respeito, finalizando com uma atividade em que os familiares pintaram, recortaram e vestiram bonecos de papel que levaram para suas casas.
O maior produto do trabalho foi a conscientização, mas destaca-se um produto físico, pela professora denominado de “Defenda-se” – uma apostila preenchida pelas crianças em que completavam com dados extraídos de sua realidade de acordo com suas possibilidades de expressão com informações a partir de comandas:
Capa | Desenho das pessoas que mais ama no mundo | Desenho de um lugar onde se sentem seguros | Pintura da parte do corpo que consideram íntima
(a página incluía a figura de uma criança nua, do sexo feminino para meninas e masculino para meninos |
Como você se sente? Alegre ou triste
(a página incluía um rosto para a criança completar com a expressão que desejava demonstrar) |
Desenho de um carinho que gosta de receber | Desenho de uma pessoa especial na qual confia | Passos que podem ajudar a te manter seguro, se desenhe fazendo cada um deles.
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Falar de educação combate a violência infantil é ter ciência de que abuso infantil existe e que devemos prevenir e combater através do diálogo, ensinando as crianças a dizer não, a não ter segredos e a expor seus sentimentos. Problematizar e ampliar o leque de conhecimento sobre abuso sexual é uma temática que pode e deve ser desenvolvida dentro do limite de ação pedagógica, sem invadir a intimidade de alunos e professor cuidando do que pode ser compartilhado no grupo e o que deve ser mantido como vivência individual.
Avançar nas discussões sobre violência sexual nas escolas pode ser, para muitas crianças, uma questão de vida ou morte. Ter orientações que favoreçam o entendimento e não se sentir vulnerável: culpada ou amedrontada quando exposta a situações de violência é papel tanto da família quanto da escola que não pode e não deve se furtar de seu papel com relação a proteção de nossos pequenos.
REFERÊNCIAS:
ARCARI, Caroline. Pipo e Fifa: Prevenção da violência sexual na infância – Caroline Arcari. Caqui Editora.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural: orientação sexual / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: A Secretaria, 2001.
Vídeos:
Como conversar com crianças sobre nudez? Guia para adultos bacanas e responsáveis – https://docs.wixstatic.com/ugd/5117a5_dc61270940974548aa8078f2fd46eb54.pdf
“Defenda-se” criado com fim educacional pela Campanha de Enfrentamento à violência sexual cometido contra crianças, disponível em http://www.youtube.com.br/watch?v=hMPgg1vwVus
Não esconda de ninguém – Quebrando o Silêncio, vídeo da série de desenhos do Quebrando o Silêncio infantil. http://www.youtube.com.br/watch?v=uyeJvRS-ItM
Parabéns, Cecília!!! Excelente texto!!!
Tema muito importante que deve ser trabalhado com os pequenos tanto no seio da família como na escola!!!
Muito bom saber que está nos acompanhando, Maria Alice! Abraço.