Durante o mês de setembro, é realizado a Campanha do Setembro Amarelo, mês de combate ao suicídio. Esse assunto tão evitado em nossa sociedade, torna-se cada vez mais primordial no cotidiano, e nas organizações não é diferente. Conforme o site Setembro Amarelo (2019), a campanha iniciou com a parceria entre Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina em 2014, e tem o objetivo de diminuir os casos de suicídio no Brasil, já que esses são bastante elevados nacionalmente e mundialmente.
Freitas (2011), explica que a sociedade, as empresas e os indivíduos não manejam de forma adequada quando o assunto está ligado à morte e principalmente quando esta morte é de escolha do próprio indivíduo. Pela sociedade em que este sujeito estava inserido, ficam as indagações: como não foi perceptível seu sofrimento? por que não solicitou ajuda? Como foi capaz de tirar a própria vida? E após, a sensação de culpabilidade é fator comum para muitas pessoas. O mesmo autor ainda explica que o trabalho é fonte de subjetividade para o sujeito, sendo que é nele onde se constrói laços e vínculos e interações sociais. O trabalho é fonte de renda para o sujeito, mas vai além: atua ativamente nas funções cognitivas e psicológicas do sujeito levando- o ao seu autorreconhecimento e seu valor pessoal.
Para Dejours (1987), o trabalho é fonte de prazer e de sofrimento e que ele nos proporciona sentimentos ambíguos. Muitos profissionais estão retirando a sua vida no próprio trabalho, e estes indivíduos são vistos como números pelas organizações; a sociedade cala-se perante o medo e ao tabu envolvendo o assunto e o índice de casos vem aumentando conforme a demanda nas instituições também. Vivemos em um mundo onde há ansiedade de informação, muitas delas ao mesmo tempo, causando sofrimento pela incapacidade de não se permitir parar. Eis uma bela reflexão: o trabalho sendo nossa fonte de renda, de vida, de estabelecimento de amizades e vínculos, autoestima, também pode adoecer, viciar, e causar ideações suicidas?
Para responder esta indagação, venho hoje, mais uma vez, salientar a importância do psicólogo organizacional. Este profissional vai muito mais além do recrutamento, seleção e capacitação de competências. O (a) psicólogo (a) atua na empresa de forma a prevenir e promover saúde para seus colaboradores. Campanhas como Setembro Amarelo, como exemplo, devem ser praticadas cotidianamente.
Os fenômenos psicossociais estão sendo considerados cada vez mais nos acidentes de trabalho. A saúde mental do trabalhador brasileiro deve ser instrumento de pesquisa e de validação pelos gestores nas organizações. Muitos dos suicídios ocorrem por psicopatologias não diagnosticadas e/ou não tratadas. O nexo causal atualmente tem-se referido bastante as psicopatologias dos níveis psicossociais. Conforme Jacques (2007, p. 115), “A inserção da psicologia no campo da saúde do trabalhador lhe abre um conjunto variado de possibilidades de atuação, entre essas, o estabelecimento do nexo causal entre o trabalho e o adoecimento mental”.
Saúde mental é tema de diversas discussões em áreas e abordagens diferentes. Conforme a Organização Mundial da Saúde- OMS (2014), o indivíduo está com sua saúde mental em harmonia, quando este se encontra com autonomia na realização de suas tarefas e maneja de forma adequada os problemas do seu dia a dia. O indivíduo que tem ideações suicidas está em sofrimento psíquico e necessita de ajuda de uma equipe multidisciplinar. O trabalho sendo fonte subjetiva do sujeito é capaz de estabelecer níveis de sofrimento significativos e que necessitam de um olhar mais específico para a saúde de seus colaboradores.
Foi pensando na importância da conscientização do Setembro Amarelo, que desenvolvi um projeto, no dia 17 de setembro de 2019, junto com a professora Polliana Prandini que ministra a disciplina de Projeto Integrador, cujo tema desse semestre é suicídio. Nossos alunos do segundo período (turmas A e B) de Psicologia na Doctum de João Monlevade ornamentaram o espaço de convivência da faculdade em questão com cartazes acerca do Desenvolvimento Humano, disciplina que leciono, apontando informações relevantes acerca do suicídio de cada etapa do desenvolvimento. O resultado dessa noite tão importante pra nós, enquanto docentes e psicólogos será mostrado nas fotografias tiradas pelo aluno e fotógrafo Thales Canaan, a seguir:
REFERÊNCIAS
DEJOURS; C. (1987). A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Cortez.
BRASÍLIA. Setembro Amarelo, 2019. –Site. Acesso em 08 de Set. de 2019. Disponível em: https://www.setembroamarelo.com/.
FREITAS, M. E. de. Suicídio, um problema organizacional. Pressões e angústias do mundo corporativo. Vol. 10, n°1. Jan/Jun, 2011. Acesso em 08 de Set. de 2019. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/gvexecutivo/article/viewFile /22948/21715?source=post_page.
JACQUES, M. da. G. O nexo casual em saúde/doença mental no trbalho: uma demanda para a psicologia. Psicol. Soc. vol. no.spe Porto Alegre, 2007. Acesso em 10 de Set. de 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822007000400015
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Mental health: a state of well-being. [Internet]. 2014. Acesso em 02 de Set. de 2019. Disponível em: http://www.who.int/features/factfiles /mental_health/en/