Mudanças

Fomos surpreendidos por uma transformação radical em nossa realidade: quando tudo parecia encaminhar-se para uma determinada senda, e apesar, claro, de projeções futuras nunca serem exatas, nada parecia indicar uma incerteza tão grande nos próximos meses ou anos, a depender da questão econômica.

Pensar o futuro é desafiador, complexo e, não raro, frustrante. Avaliar o “porvir” a partir dos dados de análise disponíveis no presente afigura-se algo prudente, e é mesmo, mas apenas nos assuntos em que as ações de hoje talvez possam influir no que ocorrerá amanhã. Sempre que tentamos fazer projeções futuras, é bom ter em mente que esta é uma área arriscada, muitos eventos podem alterar as perspectivas atuais sobre como será o próximo ano ou década. Epidemias, catástrofes, grandes inventos, colheitas excepcionais, muitos acontecimentos podem alterar nossas predições, modificando algumas tendências que estavam visíveis no cenário anterior a esta pandemia.

Quais os prenúncios sobre o período que agora iniciamos é uma grande interrogação; precisaremos de calma, bom senso, resiliência e solidariedade, qualidades e atitudes difíceis de assumir quando tudo parece desabar sobre nós e nossas certezas, mas indispensáveis para superar as dificuldades inevitáveis e, até mesmo, para nossa sobrevivência e dos demais.

As redes sociais, com todas as imprecisões e defeitos que possam ter, são o atual espelho da sociedade, e o que refletem nos diz muito sobre quem somos. Há mensagens de otimismo e esperança, a maioria bem intencionada e bem vinda, algumas poucas expondo apenas um narcisismo descabido. Não faltam os alarmismos, as falsas notícias de catástrofes; pode ser uma derivação para o terror real que seu autor imagina, pode ser uma tentativa de brincadeira, criminosa e de péssimo gosto. O momento é sério, o mais sério que a imensa maioria de nós já viveu, e deve ser visto com toda sensatez, mas é natural que não percamos totalmente o senso de humor; algumas brincadeiras trocadas entre amigos e parentes contribuem para desanuviar a mente, desde que feitas com moderação e responsabilidade.

Tendemos a aceitar liminarmente qualquer notícia, de qualquer procedência, que possa gerar algum otimismo, como se os filtros com que as tratamos habitualmente estivessem desligados; assim, têm credibilidade informações de que em determinado lugar os infectados estão se recuperando com o uso de algum remédio existente, que já existe a vacina, que o elevado número de mortes na Itália e na Espanha deve-se a fatores próprios apenas destes países. Queremos acreditar, precisamos acreditar, mas a crença indiscriminada sem base concreta é perigosa, já resultou em desabastecimento de medicamentos para doentes que efetivamente dele precisariam, e dos quais não há evidencia comprovada que curariam a atual epidemia, pode gerar descuidos com as medidas mais draconianas de contenção vistas erroneamente como desnecessárias face à imaginada possibilidade de cura próxima da doença.

Com escolas fechadas, é importante lembrar que os centros de pesquisas, ligados ou não a universidades, neste momento são parte de nossas maiores esperanças. Em todas as profissões, a redução extremada de empregos que exigem menor capacitação tecnológica é iminente, e a nossa educação em ciências, principalmente aquelas chamadas de “núcleo duro”, embora viesse caminhando a passos muito lentos, com certo desprezo social pelo conhecimento e pela conservação do meio ambiente, estarão sendo revalorizadas. A área de saúde estará em evidencia para os jovens, mas também outras que pareciam em declínio, como a literatura e as artes em geral, tão indispensáveis durante os confinamentos.

Preparar-se para as mudanças, adquirir maior flexibilidade, é cada vez mais essencial. Que nossas escolas, nossas cidades e nossas vidas possam voltar rapidamente ao normal.

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É educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil, e assina a Coluna Educação & Cotidiano.

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