Aprendizagem fora da escola

“Decamerão”, Giovanni Boccaccio; “A Peste”, Albert Camus; “A Morte em Veneza”, Thomas Mann; “O Mez da Grippe”, Valêncio Xavier; “A Máscara da Morte Rubra”, Edgard Allan Poe; “Ensaio sobre a Cegueira”, José Saramago; “O Amor nos tempos do Cólera”, Gabriel García Márquez.

São grandes obras de grandes escritores, e têm em comum epidemias como tema ou pano de fundo. Surtos epidêmicos ocorrem quase regularmente, alguns de muita seriedade, e estes nos dão noção da fatuidade da vida, das vaidades, das fragilidades e das maravilhas que constituem tudo o que é humano. São ocasiões em que bazófias infantis e levianas convivem com exemplos de absoluta responsabilidade e desprendimento; vemos, da mesma forma e ao mesmo tempo, especuladores açambarcando mercadorias necessárias a todos e profissionais de saúde, de segurança e de informação dando seu tempo e até arriscando a própria vida para cumprir seu dever.

A atual gripe Covid-19 é altamente contagiosa, mas como aparentemente é proporcionalmente menos letal que outras pestes, como SARS e H1N1, há a tentação de negar a seriedade do que acontece; frente à necessidade de mudar comportamentos para preservar a si mesmos e aos demais de contágio, muitos agem como se fossem naturalmente imunes e como se nada fosse com eles. Mas é sim, é com todos nós.

A expectativa mais otimista é que em cerca de três meses o número de contágios se estabilize e passe a diminuir, que desenvolvamos naturalmente anticorpos, e que o vírus tenha mutação como já aconteceu com outros e sua letalidade diminua; e há inúmeros centros de pesquisa no mundo todo procurando desenvolver vacinas ou formas eficazes de tratamento. De todo modo, as recomendações de evitar aglomerações e contato físico, de desinfetar e lavar as mãos constantemente, sair o mínimo possível de casa, são pertinentes e devem ser seguidas.

Escolas estão fechadas, o que é grave, mas todos os esforços de contenção da pandemia devem ser efetuados, embora haja extrema necessidade de continuidade do processo educativo, pois pais e responsáveis devem assumir este encargo indispensável.
É possível ler bastante com as crianças, excelentes escritores fizeram obras infantis ou juvenis, controlar o tempo de estudo dos adolescentes, ensinar a cozinhar doces e salgados – hoje uma profissão em alta – costurar um pouco, pelo menos o suficiente para pregar seus botões e fazer uma barra, independentemente de ser um rapaz ou uma garota.

Cuidar da casa sendo responsável pelo seu próprio lixo, prestar atenção nas plantas e necessidades dos animais domésticos, escrever pequenas cartas e bilhetes para treinar habilidades na escrita, fazer cursos on-line, visitar digitalmente alguns dos maiores museus do mundo, ouvir música, principalmente as preferidas em outros idiomas com tradução na tela, aprendendo a cantar sabendo o significado das letras que muitas vezes são pura poesia, e muitos, muitos outros exemplos de aprendizagem que complementem e auxiliem o trabalho dos professores no retorno às aulas.

Tempo para melhorar a qualidade do contato interpessoal, ainda que com pouco contato físico, reaprender a divertir-se como unidade familiar, estabelecendo laços afetivos mais duradouros e fortes.

Assim como cabe a cada família o cuidado com seus idosos, protegendo-os ao impedir suas saídas sem necessidade, efetuando compras de mantimentos ou remédios para eles, conversando para mitigar a solidão ao telefone ou pelas redes sociais, assim também com crianças ou jovens a atenção deve ser diferenciada e de maior qualidade.
Com certeza sairemos desta crise um pouco mais solidários, e podemos também, ao término, apresentar um acréscimo de nossa cultura geral, ou específica em alguns temas de nossas preferências. Ajudar as escolas é auxiliar o desenvolvimento de nosso país.

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É educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil, e assina a Coluna Educação & Cotidiano.

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