Segundo Sartre (1988)- como já dito em outro texto aqui da coluna- para que o homem tenha essência é necessário primeiro que ele exista, pois somente com sua existência é que ele poderá se fazer no mundo através de suas experiências.
Para que o homem tenha essas experiências, ele precisará fazer escolhas: como será meu(nosso) conceito de humanidade; conceito de mundo; o conceito do que nos move e motiva. Uma vez que eu escolho, seleciono minhas vivências e a partir delas me construo perante a mim mesmo e outrem. (Sartre, 1988) E essa construção , como podemos observar no nosso dia a dia, acaba por servir de molde cuja humanidade, como um todo, deveria se encaixar. Será?
Diante dessa perspectiva sartriana, essas escolhas, inclusive, voltam-se para a liberdade: se eu posso construir a visão de mundo através do que eu escolho viver, estou sendo livre. Se opto por escolher a viver da experiência do outro, também estou optando a não escolher. E isso, também, é liberdade.
Sartre (1988) então, afirma inicialmente que a liberdade é uma fatalidade: para ele não há um determinismo de homem em que ele deve seguir caminhos estipulados, preexistentes, pois este só precisa da existência para se estabelecer. A partir daí, portanto, é que ele percorrerá seu caminho diante dessas escolhas (ainda que não pareçam escolhas). Diante dessa perspectiva, o homem é construído pela liberdade, ou seja, sem o determinismo só nos restam nossas escolhas para nos constituirmos. Quando decidimos que outrem escolham por nós, Sartre afirma que essa condição de liberdade se chama “quietismo”.
Sartre nos intimida a questionar todo nosso processo de alienação- que pode ser amplamente exemplificado, mas focarei no equívoco de que a liberdade não deve ser priorizada no nosso cotidiano. O autor diz que qualquer alienação pode ser superada através de uma autorreflexão da prática diária, e assim, constatar o mundo que foi criado por esse questionador.
O engajamento pela liberdade faz-se necessário num momento de tanto recolhimento, reflexão e abalos democráticos. Podemos assistir, na quietude eletiva, nossa liberdade ganhar uma nova vestimenta. Podemos agir de forma livre, responsável e amistosa: do jeito em que a liberdade é por conceito de quem sabe desfrutá-la: com sabedoria, consciência e pensamento na coletividade.
Finalizo o texto de hoje com o texto “ Caminho da Vida” de Charles Chaplin:
O Caminho da Vida
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
REFERÊNCIA:
SARTRE, Jean Paul.“O existencialismo é um humanismo” in Os pensadores – Sartre. São Paulo, Nova Cultural, 1988.