
Júlia Alice Vila Furgeri, Ana Maria Dietrich
Com artes de: Júlio Silva, Benê Lopes, Francisco Guilherme, Willians Henrique, Del Nunes, RAPadura Xique-Chico, Gonzaguinha e Carlos Drummond de Andrade.
Com o avanço da pandemia de COVID-19 no Brasil, a suspensão das atividades não essenciais e a necessidade de adoção do isolamento social, as mídias digitais e redes sociais tornaram-se as principais ferramentas utilizadas para manter vivas e ativas as Redes de Pesquisadores, Educadores Arte-Educadores e Artistas do Projeto Africanidades da UFABC. Durante as trocas de informações, relatos, notícias e denúncias, passaram a tornar-se evidentes e latentes as desigualdades sociais e econômicas entre pessoas negras e brancas no enfrentamento do avanço e da gravidade das contaminações, indicando que, se estamos todos na mesma tempestade, não estamos todos no mesmo barco.
Redigimos este Manifesto em quatro partes, publicado nas redes sociais da Rede Africanidades entre maio e junho de 2020, buscando relacionar e dar visibilidade a estas desigualdades e violações dos Direitos Humanos como elementos que evidenciam o racismo estrutural da sociedade brasileira.
Na Parte I, buscamos traçar paralelos entre a vulnerabilidade de negras e negros na África e no Brasil diante da pandemia, mostrando a importância da mobilização popular comunitária para conter as contaminações na ausência de políticas públicas específicas e efetivas. Na Parte II, trazemos para a discussão os obstáculos que as trabalhadoras e trabalhadores periféricos precisam transpor para manterem-se seguros, como a dificuldade de cumprir o isolamento e as condições sanitárias muitas vezes precárias, além dos riscos representados pela violência policial, geracional e de gênero nestes territórios e comunidades. Na Parte III, trouxemos para a discussão a situação dos povos tradicionais, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, em especial nas Regiões Norte e Nordeste, que não só não têm sido protegidas e preservadas como vêm sendo atacadas, perdendo seus territórios e direitos nas sombras da COVID-19. Na Parte IV, analisamos a vulnerabilidade das escolas periféricas diante da pandemia, revelando riscos que estudantes, educadores, apoio escolar, famílias e comunidades atendidas se submetem com a reabertura das escolas.
Esperamos que este Manifesto seja semente, que brote e que dê frutos de resistência nas periferias e nas comunidades. Vidas negras importam! Vidas periféricas importam! Façamos por nossas mãos o que nos diz respeito.
PARTE I: NEGROS NO BRASIL E NEGROS NA ÁFRICA: COMO A PANDEMIA OS ATINGE?
Enquanto diversos países da África tornaram-se exemplo no combate à pandemia, a exemplo dos lockdown de sucesso no Senegal e na África do Sul e dos robôs enfermeiros de Ruanda, o destino dos negros descendentes dos africanos escravizados na América e na Europa tem sido decidido pelo histórico de racismo, segregação, empobrecimento e fragilização da população preta, escancarando as desigualdades sociais. [1] [2] [3]
No Brasil, esse desastre já tinha sido anunciado pela primeira morte do Rio de Janeiro: moradora de Miguel Pereira, a faxineira Cleonice Gonçalves contraiu o vírus da empregadora, moradora do Leblon que havia retornado de uma viagem à Itália. Sem ter sido avisada do risco de contágio, Cleonice não recebeu o atendimento adequado e morreu no dia 17 de março. [4]
Cleonice trabalhava em limpeza, um dos serviços considerados essenciais assim como agricultura, distribuição de alimentos, construção civil, transporte, vigilância e call center. Mas quem são as trabalhadoras e trabalhadores desses serviços? Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, 72% dos trabalhadores de limpeza são pretos, assim como 60% dos serventes de pedreiro, 70% dos vigilantes e seguranças e 75% dos atendentes de telemarketing. Para grande parte desses trabalhadores, isolamento social não é uma opção. [5]
Apesar de representarem 54% da população, a população preta representa 76% dos moradores de favelas, ocupando casas pequenas, mal arejadas e superlotadas, onde não é possível realizar o isolamento, nem mesmo das pessoas doentes. Até mesmo as máscaras, itens básicos de segurança recomendados pela Organização Mundial da Saúde, Ministério e Secretarias, causam problemas de segurança durante as abordagens policiais. A distribuição desigual das oportunidades no mercado de trabalho reflete na remuneração e nas condições de vida, de habitação e de acesso à saúde dos pretos, e a COVID-19 e suas implicações só acirraram tal situação. [6] [7]
Mais do que nunca, a saída é comum e é comunitária. Enquanto na terra de nossos ancestrais se recorre aos séculos de conhecimentos e de laços para proteger o povo negro, fora dela, são os negros o primeiro alvo da calamidade pública. Lá ou aqui, é nestes laços e nesta ciência que encontraremos o caminho a seguir. Por hora, sairmos vivos da pandemia, proteger os nossos e a nossa comunidade é a nossa maior demonstração de resistência neste cenário. Nossa vitória não será por acidente!
RESISTIR! ONTEM, HOJE E SEMPRE!
A PASSAGEM
Viemos do pó da terra
Meteram-nos nessa guerra
Brigando por terras que nunca foram nossas
Nem vossas.
Somos eternos imigrantes
Peregrinos no meio de gigantes
Distantes em uma realidade
Sem idade, que enfrenta tempestades.
Nos metem vaidades
De propriedades imaginárias
Destruindo tudo de bom
Que nossa terra nos deu.
Júlio Silva, 2020.
ELEMENTO TERRA
Nascida do elemento terra: sou ventre;
Mulher motriz, força geradora: sou parto;
Abro meus olhos de luzes: sou vidas;
Crescida substância, pétala sobre pétala: sou negra;
Feminina matriz, trago, da água, o sagrado: sou raiz;
Floresço o mundo em arvoredos: sou África!
Benê Lopes, 2018.
PARTE II: AS PERIFERIAS E A PANDEMIA: GENOCÍDIO DO POVO NEGRO
O SARS-CoV 2, causador da COVID-19, foi registrado em dezembro de 2019. Nestes seis meses, apesar dos esforços e da cooperação de cientistas do mundo todo, pouco se sabe sobre seus efeitos e sobre sua proliferação. Diante de tantas dúvidas e da revisão do que se sabe, a Organização Mundial da Saúde indica com insistência as únicas medidas comprovadamente eficazes para a prevenção: lavar as mãos, utilizar máscaras e, sempre que possível, ficar em casa. Mas será que todas e todos nós podemos cumprir essas medidas com a mesma facilidade?
Representando quase 80% da população periférica, negras e negros são os principais afetados pela ausência de políticas públicas de saneamento, habitação, saúde e segurança. Ocupando casas pequenas e sendo afetados diretamente pela retração da economia, as famílias negras periféricas vivem dilemas cada vez mais profundos: muitas pessoas, pouco espaço e o auxílio que não chega expõem e acirram conflitos geracionais, econômicos, políticos e sociais, enquanto sair não é uma opção. Quando o Estado precisa escolher, quem ele escolhe salvar? [8]
Nosso povo preto precisa se preocupar com mais do que ficar em casa, mas com se manter vivos dentro dela. A Quando o isolamento social é uma opção, pode não ser a opção mais segura. Em casa, mulheres, crianças e jovens têm sido vítimas de agressões e estupros, que cresceram 33% entre mulheres negras, enquanto o crescimento entre brancos foi de 3%. Nem sempre a casa é local de acolhimento, proteção e afeto. [9]
Em 18 de maio de 2020 uma criança negra de 14 anos foi morta em casa enquanto brincava com os primos no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Alegando perseguição a bandidos, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro explodiu duas granadas e disparou mais de 70 tiros no interior da residência. Ao constatarem ter atingido a criança, familiares contam que a polícia levou João em um helicóptero da corporação. João Pedro só foi encontrado no dia seguinte, no IML. Mais uma vez, a bala perdida encontra um corpo preto. Mas essa bala não foi perdida: foi invadida! O racismo não respeita a quarentena e a repressão policial das periferias também não respeita o isolamento e as medidas de proteção. [10]
O racismo matou no passado, mata no presente e promete mortes futuras. Dados das Américas e na Europa mostram que a pandemia de COVID-19 atinge a todas e todos, mas não da mesma forma, mesmo depois da hospitalização. No Brasil, a cada quatro pessoas que se contaminam, apenas uma é negra. Entretanto, quando analisamos a mortalidade, vemos que negras e negros representam quase metade dos óbitos. Nos Estados Unidos, onde não existe um sistema de saúde pública universal como o SUS, os dados são ainda mais alarmantes:entre as pessoas hospitalizadas, apenas 2 em cada 10 são negras. Entre os mortos, negros são 5 a cada dez óbitos registrados. [11] [12]
Alertamos para essa situação, indignadas com o genocídio do povo preto na periferia. Chamamos para ações intersetoriais que envolvem a economia, a saúde, a moradia e educação, que podem transformar essa realidade.
ELEGIA DE MAIO PARA JOÃO PEDRO
João Pedro morreu enquanto brincava.
Mais de 70 tiros sobre sua casa.
70 tiros!
A guerra começou perdida
A paz se afasta.
Mães (muitas vezes só elas) procuram
Seus filhos mortos quase sempre
Por uma “infeliz coincidência”
Que atinge sempre os mesmos
Os pobres
Os negros.
Francisco Guilherme, 2020.
70 BALAS NÃO DOCES
Setenta balas
Sim, foram 70 balas
para uma criança preta que em vida
não pode experienciar ser embalada…
Setenta: nem uma, nem duas.
Setenta e duas balas desembaladas,
não para serem chupadas.
Setenta e duas balas desembaladas, estouradas…
que explodem, destroem tudo que encontram pela frente.
O alvo são famílias pretas.
As balas não doces,
e sim azedas e amargas
que acabam com crianças, jovens e famílias
PRETAS.
As balas mandadas pelo Estado
para manter o estado branco, genocida.
Em cada bala as milhares de balas
que levam o brasão do estado genocida
e racista.
Setenta e duas balas,
fez mais uma família preta…
Uma não! Milhares de famílias
serem abatidas, ceifadas, não só da vida física
mas de toda uma vida.
Sim, setenta e duas balas
Que (a)balam
Que acabam
Que para as pretas e pretos
nunca chegam embaladas
Sempre (a)bala, destrói, acaba
com as famílias pretas que já se faziam
muito abaladas.
A BALA
ABALA
Willians Henrique, 2020.
PARTE III: A COVID-19 ENTRE OS POVOS TRADICIONAIS: UM GENOCÍDIO VELADO
No Norte e do país, que compreende a Amazônia brasileira, o desespero toma conta dos gestores públicos, que não conseguem contratar profissionais, instalações e equipamentos de saúde enquanto assistem a região se tornar um epicentro da pandemia no país. [13]
No nordeste, povos tradicionais quilombolas, ribeirinhos e sertanejos também estão sendo vitimados pelo avanço da pandemia em seus territórios enquanto a COVID-19 disputa espaço com a insegurança nutricional e a falta de saneamento como causa mortis. [14] [17]
Enquanto a população busca urbana busca atendimento na estrutura precarizada do SUS, os mais ricos escapam da situação que ajudaram a construir em instalações de UTI aéreas, utilizadas para ir a hospitais privados das cidades com mais estrutura para o tratamento da COVID-19. Essa desigualdade de direitos é ainda mais evidente entre os povos tradicionais, que precisam recorrer a barcos e canoas para percorrer dias de viagem até o hospital mais próximo. Muitas vezes, essas pessoas morrem ainda durante a viagem. [16] [18]
Os indígenas brasileiros travam desde 1500 enfrentamentos políticos e sociais pela garantia de sua existência e a afirmação de sua cultura. Situação semelhante é vivida pelos povos tradicionais, que retiram seu sustento da natureza e do extrativismo segundo as ciências de seus antepassados. Nos últimos últimos anos, com o avanço do neoliberalismo global, esses problemas se acirraram a ponto de colocar em risco mais do que a soberania sobre o modo de vida, mas o direito à vida. A sobrevivência, os ataques à natureza, a invasão de terras e os assassinatos de líderes são problemas reais, que se tornaram cada vez mais recorrentes, antecedem e perpassam a pandemia, trazendo a iminência da contaminação e o risco de extinção de aldeias, povos e tradições centenárias ou mesmo milenares. [15]
A falta de acesso ao atendimento básico, a ausência de medicamentos e a dificuldade de conseguir a transferência dos indígenas para hospitais impossibilitam o atendimento adequado aos doentes, fazendo com que os contaminados precisem cumprir o isolamento na própria aldeia, onde a maioria dos espaços é de uso coletivo. O mesmo cenário tem se descortinado entre as populações quilombolas, ribeirinhas e extrativistas. [15]
Os estado brasileiro sempre foi omisso quanto a infraestrutura de comunidades isoladas na Amazônia, muitas delas sendo possível chegar apenas de barco. Nenhuma política diferenciada foi pensada para salvaguardar estas comunidades diante da epidemia de COVID-19. Qualificados a receberem o auxilio emergencial, este acaba sendo o auxílio da morte quando esses moradores são infectados ao irem pra cidade resolver os problemas de documentação ou de pagamento e voltam contaminados para suas comunidades, contaminando os demais. [19]
Enquanto isso, a crise sanitária se estende para além das fronteiras dos vivos. Algumas comunidades ribeirinhas afirmam estar enterrando seu mortos sozinhas, sem acompanhamento sanitário e sem ir a cidade notificar os óbitos pelo receio de novas contaminações. Informam seus mortos pelos canais de rádio, o único meio de comunicação que está funcionando entre as comunidades e as cidades que já estão em colapso funerário. [20] [21]
A pandemia ganha forças nas desigualdades históricas, que são cultivadas pelo estado racista, classista, xenófobo e genocida desse país. Não seremos silenciados!
NORTE E NORDESTE ME VESTE
Minhas irmãs, meus irmãos
Se assumam como realmente são
Não deixem que suas matrizes
Que suas raízes morram por falta de irrigação
Ser nortista e nordestino meus conterrâneos
Num é ser seco nem litorâneo
É ter em nossas mãos um destino
Nunca clandestino para os desfechos metropolitanos
Rasgo de leste a oeste como a peste do sul ao sudeste
Rap agreste norte-nordeste epiderme veste
Arranco roupas, verdades poucas, imagens foscas
Partindo pratos e bocas com tapas mato essas moscas
Meto meu chapéu de palha sigo pra batalha
Com força agarro a enxada
Se crava em minhas mortalhas
Tive que correr mais que vocês pra alcançar minha vez
Garra com nitidez rigidez me fez monstro camponês
Foram nossas mãos
Que levantaram os concretos os prédios
Os tetos os manifestos, não quero mais intermédios
Eu quero acesso direto às rádios, palcos abertos
Inovar em projetos protestos arremesso feitos
Escuta! A cidade só existe por que viemos antes
Na dor desses retirantes com suor e sangue imigrante
Rapadura eu venho do engenho rasgo os canaviais
Meto o norte nordeste
O povo no topo dos festivais!
A chama da vela que reza
Direto com santo conversa
Ele te ajuda, te escuta, num canto colada no chão mas sombras mexem
Pedidos e preces viram cera quente
Pedidos e preces viram cera quente
Se tudo move se o prédio é santo
Se é pobre mais pobre fica
Vira bucha de balão
É apertada tua avenida
A cera foi tarrada
Não se admire
É uns que sobra outros desaba
E o que foi não volta mais
RAPadura Xique-Chico, 2010.
PARTE IV: PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO: CAOS, DOR, MEDO E SOLIDARIEDADE
A pandemia do novo coronavírus sem dúvida é um grande desafio no cenário mundial. Destacando a realidade brasileira, ficam ainda mais visíveis as desigualdades presentes neste país.
O município de São Paulo e sua Região Metropolitana são o epicentro da COVID-19 desde a sua chegada ao país e a cada dia os números vêm crescendo. Segundo o boletim epidemiológico da Prefeitura de São Paulo do dia 30 de abril, o risco de morte de negros por COVID-19 é 62% maior em relação aos brancos. Observando a ausência de denúncias e de estudos dessa situação pelos órgãos públicos e de imprensa, se confirma que somos um país que naturaliza genocídio da população negra e favelada. [22]
As periferias e favelas são regiões de extrema vulnerabilidade social e econômica. É neste cenário que grande parte das escolas públicas está localizada, sendo espaço de referência e acolhimento a muitas famílias em decorrência da ausência de políticas públicas que atendam essa população. Com exceção das escolas e das unidades de saúde, as periferias metropolitanas são regiões em o Estado e os serviços públicos não chegam.
Assim, a escola é a mão estendida à comunidade local, em várias frentes. Entretanto, esta mão também precisa de cuidados! É com grande pesar que, a cada semana, temos recebido notícias de profissionais da educação que estão se contaminando pela COVID-19, levando a doença para suas casas e, em alguns casos, perdendo familiares e a própria vida. Correm esse risco os profissionais da Gestão, Quadro de Apoio e trabalhadores de empresas terceirizadas de Limpeza e Segurança Patrimonial, que têm sido obrigados a manter as escolas abertas em plena pandemia, realizando entrega de materiais, alimentos e auxílios governamentais sem qualquer treinamento ou equipamento de segurança individual, como álcool e máscaras, colocando suas vidas em risco, bem como a de seus familiares.
É angustiante esse estado de alerta, essa espera para saber quem de nós será o próximo, pois para muitos dos profissionais da educação não é dada a opção permanecer em isolamento e regime de teletrabalho, tendo que garantir presença e atendimento ao público na unidade escolar.
O compromisso ético-político do funcionalismo público da educação jamais se isentou de suas responsabilidades enquanto representantes do Estado. Benefícios governamentais e materiais didáticos são necessários e devem chegar às mãos das famílias. Entretanto, alertamos publicamente sobre o risco de morte pela exposição desprotegida e desassistida dos funcionários e funcionárias das unidades escolares.
É em nome da vida, que solicitamos às Secretarias de Educação o fechamento imediato das unidades e que se busque ou acione outros mecanismos para atender às famílias durante o período de isolamento. Que Coordenadores Pedagógicos, Diretores e quadro de apoio não necessitem se deslocar de suas casas, em especial sem o fornecimento de treinamento e de equipamentos de proteção individual e coletiva adequados.
Depois dos Hospitais, o transporte público, utilizado por grande parte destes profissionais, é o principal meio de contaminação pelo vírus. Além disso, com o atendimento diário às centenas e milhares de famílias, as Escolas com ambientes fechados, mal ventilados e sem nenhuma adaptação tornam-se instalações de grande risco para trabalhadores e comunidade. Funcionários estão se arriscando para operacionalizar a mitigação das ausências institucionais e das desigualdades socioeconômicas presente neste país.
É pelas vidas e de profissionais e familiares que reivindicamos ATENÇÃO PARA ESSA SITUAÇÃO DE URGÊNCIA!
SANGRANDO
“Quando eu soltar a minha voz por favor entenda
Que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca, peito aberto, vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando
Quando eu abir minha garganta essa força tanta
Tudo que você ouvir, esteja certa que estarei vivendo
Veja o brilho nos meus olhos e o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado, transbordando toda raça e emoção
E se eu chorar e o sol molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é minha força pra cantar
Quando eu soltar a minha voz por favor entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar”
Gonzaguinha, 1980
MÃOS DADAS
“Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente”
Carlos Drummond de Andrade, 1940
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REFERÊNCIAS
[1] ÁFRICA E O CORONAVÍRUS: https://www.brasildefators.com.br/2020/04/17/como-a-africa-esta-enfrentando-o-coronavirus
[2] LOCKDOWN NO SENEGAL: https://www.institutmontaigne.org/en/blog/coronavirus-and-africa-senegal-communication-and-prevention-are-key-words
[3] ROBÔS ENFERMEIROS DE RUANDA: https://face2faceafrica.com/article/coronavirus-rwanda-introducing-robots-in-treatment-centers-other-public-places
[4] CLEONICE GONÇALVES, PRIMEIRA MORTE DO RIO: https://apublica.org/2020/03/primeira-morte-do-rio-por-coronavirus-domestica-nao-foi-informada-de-risco-de-contagio-pela-patroa/
[5] BRANCOS E PRETOS NO MERCADO DE TRABALHO: https://contec.org.br/brancos-sao-maioria-em-empregos-de-elite-e-negros-ocupam-vagas-sem-qualificacao/
[6] A COR DA POBREZA NO BRASIL: https://www.techo.org/brasil/informe-se/a-pobreza-brasileira-tem-cor-e-e-preta/
[7] USO DE MÁSCARAS NA PERIFERIA: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/04/07/coronavirus-racismo-impede-que-alguns-negros-usem-mascaras-feitas-em-casa.htm
[8] NEGROS E A COVID-19: https://apublica.org/2020/05/em-duas-semanas-numero-de-negros-mortos-por-coronavirus-e-cinco-vezes-maior-no-brasil/
[9] AGRESSÃO FÍSICA E SEXUAL: https://atarde.uol.com.br/bahia/noticias/2121678-a-cor-da-violencia-mulheres-negras-sofreram-73-dos-casos-de-violencia-sexual-no-brasil-em-2017-diz-estudo
[10] CASO JOÃO PEDRO: https://extra.globo.com/noticias/rio/casa-onde-joao-pedro-morreu-tem-72-marcas-de-tiros-rv1-1-24437931.html
[11] NEGROS MORREM MAIS DEPOIS DE INTERNADOS: https://ponte.org/covid-19-depois-de-internados-negros-tem-mais-chance-de-morrer-do-que-brancos/
[12] CORONAVÍRUS MATA TRÊS VEZES MAIS NEGROS DO QUE BRANCOS: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/05/21/nos-eua-coronavirus-mata-tres-vezes-mais-negros-do-que-brancos.htm
[13] REGIÃO NORTE É EPICENTRO DA COVID NO BRASIL: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/06/pesquisa-aponta-regiao-norte-como-epicentro-da-covid-19-no-pais.html
[14] COMUNIDADES TRADICIONAIS E A COVID NO NORDESTE https://www.brasildefatope.com.br/2020/07/17/comunidades-quilombolas-do-nordeste-enfrentam-pandemia-sem-apoio-federal
[15] CORONAVIRUS PODE DIZIMAR POVOS INDÍGENAS: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52030530
[16] O ISOLAMENTO QUE MATA: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/05/12/morte-de-indigena-do-oiapoque-acende-alerta-da-covid-19-na-regiao-norte.htm
[17] MORTES INVISÍVEIS ENTRE OS QUILOMBOLAS: https://noticias.uol.com.br/colunas/rubens-valente/2020/04/25/coronavirus-quilombolas-brasil.htm
[18] RICOS DE BELEM ESCAPAM EM UTI AÉREA: https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/indigenas-mortos-com-teste-positivo-de-covid-19-ja-sao-11-casos-confirmados-dobram-em-dois-dias
[19] INDÍGENAS MORREM EM BARCOS ANTES DE CHEGAR AO HOSPITAL: https://jornalggn.com.br/politica/indigenas-morrem-com-coronavirus-em-barcos-antes-de-chegar-aos-hospitais/
[20] SUBNOTIFICAÇÃO DE COVID-19 ENTRE OS INDIGENAS: https://www.brasildefato.com.br/2020/05/15/subnotificacao-de-covid-entre-indigenas-mostra-descaso-do-governo-federal-diz-comite
[21] COLAPSO FUNERÁRIO EM MANAUS: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/04/28/com-aumento-de-mortes-cemiterio-em-manaus-passa-a-ter-enterros-noturnos-e-caixoes-empilhados-fotos.ghtml
[22] RISCO DE MORTE DE NEGROS POR COVID É 62% MAIOR: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,em-sp-risco-de-morte-de-negros-por-covid-19-e-62-maior-em-relacao-aos-brancos,70003291431