Sem duvidar da arte, entregue-se e sonhe!
Está a poesia preparada para o prólogo? Este que se propõe como tempo anterior ao contato que levará leitoras e leitores a fruir pela arte poética apresentada nesta obra e que, mesmo com a melhor das intenções, nunca chegará a antecipar a emoção máxima da leitura deste livro. A poesia dispensa qualquer tipo de apresentação. É ela a representação e criação sublime do mundo em forma de linguagem pela qual escolhe seus meios e porquês. Prefiro pensar este momento como o proêmio poético que regará em dose sutil e precisa o caminho em que despontam poetas em seu florescimento e que se reúnem para compor o jardim em forma de livro, Melhores Poemas. Eis um título feliz para nomear esta obra, que vem em hora oportuna em que o mundo necessita cada dia mais do poético, deste estado de encantamento que, neste caso, chega pelo verbo. Pelo poder dócil e feliz de uma consciência do mundo que se materializa em poema.
Lembrando Clarice Lispector, “esta história não admite brincadeiras”! Ela convida ao balançar das folhas como letras em pautas de céus azulados. Ilumina como sol de outono as nuances das cores retratadas em vivos versos. Expõe ranhuras nas paredes dos sentimentos. Dá a pausa longuíssima do respirar em dia de descanso. Aqui cumpre-se o que a poesia sempre espera, o não entendimento, a saída do lugar-comum, a entrega de corpo e alma ao solfejo encantador da menina sonhadora em seu balanço de palavras.
Ao estar agora a rolar esta tela que suporta o belo, já não mais há a possibilidade de escapar do presente que invade aos “sons de asas ao vento” traçando a ideia e o caminho que alinhava artistas. Partimos nessas asas pela origem, finitude e tempo que permeia a poesia de Sonia Andrea Mazza. E ao notar que terá a condução do fio dessas linhas pelos poemas de Maria da Glória Colucci, Maria Teresa Freire e Daniel Mauricio, quem sabe irá sem pestanejar “dar razão ao prego” de Mailson Furtado Viana. E no fluxo inevitável do poético o mergulho nas águas profundas de Carla Ramos ao se perceber fênix liberta nas asas da borboleta que lhe oferece alma, adentrarmos na delicadeza do olhar de Jean Narciso Bispo Moura que abre galáxias pincelando sentimentos riscados em um Clic poema de Carlos Eduardo Muniz.
Ah, são tantos os caminhos da poesia que veremos pelos olhos de Maria Antonieta Gonzaga Teixeira gota por gota florescer os Ipês em aquarela e no misturar das cores o vasto silêncio que nos permite mágico encontro com Sheina Leoni e com as letras de Gustavo Henao Chica, Solange Rosenmann, Sonia Maria Cardoso, Valeria Borges da Silveira e Vanice Zimerman. O desenho das realidades propostas por diversas vozes como em Marilis de Assis que enaltece a força feminina, Elciana Goedert que pela luminosidade da palavra move mundo e Adam Mattos tirando lascas da gente, “tadinho de mim”.
Sim, o vento corre e é solto para seu além e dele encontramos a poesia de Rita Delamari e somos soprados a visitar Manoel de Barros com o mineiro Afonso Guerra-Baião em que o tempo do amor chega em colheitas de terra fértil e pousamos nas mãos precisas do artesão poeta Amaury Nogueira e sem perguntas caminhamos ao lado de Decio Romano e Pessoa sob os arvoredos de Lisboa.
Mundos e paisagens oferecidas por Izabel Liviski, que tece poemas como quem fotografa os dias e num susto percebemo-nos aquele grãozinho de areia delicadamente exposta pelas mãos da poeta Jessica Iancoski e brincamos, mais uma vez, com o vento pelos poemas de Katia Sentinaro e no enredo dessa linda e fantástica colcha de retalhos que se forma e cobre as páginas deste livro, vamos enumerando poemas e canções para decorar as horas com Marli Voigt até chegar aos cafés culturais e o Largo da Ordem para nos embebedarmos das palavras de Marli Terezinha Andrucho Boldori.
Pessoa não sairá incólume após provar tanta beleza! Confiar na poesia e no poder do poético é estar disponível a percorrer paisagens e sentimentos novos. Este é o convite que oferece o livro Melhores Poemas. E eu também afirmo: sem duvidar da arte, entregue-se e sonhe! Pois é isto que o poeta lhe oferece primordialmente ao olhar caos e verso pela ideia que agora é real através das mãos de Isabel Furini. Boa leitura!
(Flavia Quintanilha – Outubro de 2020 – Londrina/PR)
Esclarecimento:
O que significa o melhor? O que é superior, algo que contém o máximo de atributos desejáveis e, em uma obra de arte como é o poema, a procura do excelso não é incomum.
Neste e-book “Melhores poemas – 2020”, não visamos reunir os melhores poemas do mundo, nem do continente americano, nem de um país, nem de uma cidade. Nosso objetivo é reunir os melhores poemas de cada autor, aqueles que o poeta gostaria que fossem divulgados, declamados, elogiados.
Do jardim da poesia, cada poeta convidado escolheu seus mais amados poemas. Aqueles que ele cultivou com carinho, ou aquele que surgiu quase que espontaneamente criando a dúvida: será que fui eu mesmo quem escreveu?
Esta obra reúne as melhores manifestações do trabalho de cada poeta, que não precisa se esforçar em escrever melhor que o outro. Seu trabalho, diariamente, é aperfeiçoar sua própria escrita. A poesia não é um caminho de competição, é um caminho de autoaprimoramento.
Sim, esses são nossos melhores poemas. Essa é a nossa colheita. Esperemos que sejam como uvas agradáveis ao paladar, doces para a alma. (Isabel Furini)
Isabel Furini, mora em Curitiba/PR, nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1949. É poeta, escritora, educadora e palestrante. Foi colunista do Suplemento Viver Bem da Gazeta do Povo. É coeditora da revista Carlos Zemek. Ministrou a oficina de Criação Literária no Solar do Rosário. Seus poemas foram premiados no Brasil, Portugal e Espanha. Realizou Recitais de Poesia na 36a. Semana do SESC & XV Feira do livro de UFPR, Curitiba/PR, (em português e espanhol), e na Burlingame Public Library, na Califórnia, USA.
Pequena mostra do e-book “Melhores poemas” :
Fim de tarde
Isabel Furini
Insignificante a vida humana…
sentimo-nos tão importantes
e somos gotas de água
(delirantes)
no imenso mar da eternidade.
*
Poema sem título
Mailson Furtado Viana
as sandálias ao canto
guardam teus passos
e não sabem pra diante
o horizonte
guardam caminhos
guardam distâncias
guardam a próxima esquina
guardam o fim do mundo
que nelas começa
*
Fragmento do poema Infância
Adam Mattos
A água fria cai sobre meus cabelos
Trazendo a lembrança de uma infância perdida
Outrora quando tempos singelos
Que ficaram para trás sem despedida
O rancor amarga minhas entranhas
Que com requintes de artimanhas
Me fez o homem que sou
Ou será que apenas estou?
*
LEITURA DE RUMI
Afonso Guerra-Baião
Deixa o silêncio falar.
Escuta.
Guarda tua boca
para provar a Doçura.
O EU
Amaury Nogueira
Ontem eu era só
Hoje estou
Amanhã caminharei
somente eu em busca de mim!
*
COMO UMA ONDA NO MAR…
Carla Ramos
Em Mar Aberto do Ser
Após arrebentações do Ego
O Nosso caminho de Ser…
É apenas um permitir fluir
Simplesmente e totalmente: Ser…
É o equilíbrio dinâmico: Tempo e Espaço
Ser dois em um só, sem gênero ou grau
Ao Ser continente: O mar, no masculino
E ser conteúdo: Amar, assim, bem no feminino
Ao se entregar em outro Mar Aberto do Ser..
*
Rotina do poeta
Carlos Muniz
Pés no chão.
Coração na mão.
Cabeça no ar…
Assim caminha o poeta
em busca de seu par.
*
Poética 3
Daniel Mauricio
Ao pé da letra
Sussurro poesia
Se a pele arrepia
É sinal que alma ouviu.
*
Haicai
Decio Romano
O pássaro espia.
O ramo seco em que pousa
Balança de frio.
*
CONFIANTE
Elciana Goedert (Ciça)
De olhos fechados
e mente aberta,
mergulho…
arrisco….
dou uma incerta.
Ouço um barulho…
Fico alerta.
Venço o orgulho…
Espanto o medo…
Se preciso, espero…
Dispenso a regra.
Não sou deste aprisco…
Ovelha negra,
sei o que quero.
*
INFÂNCIA
Izabel Liviski (Bel)
Só no sótão,
só…tão sozinha.
Era tão bom!
Seleções do Reader’s Digest,
todo dia.
*
Com Tudo
Jéssica Iancoski
Eu faço tudo com tudo.
Quando eu vim foi com tudo.
O tempo que, ainda, permaneço é com tudo
E quando conseguir partir, sim, será com tudo.
Contudo, já você:
Não é com tudo,
E sim,
Contundente.
*
BEM ME QUER OU MAL ME QUER?
Katia Sentinaro
Bem ou mal sinto no dedos,
Desfolhando margaridas,
Ao desvendarem segredos,
sem ficarem constrangidas.
Bem me quer ou mal me quer?
Sempre dúbias e feridas,
Numa quer, noutra desquer.
Devem ser todas fingidas.
*
Quem sou
Marli Terezinha Andrucho Boldori
Sou um santuário, mas
No meu âmago a ruína cresce
Escondo dos olhos
Para que não saibam
Quem vive dentro de mim.
*
Poema sem título
Marli Voigt
Olhe para o céu, ele diz:
És lindo! És Linda!
Na beleza de ser.
A gratidão de viver
*
Montanhas
Maria Antonieta Gonzaga Teixeira
Pregos, cordas, martelos, artefatos
comuns e importantes para montanhistas corajosos.
Mochilas à costas, mãos calejadas não importam.
Chegar ao cume das montanhas é desafiador
– é o triunfo do alpinista sonhador.
*
CURITIBA
Maria da Glória Colucci
Chuva, chuveiro, chuvarada…
Chove de noite,
chove de madrugada…
Chove na rua,
chove na tua,
chove em nossa calçada…
*
BUSCA
Maria Teresa Marins Freire
Caminhos sonhei
Caminhos percorri
Onde está
Minha alma
Que se perde a cada volta?
Onde está minha vida
Que se espalha
A cada passo?
*
Bodas
Marílis de Assis
Casei-me
Em uma igreja de diamantes
Anjos cantavam Ave Maria
Vestida de puríssimo branco
Foi o mais lindo baile de máscara
*
SOFREGUIDÃO
Rita Delamari
Ouço a voz do silêncio,
a paz que acalenta a noite,
a força do vento
que parece um açoite…
Mas, não, é a magia
da minha feliz solidão,
como um sussurro
no infinito, na imensidão
de uma saga que, juro,
não é angústia…
É vida, é sofreguidão!
*
EU VOCÊ
Solange Chemin Rosenmann
Eu Você
Delineando os trajetos do corpo
Percebendo um arrepio na alma
Sinto, saudades grandes,
De braços que não me alcançam
De abraços que nunca dei
*
Abraço
Sonia Maria Cardoso
Se você sentir um nó
Na garganta, grite
E te dou um abraço
E se for dor
No braço, também
Te abraço, se o coração
Apertar, te abraço e
O nó desfaço.
*
NEM A LUA…
Valeria Borges da Silveira
O amor não resistiu…
Despencou… Caiu…
A noite esfriou.
O dia partiu…
Acabou… Sumiu… Fugiu!
O mar secou…
Nem a lua brilhou…
A dor gritou…
A vida gemeu…
A paixão simplesmente morreu…
*
Pêndulo ígneo
Vanice Zimerman
Pausa
O pêndulo,
Ponteando
Pensamentos –
Promessas…
Ponta de fecha
Pele em ígneo
Pontilhismo
*
Relógio
Jean Narciso Bispo Moura
o tempo corre menos do que o relógio
não olhe a vida pelo ponteiro da basílica
o homem quer em dúzias tudo aquilo
que o tempo dá em unidade
*
INTIMIDAD
Gustavo Henao Chica
Ella iba sonriendo, caminaba lenta
Como disfrutando sus pasos
O sus pensamientos,
Sonreía por algo que solo ella sabia
Solo ella.
*
Porque te amor (fragmento)
Leoni Lee
Por tus caricias de oro,
perfectas en sentimientos,
junto a ese afecto que añoro,
apenas te siento lejos…
*
EL ESPEJO DE LA SALA
Sonia Andrea Mazza
De pie en la penumbra de la tarde
Soberbio devolviendo algún destello.
Mística luna falsa, de cotidiana esencia
Donde se reverencian vanidades,
Testigo cruel de nuestra decadencia.