JACAREZINHO 2021

Sangue nas veias corre como raiva,
a raiva que se lança pelas bocas,
bocas de fogo vomitando balas,
balas que embalam morte à queima-roupa;

sangue nos olhos cegos pela fúria,
a fúria que dispara a metralha,
a dor, a morte no atacado, pura,
a pura ira a granel, granada

nas mãos que dão banho de sangue, bomba
em grãos de raiva estilhaçada. Tromba
d´água salgada em nossos olhos, pranto,

pranto que lava agora nosso chão,
o nosso chão que era de estrelas, quando
luar é que invadia o barracão.

Karl Bryullov – “The last day of Pompeii” (1830-33) – detail

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Afonso Guerra-Baião é professor e escritor. Reside em Curvelo/MG. Publicou recentemente “SONETOS DE BEM-DIZER / DE MALDIZER”, pela Aldrava Letras de Artes. Publicou duas narrativas em ebook pela Amazon: “O INIMIGO DO POVO” e “A NOITE DO MEU BEM”. Seus textos podem ser lidos no Face, no Instagram e em publicações especializadas, como o Suplemento Literário do “Minas Gerais”. Como letrista, possui parcerias com compositores com João Bosco, Gilberto Mauro e Tião Gomes.

17 Comments

  1. Wanda Camargo disse:

    Muito bom!

    • Afonso Guerra-Baião disse:

      Gratidão, Wanda! Meu abraço!

    • E… O chão do barraco outrora de estrelas se tinge de sangue.
      Eis o resultado de um massacre cruel, ocasião em que, vilipendiando direitos, policiais invadem moradias e matam cidadãos em nome da lei.
      Parabéns, Afonso, por expressar através do lirismo de seu poema o sentimento do mundo, diante de uma barbárie que mais uma vez enoda a polícia militar, enquanto deixa a sociedade civil pasma de espanto.

  2. FRANCISCO CEZAR DE LUCA PUCCI disse:

    A poesia tem a virtude de falar à alma. A notícia fala ao cérebro. A fotografia fala aos sentidos e todos esses meios aos sentimentos. Apenas a poesia e a fotografia possuem a arte, portanto o inefável ou o horroroso. A notícia apenas o rigor da linguagem e a intenção da mensagem. Isso se vê claramente neste poema. Uma tragédia posta na linguagem da alma, mudando nosso olhar “da coisa” para “as coisas”. Belíssimo.

  3. Afonso Guerra-Baião disse:

    Pois é, Francisco Cezar, seu comentário me fez lembrar a frase de um personagem de Hilary Mantel: “Um estatuto é feito com o objetivo de aprisionar o sentido; um poema, com o de libertá-lo”. Como vc disse, o poema vai da coisa para as coisas: para o sentido plural do mundo, Obrigado, meu caro, grande abraço!

  4. Clara Baião disse:

    Parabéns, Afonso, pelo expressivo poema, que nos alerta para os momentos vividos hoje.

  5. Afonso Guerra-Baião disse:

    Grato, Clara!

  6. André Luiz Baião Campos disse:

    O poema nos traz aos olhos a vertigem dos nossos dias. Parabéns.

  7. Afonso Guerra-Baião disse:

    Obrigado, André!

  8. E… O chão do barraco outrora de estrelas se tinge de sangue.
    Eis o resultado de um massacre cruel, ocasião em que, vilipendiando direitos, policiais invadem moradias e matam cidadãos em nome da lei.
    Parabéns, Afonso, por expressar através do lirismo de seu poema o sentimento do mundo, diante de uma barbárie que mais uma vez enoda a polícia militar, enquanto deixa a sociedade civil pasma de espanto.

    • Afonso Guerra-Baião disse:

      Pois é, Auxiliadora! É a poesia sustentando o sentimento do mundo, nesse trágico momento que vivemos. Grande abraço!

  9. André Luiz Reis Mattos disse:

    Que força nas palavras Afonso… pena ainda precisarmos de falas como a sua para confrontar realidades tão crueis.

  10. Afonso Guerra-Baião disse:

    Obrigado, André Luiz! Pois é… Vamos somando forças nessa luta!

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