REFORMAS URBANAS NO RIO DE JANEIRO

MORRO DA FAVELLA

Millena  Manhães da Silva

 

Millena Manhães da Silva, graduanda de licenciatura em História. E-mail: millenamanhaes@id.uff.br / Lattes: http://lattes.cnpq.br/9138094545660190

Licencianda em História pela Universidade Federal Fluminense pelo DEpartament de História do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional,.  Atuou como bolsista de extensão na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro no projeto “Políticas Públicas e Espera: Ações para a garantia e preservação de direitos.”   Atua como colaboradora no projeto Museu Volante na Universidade Federal Fluminense e é membro do Laboratório de Estudos da Imanência e da Transcendencia (LEIT/UFF/CNPq) coordenado pela professora Márcia Regina da Silva Ramos Carneiro. Possui certificação avançada, curso Saber Museu, oferecido pelo Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM. Tem interesse nos estudos sobre história do Brasil República.

 

REFORMAS URBANAS NO RIO DE JANEIRO

MORRO DA FAVELLA

 

Introdução

 

A efervescência de movimentos como a belle époque, um movimento estético urbanístico e cultural que se instalou na Europa, especialmente na França e que perdurou desde a expansão imperialista europeia de século XIX até o início da Primeira Guerra Mundial, contexto em que se instaurou da República brasileira, em 1889. Este movimento motivou modificações profundas na cidade do Rio de Janeiro, tanto no campo das instituições políticas, como também, transformações significativas que estavam relacionadas   à estética e saneamento da cidade. 

O pensamento de modernização da área urbana envolvia além do embelezamento arquitetônico da urbe, a cidade do Rio como capital da república consistia em reconfigurar os modos de vida dos habitantes da cidade. Dessa forma, muitos projetos que buscavam organizar o espaço físico da cidade, tinham o ideal de construir uma metrópole moderna e civilizada.

 

Demolição dos Cortiços e Surgimento das favelas

Após a Proclamação da República (1889), a execução do projeto de “limpeza” da cidade, realizada pelo prefeito Barata Ribeiro (1892-1893) e posteriormente, a operação “bota – abaixo” executada pelo engenheiro e prefeito Pereira Passos (1902- 1906) inspirada nas reformas parisien- ses ocorridas nos finais do século XIX, tinham por finalidade demolir os cortiços do centro Rio. Já que no contexto da época essas habitações populares eram mal vistas socialmente, como lugar de promiscuidade e de condições insalubres, propício à proliferação de doenças e que ameaçavam a ordem e a civilização almejada pelos médicos, engenheiros e urbanistas da época.

Dessa forma, a solução para estes problemas seria de fato “por abaixo” essas construções, o que contribuiu para a intensificação do surgimento das favelas. Além disso, as reformas buscavam redefinir o espaço público de acordo com as novas aspirações das elites republicanas, associando a capital federal à imagem de um espaço moderno,  organizado e civilizado.

MORRO DA FAVELLA

Após o arrasamento dos cortiços, seus antigos moradores veem como solução abrigar- se nos morros da cidade, além disso, no nordeste do país estava chegando ao fim a guerra de Canudos, embate que ocorreu, entre os anos de 1896 – 1897, em um conflito armado que envolvia militares defensores da república e sertanejos resistentes ao novo regime. O morro que foi ocupado por volta de 1897 por ex – escravos, imigrantes e moradores que foram expulsos do centro, abrigaria ainda os ex – combatentes de Canudos. Sua nomenclatura

“Morro da Favella” foi atribuída pelos ex- soldados, já que “favella” seria uma vegetação típica do sertão nordestino, encontrada nesta área do Rio de Janeiro. A definição também foi utilizada de modo simbólico, já que o Arraial de Canudos era uma região montanhosa e tinha na Serra Baiana um morro com o mesmo nome, “Favella”.É importante destacar, que após a ocupação dos morros, seja pelos moradores despejados do centro, seja por ex – escravos e ex – combatentes, ou pelas classes mais pobres da cidade, houve uma transferência da imagem que antes era associada aos cortiços, para a favela. Que a partir disso passa também a ser vista pelo poder municipal, como um lugar de estalagens desordenadas e improvisadas e que mantinham o mesmo perfil de moradores dos cortiços. Portanto, apesar de se deslocarem para os morros, esses moradores acabavam sofrendo as mesmas opressões de quando residiam nos cortiços.

 

A Favella no tempo dos cortiços

O código de obras é um documento que tem por objetivo permitir que o poder municipal controle o uso do espaço urbano, a fim de fiscalizar as condições de higiene e estética das construções. O código de obras do Rio de Janeiro (1937) em seu capítulo XV, previa a “extinção das habitações anti-higiênicas” isto é, o impedimento legal da formação de novos cortiços, de novas favelas ou de qualquer estalagem semelhante que pudesse atentar contra a ordem moral da urbe. O diagnostico dessas áreas era feito por engenheiros, urbanistas, médicos e sanitaristas, essas figuras tinham importante papel na elaboração e realização dos projetos reformadores de modernização da cidade.

 

CURIOSIDADES

A canção “Morro da Favella” do Grupo do Pixinguinha – 1917. Disponí- vel em: https:// playback.fm/charts/brasil/ video/1917/Grupo-do- Pixinguinha-Morro-da- Favela

 

MORRO DA FAVELLA

A Copa do mundo (2014) e as Olimpíadas (2016). Que tiveram como pano de fundo, o interesse em embelezar-se para o entretenimento dos turistas e atrair o capital estrangeiro.

Atualmente novos embates estão sendo enfrentados pela população periférica em toda a cidade do Rio de Janeiro, principalmente em relação aos moradores da zona portuária da cidade, que enfrentam diversos conflitos, com as obras de revitalização que ainda hoje acometem essas áreas. Devido à nova onda de modernização e desenvolvimento do espaço público, como, às remoções que ocorreram na última década, seja por conta do mercado imobiliário, seja pelos megaeventos sediados na cidade. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

“A administração do prefeito Pereira Passos: O Bota – abaixo” – MultiRio. Disponível em: http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/rio-de-janeiro/66-o-rio-de-janeiro- como-distrito-federal-vitrine-cartao-postal-e-palco-da-politica-nacional/2911-administracao- pereira-passos-o-bota-abaixo

“A lua no alto da Providência” https://www.anf.org.br/a-lua-no-alto-da-providencia/

Arquivo Geral da cidade do Rio de Janeiro. “Código de Obras do Distrito Federal” 1937. Disponí- vel em: http://www.rio.rj.gov.br/web/arquivogeral/codigo-de-obras-de-1937

Atlas Histórico do Brasil. Disponível em: https://atlas.fgv.br/verbetes/o-bota-abaixo

“A voz do morro” – Folha de S. Paulo. Disponível em: https://arte.folha.uol.com.br/tudo-sobre/rio- em-transformacao/a-voz-do-morro/

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CARVALHO, Bruno. Cidade porosa: dois séculos de história cultural do Rio de Janeiro. Ob- jetiva, 2019.

GALIZA, Helena R. dos S.; VAZ, Lilian F.; SILVA, Maria L. P. da. Grandes eventos, obras e re- moções na cidade do Rio de Janeiro, do século XIX ao XXI. Anais da II Conferência Internacional Megaeventos e a Cidade, 2014, Rio de Janeiro.

“Memórias da destruição. Rio – Uma História que se perdeu.” Arquivo da cidade, 2002. Disponí- vel em: http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4204430/4101439/memoria_da_destruicao.pdf

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SEVCENKO, Nicolau. A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio. In: História da vida privada no Brasil 3 : República: da belle époque à era do rádio[S.l: s.n.], 1998.

VALLADARES, Licia. A gênese da favela carioca. A produção anterior às ciências soci- ais. Revista brasileira de ciências sociais, v. 15, n. 44, p. 05-34, 2000.

“Obra de teleférico causa polêmica no Morro da providência” Disponível em: https:// noticias.r7.com/rio-de-janeiro/rj-no-ar/videos/obra-de-teleferico-causa-polemica-no-morro-da- providencia-rj-20102015

Professora Doutora do Departamento de História do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal Fluminense. Coordenadora do Laboratório de Estudos da Imanência e da Transcendência (LEIT) e do Laboratório de Estudos das Direitas e do Autoritarismo (LEDA). Membro do Grupo de Estudos do Integralismo (GEINT).

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