Ensino de História – História do Japão, por que levar este estudo para sala de aula?

Lucas Lopes da Silva

Lucas Lopes da Silva.

Pedagogo formado pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) em 2018, manteve seu foco de estudo inicialmente em: educação, sociedade, Bullying nas escolas e suas consequências nesse meio. Formação em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2021, deu início aos seus estudos sobre Ásia, mais especificamente, sobre o Japão em 2018. Participante como aluno ouvinte nos minicursos promovidos pelo NEJAP (Núcleo de Estudos Japoneses) realizado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) desde 2020. Em atuação na área da educação no momento. Tem como objetivo e foco de pesquisa: História do Japão, samurais, sociedade, memória, imaginário e cultura. Pretende seguir para mestrado e doutorado em História do Japão.

 

Ensino de História – História do Japão, por que levar este estudo para sala de aula?

 Lucas Lopes da Silva

Introdução

Este artigo tem como objetivo desenvolver questões de ensino de história referentes à História japonesa, demonstrando algumas justificativas sobre a importância de ensinada no interior da sala de aula. Por que ampliar esse assunto? As questões apresentadas se referem aos debates culturais, implicitamente, relacionados ao consumo transversalizado por séries de TV, Cinema, divulgação dos Mangás, Histórias em Quadrinhos, tipicamente japonesas etc. Além destes elememtos que estimulam o imaginário social e cultural do Ocidente, a figura do samurai, projetada como herói e mártir das glórias ancestrais é apresentada de forma mistificá-la. Este artigo pretende expor possibilidades de debater a História japonesa factual e as suas representações !míticas” que chegam ao estudante brasileiro da Educação Básica. Além de tentar desmistificar determinadas questões que se formam ao redor da imagem deste “mundo desconhecido”.

Sabe-se bem que o estudo sobre o Japão cada vez mais tem se ampliado na historiografia mundial, tanto pela descoberta de novas fontes primárias como da própria releitura das fontes. Não é de hoje que a historiografia por muito tempo foi eurocêntrica, mas aos poucos estamos conseguindo vencer essa problemática. Outro ponto que enfrentamos atualmente principalmente quando estudamos Japão na historiografia brasileira acadêmica é que recaímos ao recorte quase sempre do processo de imigração até por ser a fonte mais abundante que possuímos em nosso território, além da barreira linguística. Lembrando que estudar imigração não é um problema, mas digo em ampliar outras questões em sala de aula. A maior parte das fontes para quem estuda outras áreas como samurais está em inglês ou na língua mãe. Geralmente sendo uma fonte traduzida ou retraduzida pode muitas vezes levar a uma perca material. Apesar de todos estes “poréns”, o objetivo deste artigo é mostrar do porquê estudar Japão em sala de aula e sua cultura com mais afinco, levantar questões sobre os paradigmas do imaginário da figura dos samurais e levantar questionamentos sobre o que essa cultura faz no cotidiano dos alunos. Ampliar os horizontes do estudo sem se tornar o recorte restrito e breve que possuímos que só nos diz algo sobre a o emergir dos tigres asiáticos ou mesmo as ações imperialistas do Japão, como se nada houvesse ocorrido antes de todas estas questões.

O Ensino de História e sua importância

A maior pergunta que temos para iniciar o assunto é como ensinar história? Ou até mesmo por que ensiná-la? Do mesmo modo, uma preocupação de nós professores de história é como levar o dito “conteúdo” de maneira adequada para nossos alunos. Com a leitura de Ribeiro podemos perceber algumas questões, por meio de suas explicações percebemos que muitas vezes o currículo nos prega a famosa peça da necessidade de cumpri-lo, o que muitas vezes leva a um recorte com foco somente no que seria “necessário” a disciplina. Nunca devemos esquecer que o estudo do passado é estar revivendo a gama de experiências dos seres humanos no tempo inseridas num conjunto de conhecimentos não se limitando somente aos grandes acontecimentos. É necessário estar em observação sobre os aspectos que a vida cotidiana possui e através do processo de reflexão, identificar as semelhanças e diferenças que se construíram ou se reformaram com o tempo. Isso se prova pela citação a seguir: “É preciso também refletir sobre os aspectos mais variados da vida cotidiana, que nos permitem identificar as semelhanças e diferenças, o que permanece e o que se transforma.1 ” Desta forma o professor sempre está em um cabo de guerra, onde em uma das pontas precisa se fazer uma análise dos conteúdos a serem levados aos alunos e sobre o olhar o qual se apresenta aquela versão histórica, enquanto na outra ponta deve se manter atento a como levar e desenvolver a reflexão crítica sobre o que está sendo estudado de modo que estes jovens passem pelo processo de construção do seu próprio saber. Outro ponto a se focar é como a história pode ampliar a questão do conceito de espaço e tempo muito além do presente o qual se vive. O processo de ensino aprendizagem então faz uma viagem espaço tempo, onde à reflexão crítica em relação à realidade social de cada indivíduo mostra-se um sistema de referência no ato desta construção de identidades e ao pertencimento de um grupo assim como a cidadania. Um ponto importante que não se pode esquecer nesta discussão é sobre o ato narrativo, a oralidade nos traz a grande importância da troca de experiências, ou muitas vezes a descrição de um acontecimento que se assemelha ao da atualidade, fazendo o abismo que seria o tempo na realidade se tornar uma conexão, esse processo narrativo leva à memória, sendo ela coletiva ou não trazendo consigo imagens do que seria aquele passado que muitas vezes pode não se mostrar tão distante como se parece.[i] Mas será que a história sempre pensou desta forma sobre seus agentes históricos? Na realidade não, a história antes positivista se preocupava somente com o passado e seu recorte. Através dos apontamentos de Costa podemos perceber que o passado era a fonte primordial de conhecimento, incontestável e sempre primorosa. Deste modo os agentes e movimentadores da história seriam os grandes heróis. Com a mudança nessa perspectiva, graças a Escola dos Annales e com Marc Bloch a história passou a ser vista não somente como representativo dos grandes heróis e fatores históricos e seus acontecimentos como único representativo da verdade. A história passou a realmente ser ciência onde não partiria mais de cima para baixo analisando assim somente o relato dos vitoriosos, mas do mesmo modo dos que foram derrotados. Por meio desta os alunos podem entender que de fato que não são só agentes como sujeitos históricos. A história então entendeu que todo indivíduo pode ser um agente histórico e produz história e acontecimentos, sendo assim o presente de hoje é o passado de amanhã que dará caminho a um novo futuro construindo história em seu trecho. Deste modo a história foi revivida, passando assim a estudar o passado para compreender o presente e todo seu processo de trajetória. Essa questão se prova pela citação a seguir: “A partir de então a história não parte mais de cima para baixo, ao contrário, analisa a situação sob vários aspectos tentando entender os derrotados, os erros que não foram pesquisados, o que era tido como fato histórico insignificante passa a ter sentido, porque através de uma abordagem mais ampla que estaria ligada a junção com outras ciências entre elas, a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, abrir-se-ia espaço para uma ciência globalizante, que veria os acontecimentos sob vários pontos de vista, onde “tudo é História”, sendo este o lema deste novo jeito de construir e entender História. 2 ” Nessa perspectiva há um norteador de todo esse processo de vínculo construtivo, o qual o aluno faz com a história ao entendê-la. E quem é esse Norte? Sim, somos nós professores. Deste modo é nosso dever criar essa situação de troca por meio do ensino, onde o aluno começa a entender o que está sendo estudado e sua relação com o que se vive. Por meio desta o aluno reconstrói seu pensamento sobre o que é história surgindo novas concepções sobre a mesma. A história assim nunca é passado, mas sim presente e um possível futuro. Isso se torna combustível para que o aluno entenda que a história é um processo no qual é construído por meio dela a problematização do cotidiano social, identificando assim as relações sociais, grupos, locais, nações tanto suas quanto de variáveis povos[ii]. Perceber as semelhanças e as diferenças existentes no interior de cada uma destas sociedades e observando as problemáticas atuais com essa relação, porém lembrando sempre o jovem que a visão de mundo de um período histórico é diferente da nossa perspectiva e deste modo deve estar atento ao anacronismo. Uma das grandes ferramentas para este processo em sala de aula é o cotidiano, pois é através dele que os alunos podem perceber como suas vidas estão ligadas e fazem parte da própria história. A História, Memória e suas perspectivas de mundo. Ao falar de história e sociedade não podemos esquecer-nos da memória. Mas o que a memória teria a ver com isso? Podemos responder tais perguntas com a leitura de Barros. Percebemos assim que a memória se apresenta como uma raiz no interior das sociedades. Deste modo a memória e história eram vistas de maneiras diferentes. Enquanto a história seria o fator crítico que problematiza, constrói e reconstrói em seu processo de análise. A memória por sua vez era observada como algo oscilante de múltiplas visões. Porém, isso mudaria com a década de 1970, a memória passa a ser vista com outro olhar com a da nova história. A memória então é observada como fonte histórica e fenômeno histórico. Por meio desta deveria se analisar a questão de seleção de memória e como estas variam de lugar para lugar ou de um olhar para outro. Assim a memória não deveria ser vista como um depósito de dados e de informações sejam elas coletivas ou individuais. A memória deve ser observada como uma produção simbólica que institui identidades e assegura a permanência dos grupos. Isso pode ser visto pela citação a seguir: “Entre elas, e de modo a superar a inadmissível avaliação da memória como um mero depósito de dados e de informações relativas à coletividade ou à vida individual, devemos pensar na Memória como instância criativa, como uma forma de produção simbólica, como dimensão fundamental que institui identidades e assegura a permanência dos grupos3 ” É por meio desta mudança que a história toma com outros olhos a memória, e passa a utilizar da memória coletiva e individual como fontes de produção de conhecimento histórico. A memória então como uma fonte de produção histórica passa a ser uma ferramenta para o entendimento de questões da sociedade tanto a memória coletiva como a individual nos mostram suas raízes na construção cultural como a produção de tradições e outros aspectos. A memória nesse aspecto como ser responsável tanto por restabelecer estruturas como renovar lembranças sempre do velho no novo e vise versa. Formando assim centros familiares onde a memória se organiza formando as genealogias, fotos, lembranças ou acervos para manter vivos os representativos da sua existência criando o conceito de identidade. Isso se prova pela citação a seguir: “Onde existe o humano, pode-se dizer que a Memória se estabelece, gerando os seus lugares. Desde as células familiares, que organizam sua memória através de recursos os mais diversos como as genealogias e os álbuns de fotografias, até as grandes Nações que erguem museus e arquivos para dar visibilidade à sua propriedade identidade, a Memória apresentada definitivamente muitos “lugares de memórias” [iii].

Quanto ao Japão, há um longo caminho a ser desbravado sobre seu imaginário, mesmo dentro de suas fronteiras. Desta forma, desenvolve-se o nosso diálogo e a possível pergunta: Por que estudar Japão com mais afinco? Como dito mais acima a história tem se desenvolvido cada vez mais, muitas áreas o qual se possuía pouco acervo histórico e fontes estão sendo descobertas e dando caminho a novas indagações, questionamentos e perguntas. Isso funciona da mesma forma com a história da Ásia em seu recorte. Como professores, nosso objetivo sempre é levar o melhor aos nossos alunos, sendo um incentivo maior quando é uma área pouco abordada ou para ampliar um conhecimento que aparenta ser vago. O bom e velho currículo por sua vez e os livros didáticos sempre formam seu recorte entre Era Meiji resumidamente, Imperialismo japonês, Japão como força na 2° Guerra mundial, Japão pós-guerra e o alavancar do desenvolvimento tecnológico japonês no Toyotismo que está inserido nos Tigres Asiáticos. Dá para perceber que em meio a estas questões parece que existe uma lacuna na história? Um vão no qual não existe nada anteriormente ou os motivos que ocasionaram a Restauração Meiji parecem não existir. Sabemos como já falado que a história tem uma tendência eurocêntrica e por isso é dever de nós professores e historiadores quebrar esse ponto. Por que não ampliar o estudo da Ásia? Qual motivo levou o Japão que havia se fechado há quase 200 anos simplesmente abrir-se comercialmente? O que levou a restauração? Qual o contexto social se passa nesta sociedade durante este período tanto em seu fechamento ao mundo e após sua abertura? Essas são algumas das questões que nós que estudamos Ásia no geral, nesse caso Japão queremos responder. Questões como: Pax Tokugawa[iv] e suas futuras convulsões, sociedade e suas classes, tratado de Kanagawa[v] , linhas prós e conta imperador, nacionalismo, identidade social, xenofobia e Rebelião de Satsuma são totalmente relegados. Até mesmo a figura do samurai só aparece como emblemática sem alguma contextualização. Outro ponto a se levar em conta é o próprio imaginário que se forma ao redor da imagem desse[vi];  o imaginário sobre o Japão e mesmo do samurai e sua caracterização.

É comum aceitar que o samurai se tornou uma figura imagética associada ao Japão. Não só fora da sociedade como mesmo em seu interior, o que induz a associação entre construções de identidades coletivas que percorrem os processos de implantação global do modelo Ocidental de   Estado-Nação. Por meio desta “adaptação” japonesa ao processo de modernização industrial/capitalista se estruturaria o conceito que justificaria a adequação de um “símbolo nacional”, como o samurai, àquela sociedade, do mesmo modo que forjando crenças, funções e ações sociais daquele “ator” político-econômico-social, representado pelo samurai, no contexto do exercício de sua função, a de samurai, como tal, em seu meio, o que é chamado de ordem social. Isso pode ser demonstrado pela citação a seguir: “Nesse interior se formula a contextualização da produção da “identidade” de diversas sociedades e que estas se dão por meio de comportamentos de lógica em grupo. Sendo assim o imaginário surge como justificador desta identidade coletiva. O imaginário constrói o “eu” no interior de uma sociedade e isto ocasiona na constituição de crenças, funções e ações sociais para cada indivíduo em seu meio, o que pode ser chamado de ordem social” Esse mesmo imaginário é aquele que cria figuras mitificadas em relação ao herói que nesse caso é nosso samurai. Nesse quesito, o samurai é mitificado sempre como um homem de extrema honradez, grande perícia e habilidades sobre humanas sendo capaz de derrubar dez ou mais homens com apenas um golpe. Um ser de grande devoção ao seu senhor, que retira a vida em flagelo pela falta com seu dever através do seppuku[vii] Essa caracterização da figura do samurai vem do período Edo, remetendo entre os séculos XVII ao XIX. Esse boom na caracterização da imagem do samurai acaba ocorrendo devido ao surgimento de obras como as de Inazo Nitobe[viii], fora outras variadas levando a popularização do código samurai com seus conceitos filosóficos, culturais e folclóricos. Surge então uma grande procura pelo código até os dias atuais. Porém é função de nós historiadores quebrar essa visão mistificada deste ser, o próprio código samurai ainda é muito discutido, muitos estudiosos entraram num consenso que sua ação é variável de acordo com os séculos. Entre os XIII, XIV e XV alguns estudiosos acreditam que os samurais teriam seguido o caminho do arco e não da espada. Mas se observarmos os representativos dos samurais nas mídias sempre acabam saindo no contexto[ix] . Até as obras mais belas como as de Akira Kurosawa retratam tais indivíduos desta forma. Essas raízes florescem até os dias atuais e ganham cada vez mais força. Se observamos com cuidado no interior do ego nacional, esse imaginário ainda vive no interior japonês, desde a segunda guerra com a evocação dos samurais através dos kamikazes como atualmente convenções, escolas de kendô ou até mesmo várias figuras se apresentando como “samurais modernos”. Essa observação se mostra na citação a seguir: “Por fim, o que é de maior necessidade aqui é entendermos de fato que o imaginário é um meio o qual possibilita a constituição do meio social e política e que utilizou da supervalorização da figura desta classe guerreira para ampliar o ego da imagem e de sua sociedade o que por fim não torna tais homens como seres fora do comum e sim que os qualifica como diferentes são suas ações como agentes históricos em plena sua sociedade[x]Estudando o Japão e ampliando os horizontes. Mas o que isso tem a ver com o ensino de história e porque o ensinar? Como dito acima a história tem se ampliado cada vez mais. E se pensarmos bem o Brasil tem o prazer de ser o país considerado o berço multicultural do mundo. O que quero dizer é que o Brasil é um país formado por: Portugueses, africanos, indígenas, japoneses, alemães, italianos e árabes, porém nessa perspectiva a visão em foco acaba recaindo sobre os povos de centro de constituição primária da nação[xi], sendo os outros que os ajudaram na estrutura posteriormente recaem no esquecimento. Unindo essa questão com as de quebra do paradigma do eurocentrismo. Há sim necessidade não só de se rever e ampliar o estudo sobre a Ásia em nossas escolas como das outras nações que formam e constituem a nossa, e não o deixar somente a breves questões. O estudo acadêmico tem progredido, então por que não os levar à escola? Se pensarmos na perspectiva, será que muitos dos descendentes de japoneses vivem em nosso país sabem de fato sobre sua cultura? Tem seu interesse sobre o assunto? Como se mantém viva essa questão cultural? Essas são perguntas que como professor penso toda vez que amplio o conhecimento sobre Ásia. Sabemos que graças à embaixada e as associações a cultura japonesa em nosso interior se mantém viva. Porém, ampliar todo o recorte de estudo é mais que necessário em sala de aula, como relatei acima se o acervo sobre imigração é vasto porque anão o ampliar em sala de aula de maneira correta? Levando em consideração a imigração não só como um trecho, sobre as questões de origem, identidade e cultura que existem em seu interior e que nos engloba. Geralmente imigração é tratada como um catálogo relatando que há imigração no país, de um grupo de indivíduos, mas resumidamente abordada. Questões como as de “raça branca forte” proposta pela elite brasileira xenofóbica, a própria questão da xenofobia sofrida pelos imigrantes japoneses, o perigo amarelo, leis de restrição, proibição no processo de imigração, frentes eugenistas anti Japão, desenvolvimento das colônias. Isso se prova pela citação a seguir: “O discurso dos parlamentares abordava basicamente os riscos políticos e raciais, representados pela imigração japonesa. Miguel Couto, como médico eugenista, declara tanto em suas obras como nas tribunas do Palácio Tiradentes, que a introdução de japoneses fazia parte de um plano expansionista, que destruiria a nação brasileira. Apresentou a emenda n. 21-E, que proibia a imigração negra e restringia a entrada de japoneses no país a uma cota de 5% sobre a totalidade de indivíduos desta origem já instalados no Brasil.[xii]

Conclusão.

Assim, há lacunas já citadas acima dos fatores históricos o qual não se preocupam em responder sobre o Japão em sala de aula. E é nosso dever como historiadores superá-las. O mundo e a historiografia precisam entender que a história não é só feita de Europa. Mesmo que os estudos estejam se tornando cada vez mais estruturados e fortes abrindo caminho a cada dia, ainda há muito a se percorrer. E como professores também precisamos rever isso. 12. Existe muito na Ásia a se desbravar num todo. Levar aos jovens a entender o eu de formação cultural do Japão e realizar a desconstrução do imaginário social sobre o samurai. Chamar sua atenção ao que de fato era essa classe guerreira no seu contexto social e sua importância para o Japão como outras questões a serem respondidas. O professor é aquele que faz o ato de construir e reconstruir levando ao pensamento crítico. Esse é o melhor presente que podemos dar à futura geração. Conhecimento não como uma massa unida e compacta de informações a serem inseridas na mente dos alunos como se abrisse uma caixinha e depositasse, mas sim a reflexão que norteia aquilo que é estudado. Japão não pode ser definido somente como animações, jogos, doramas[xiii] entre os demais pontos que são apresentados constantemente pelas representações midiáticas. O Japão é um acervo cultural muito maior e vasto do que se imagina. Todas estas questões por vezes caem mais uma vez abaixo do tapete. Muitas pelo currículo, outras pelo desgaste emocional do trabalho tão belo da educação no ato de ensinar, porém desvalorizada e desgastada. No qual o dia a dia exaustivo do trabalho acaba levando o profissional da educação a mesmice. Sendo assim a história ainda tem um longo caminho com a Ásia a ampliar, mas creio que logo e com muito esforço nós futuros historiadores conseguiremos vencer essa batalha tão árdua. No fim a história é a força motriz para mudar o mundo, basta a nós professores ter a força para levá-la aos mais jovens.

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[i] 1 RIBEIRO, JONATAS ROQUE. História e ensino de História: perspectivas e abordagens. Educação em Foco (Amparo) , v. 20, p. 3, 2013. 3.

[ii] COSTA, A. S. A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA NAS ESCOLAS E SUAS IMPLICAÇÕES NA VIDA SOCIAL. Revista Anagrama (USP), v. 05, p.2, 2011. 4

[iii] Conferir: NORA, Pierre. Les lieux de mémoire. I La Rébublique, Paris: Gallimard, 1984, pp. XVIII –XLII. No Brasil publicado como: Entre Memória e História: a problemática dos lugares. In Projeto História: revista do Programa de estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP, no. 10. São Paulo: PUC, 1993, pp. 7-28.

[iv] Define-se Pax Tokugawa devido a paz que prevaleceu durante o Xogunato Tokugawa (1600- 1868), deve-se lembrar que no período (1853-1868) o Japão se encontrava num estado de convulsões sociais e militares.

[v] Tratado que abriria os portos Japoneses para o comércio com os EUA.

[vi] Rebelião ocorrida de janeiro a setembro de 1877. Essa ação foi causada pelo clã de Satsuma, mostrando seu descontentamento com governo Meiji, sendo liderada por Saigo Takamori. Também conhecido como última rebelião contra o governo e ato dos samurais no Japão.

[vii] Estudos complexos sobre a arte da espada e treinamento do seu corpo e mente, são as características mais atribuídas aos samurais. As fontes midiáticas são as que mais se aproveitam da construção desse imaginário. Então isso amplia a visão folclórica ao redor daquele ser. Porém a construção da mentalidade vem de um período não muito longínquo.

[viii] Escritor da obra Bushido: The soul of Japan (1900), entre outras.

[ix] ESPIG citado por SILVA, Lucas Lopes. UM NOVO MUNDO: OS SAMURAIS EM DECADÊNCIA E A PERSISTÊNCIA DO SEU CÓDIGO INFLUENCIANDO OS ÍNDICES DE SUICÍDIO NO JAPÃO ATÉ OS DIAS ATUAIS., p.22, 2021.

[x] Tom Colan. Scroll of the Mongol invasions of Japan. 1274-1281. Rolo. Disponível em:  http://digital.princeton.edu/mongol-invasions/index.php?a=scrolls. Acessado em: 07/04/2023.

[xi] SILVA, Lucas Lopes. UM NOVO MUNDO: OS SAMURAIS EM DECADÊNCIA E A PERSISTÊNCIA DO SEU CÓDIGO INFLUENCIANDO OS ÍNDICES DE SUICÍDIO NO JAPÃO ATÉ OS DIAS ATUAIS, 2021, p. 52.

[xii] CARNEIRO, Maria Luiza Tucci; TAKEUCHI, Marcia Yumi. Imigrantes Japoneses no Brasil – Trajetória, Imaginário e Memória. Edusp- São Paulo, 2010.p. 52.

[xiii] Site de entretenimento asiático que divulga séries e filmes dramáticos produzidos por países asiáticos, como Coréia do Sul, Japão e China.

Professora Doutora do Departamento de História do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal Fluminense. Coordenadora do Laboratório de Estudos da Imanência e da Transcendência (LEIT) e do Laboratório de Estudos das Direitas e do Autoritarismo (LEDA). Membro do Grupo de Estudos do Integralismo (GEINT).

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