A Revista Contemporartes homenageia a todos os professores e professoras no dia de hoje, com uma reflexão da Prof.ª Raquel Almeida sobre o trabalho docente.

Sentidos do Trabalho Docente

A Educação na Idade Média - A busca da Sabedoria como caminho para a  Felicidade: al-Farabi e Ramon Llull | Idade Média - Prof. Dr. Ricardo da  Costa
Fonte: História da Educação: Antiguidade, Idade Média e Modernidade

Percorrendo-se na linha do tempo da história da educação no Brasil, no dia 15  de outubro do ano de 1827, Dom Pedro I, o então Imperador do Brasil, baixava um decreto que criaria as Escolas de Primeiras Letras, equivalente ao ensino fundamental nos dias de hoje, o qual simboliza e marca o Dia do Professor. Nesse documento, também estavam estabelecidas as condições de trabalho do professor, dentre as quais, a sua contratação e o seu salário.

A reflexão que ora proponho trata-se do ofício da docência e parte de uma tríade de questionamentos de sentidos que, frequentemente, buscamos dar ou atribuir ao nosso “ofício” e à sua ação histórica e social, isto é, ao trabalho docente conduzido, muitas vezes, em uma larga trajetória de nossas vidas: Que professores nós somos? Que professores nós gostaríamos de ser? Que professores nós realmente podemos ser?

O ensino variou de acordo com as práticas culturais e figurações socioeconômicas de uma época
Fonte: https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/o-professor-ao-longo-do-tempo.htm

Na obra O Capital (1984), Marx define o “ofício” do homem como o  conhecimento essencialmente articulado à sua natureza, produção e desenvolvimento de uma ação. Nas sociedades primitivas, cada indivíduo realizava a sua especialidade com um sentido próprio e pessoal da ação empregada socialmente. Historicamente, os diferentes ofícios ou conhecimentos eram concentrados em um mesmo local e, por meio da cooperação, cada um realizava sua atividade especializada. O trabalho feito em conjunto obtinha o seu produto final, ou seja, a sua totalidade era executada pela união desses especialistas e seus ofícios.

Ao se transpor a relação entre sentido e significado de uma ação para o trabalho docente vamos entender que, a simbiose existente entre o significado das ações do professor e os seus sentidos para o mesmo, se descaracterizou a partir da divisão social do trabalho e da exploração deste quando na adoção e implantação de uma sociedade capitalista em quase todo o mundo. Houve a ruptura da integração entre o significado e o sentido da ação na execução do trabalho humano. O sentido pessoal da ação não corresponde mais ao seu significado. O processo do sistema fabril, sobretudo o trabalho mecânico ou técnico (racional/instrumental), foi transferido para todas as instâncias do setor produtivo e, porque não, para o sistema produtivo educacional.

O professor torna-se, então, um executor de tarefas prescritas a serem cumpridas no seu trabalho de docência, quais sejam, preenchimento de relatórios, planejamento de aulas e cumprimento de conteúdos e cargas horárias.  Analisando-se por esta perspectiva, verificamos que o trabalho da docência sofre uma forte ruptura entre o significado socialmente construído de ser professor e de qual é o seu verdadeiro papel na (forma)ação do indivíduo e o(s) sentido(s) que este especialista da educação atribui à sua atividade como formador hoje. Em síntese, as condições subjetivas da formação humana e  profissional do ofício de professor perdem seus sentidos em meio às condições objetivas que se lhes apresentam (tarefas e metas a serem ligeiramente cumpridas, salas de aula abarrotadas de alunos com uma grande heterogeneidade  cultural, social e econômica, dentre tantos outros) no sistema educacional brasileiro.

Doria prevê aumentos na forma de subsídios em reestruturação da carreira de  professor - 13/11/2019 - Educação - Folha
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/11/doria-preve-subsidio-em-reestruturacao-da-carreira-de-professor.shtml

Para finalizar essa breve reflexão,  retomo o pensamento histórico de Karl Marx de que “o homem é o seu trabalho” e, considerando os atuais impactos ideologicamente políticos, econômicos e socioculturais sobre o trabalho da docência,  respondo ao questionamento  “Que professores nós realmente podemos ser?” atribuindo um novo sentido para os versos de uma canção popularmente brasileira, e digo: “somos o que podemos ser, somos o que podemos crer” mediante às atuais condições subjetivas e objetivas, sob as quais, exercemos nossa docência.

NOTA: Artigo de autoria publicado no Jornal Folha de Londrina, seção Opinião, em 07/02/2019.

Disponível em: https://www.folhadelondrina.com.br/opiniao/sentidos-do-trabalho-docente-1026142.html

Imagens:

Disponível em: https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/o-professor-ao-longo-do-tempo.htm

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k4qFN1O93oc

Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/11/doria-preve-subsidio-em-reestruturacao-da-carreira-de-professor.shtml

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RAQUEL SILVANO ALMEIDA. Professora Adjunta da Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR, campus de Apucarana. Docente do Curso de Licenciatura em Letras Inglês da Unespar. Possui graduação em Letras Português-Inglês pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Especialização em Ensino de Língua Inglesa pela UEM. Aperfeiçoamento em Tecnologia Educacional pela Universitat de Les Iles Baleares, Espanha. Mestrado em Educação pela UEM. Doutorado em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Coordena projetos de formação (inicial e continuada) de professores de língua inglesa nos contextos da educação básica pública e educação não formal. Coordena o Subprojeto Interdisciplinar Língua Inglesa e Artes Visuais do Programa Residência Pedagógica (em parceria com o Campus de Curitiba I). Publicou, em 2020, o livro "Globalização do Inglês: impactos mercadológicos e reflexos na formação de professores no Brasil", pela Pontes Editores. Suas áreas de pesquisa e interesse: formação de professores de línguas nos campos político, pedagógico, tecnológico e na perspectiva teórica da pedagogia histórico-crítica.

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