“Exausto
Eu quero um licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
Adélia Prado em Bagagem, fl. 26.
Agradeço o silêncio, o repouso, a falta do que fazer.
Prezo a música profunda das Galáxias em movimento, que não sei se soa, mas brilha.
Mas as raízes nos doem mesmo. Por elas ficamos fincados ao chão e ligados à terra, e a outras raízes.
A semente, penso ser algo além do grão, o início de tudo, o vazio silencioso e mórbido de uma tarde de sábado em que todos dormem.
Menos eu.
Por mais exausta que esteja, resisto acordada, por medo de deixar escapar o lapso de tempo em que o enigma se revela e os cansaços chegam ao fim.
Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito (em homenagem à Tônia Carrero, que morreu ontem).