É a cultura que nos permite estabelecer a teia de significados da realidade, por meio das práticas do trabalho, das crenças, modos de viver de cada comunidade, compartilhamento dos sonhos e aspirações. Constituídos deste acúmulo de ações e acontecimentos culturais cotidianos, desta somatória do que nos individualiza e também nos torna gregários, da permanente e cotidiana vivência cultural, podemos conviver de forma sustentável e realizadora.
O contato com agentes e informações culturais de qualidade é base segura para a ampliação do universo dos jovens estudantes, para as muitas revoluções que farão no seu mundo e nas suas vidas; para a liberdade de pensamento e desenvolvimento da criatividade nos seus desempenhos profissionais. E também para o exercício livre e profícuo da cidadania.
Neste propósito, o UniBrasil Centro Universitário sedia uma exposição de obras de Poty Lazzarotto, cedidas pelo Solar do Rosário, que é um espaço particular, vivo e atuante de arte e cultura, e tem por objetivo regimental a promoção da cidadania através da difusão da arte e da cultura no Estado do Paraná.
Napoleon Potyguara Lazzarotto, conhecido como Poty, foi desenhista, gravurista, ceramista e muralista. Sua importância para as artes plásticas brasileiras, em especial as paranaenses, pode ser constatada em um passeio por Curitiba, mesmo quem não o conhece tem contato quase diário com suas obras murais, são mais de quarenta: o frontão do Teatro Guaíra, painel da praça 19 de dezembro, no Centro Histórico, e muitas outras em vários lugares da nossa e de outras cidades.
Quem circula pela região do Alto da XV, passa por um de seus painéis à frente do reservatório elevado da Sanepar, que representa a evolução do saneamento básico no Paraná; da mesma forma, no Aeroporto Afonso Pena há outro intitulado “o eterno sonho” que retrata o voo do homem, de Ícaro à viagem espacial. O estilo de Poty é característico e, embora pareça simples, inimitável.
Ele realizou também obras de menores dimensões e de qualidade excepcional, algumas de suas melhores gravuras estarão em exposição no espaço acadêmico. Em 2014 algumas de suas obras foram tombadas pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico e reconhecidas como Patrimônio Cultural do Paraná. Tais obras estão localizadas em áreas públicas, como os painéis do Palácio Iguaçu e Teatro Guaira.
Poty ilustrou obras de grandes escritores brasileiros, como Guimarães Rosa e Dalton Trevisan. No caso de Dalton, a parceria vem desde os anos 1940 com a histórica Revista Joaquim, e pode-se afirmar que tanto Dalton quanto Poty são representantes inequívocos de uma maneira de ver a cidade de Curitiba e seus arredores, com os casais em guerra permanente do “Vampiro” expressando modos de avir e desavir característicos e, da mesma forma, as paisagens urbano-bucólicas de Poty, seus carroções de “verdureira italiana”, seus santos e personagens históricos, as paisagens que todos conhecemos e amamos retratadas de modo pessoal e, afinal, universal. Poty e Dalton se completam e nos revelam a cidade em que moramos e, também, quem somos.
Todo fato cultural é antes de tudo um fato, torna-se discurso, ação ou objeto após ser processado e catalisado por uma pessoa, grupo de pessoas, ou uma nação. Depois, numa imbricação interessante e, quase sempre, instigante, produz novos fatos, ações, discursos e objetos. A melhor arte é a que reflete de modo inequívoco o fenômeno primordial, expressando-o segundo uma visão nova, peculiar, até revolucionária. A boa cultura tem compromisso com sua origem, e obrigação com a visão que desperta. Disponibilizar o melhor aos nossos jovens certamente contribuirá para sua formação.