O SUICÍDIO: ASPECTOS TEÓRICOS, CLÍNICA E PREVENÇÃO, NO UNIBRASIL

Que tipo de sociedade é esta, em que se encontra a mais profunda solidão no seio de tantos milhões; em que se pode ser tomado por um desejo implacável de matar a si mesmo, sem que ninguém possa prevê-lo? Tal sociedade não é uma sociedade; ela é, como diz Rousseau, uma selva, habitada por feras selvagens (MARX, 2006, p. 28).

“Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio tem ocasionado um total de 800.000 mortes por ano. O suicídio tem incidência maior nos países de baixa e média renda, mas também ocorre em países onde a população tem uma renda geral considerada elevada. O Brasil, desde a década de 1960, tem convivido com um aumento constante nas mortes por causas externas. O suicídio atualmente ocupa o terceiro lugar nesse ranking, ficando atrás, respectivamente, dos homicídios e dos acidentes de trânsito.

Uma das causas mais frequentes é a depressão, seguido do abuso emocional na infância, que produz cerca de 322 milhões de morte por suicídio. O Brasil, tem destaque nos casos de depressão no mundo, sendo o país com maior número de pessoas depressivas na América Latina e o quinto maior do mundo em casos de depressão, totalizando cerca de 11,5 milhões de casos.

O suicídio para Durkheim

Émile Durkheim é considerado um dos pensadores mais importante nos estudos da Sociologia, este autor  elabora um estudo detalhado sobre o suicídio. Em sua pesquisa sobre o fenômeno, o autor buscou responder à seguinte pergunta: Por que o suicídio é um fato social que interessa ao cientista social?

Durkheim sustenta a afirmação de que o suicídio não é uma causa individual, mas sim uma causa social, segundo ele cada sociedade tem em sua história um conjunto de indivíduos dispostos ao suicídio, onde essa disposição deve ser estudada não apenas pelos fenômenos orgânico-psíquicos ou do meio físico no qual os indivíduos estão situados, mas segundo as causas sociais que geram os fenômenos coletivos.

O suicídio em Karl Marx

Karl Marx, era um autor com uma abordagem que abarcava várias áreas do conhecimento e, acima de tudo, uma abordagem crítica que fazia um ataque ferrenho ao modo de produção capitalista e todas as suas instituições e relações sociais. Marx também se interessou por esse tema e escreveu um ensaio chamado Sobre o Suicídio.

A intenção de Marx ao publicar esse ensaio, era apontar “as contradições e os contra-sensos da vida moderna, não apenas nas relações entre classes específicas, mas também em todos os círculos e configurações da hodierna convivência”.  Nesse sentido, ele estava preocupado em demonstrar nos casos de suicídio que pesquisou, que o problema não está em um ou outro caso de morte por essa causa, mas sim na sociedade capitalista e em suas relações sociais como um todo.

“Suicide ( Purple Jumping Man)”, serigrafia de Andy Warhol, 1963, Museu de Arte Contemporânea de Teerã. Fonte da imagem: https://fineartamerica.com/featured/suicide-purple-jumping-man-andy-warhol-roberto-morgenthaler.html

 

O suicídio para a Psicanálise

Por que a morte se apresenta como única saída para alguns sujeitos? Quem é esse sujeito que decide morrer? Enquanto psicanalista, que ética seguir diante do anúncio de um paciente de que vai se matar? A morte pode esperar por uma análise?  

Soraya Carvalho, psicanalista, autora do livro A morte esperar? (2014) aborda o suicídio como uma manifestação humana, uma carta na manga que pode ser usada quando a vida se torna insuportável. Um modo de lidar com a dor de existir. O ser falante, ou falasser, é o único ser vivo que atenta contra a própria vida, que faz da morte uma escolha. Para a autora, o homem só suporta a vida porque tem na morte uma escolha, o que a torna suportável.

O homem suporta a vida pela possibilidade que dispõe de matar-se. A morte é o que torna a vida possível. A vida é real e a morte simbólica, e se o real é o impossível, viver é o exercício da impossibilidade. E o suicídio é uma escolha capaz de dar um significado à vida quando ela chega ao limite da impossibilidade.

Referências:

ALMEIDA, Felipe Mateus deO Suicídio: Contribuições de Émile Durkheim e Karl Marx para a compreensão desse fenômeno na contemporaneidade.
Disponível em:
http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/aurora/article/view/7306

CARVALHO, Soraya A morte pode esperar? Clínica psicanalítica do suicídio. Salvador: Associação Campo Psicanalítico, 2014.
Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-157X2015000200022

Para responder a essas e tantas questões sobre esse fenômeno além das formas de prevení-lo o UniBrasil, Centro Universitário, em Curitiba, PR.  está oferecendo o curso de extensão: O Suicídio, aspectos teóricos, Clínica e Prevenção com o professor Célio Pinheiro*, e os detalhes do curso se encontram no cartaz abaixo.

*Célio Pinheiro é Psicanalista e Antropólogo. Formado em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná em 1993. Tem Mestrado em Antropologia Social pela UFPR. Experiência clínica em consultório psicanalítico e trabalhos com Grupos e equipes profissionais.  Atuação nas seguintes áreas temáticas: Psicanálise, Antropologia da saúde, Saúde Coletiva, Saúde Mental, estudos sobre adoecimento psíquico. Trabalhos preventivos e de combate à depressão, melancolia, suicídio e respectivos projetos de prevenção. Ministra cursos de formação em Psicanálise e cursos de extensão em Universidades. Participa de Projetos de Saúde Preventiva e Saúde Mental. Coordenador do projeto Cinema e Psicanálise.

http://cursosdeextensao.unibrasil.com.br

 

O JEITINHO BRASILEIRO E O SISTEMA EDUCACIONAL

Em qualquer sociedade humana, e não apenas na brasileira, a diferença entre o que é preconizado legalmente e a prática concreta, quando esta não pode ser expressamente caracterizada como fora da lei, mas também não constituiu exatamente a ideal, é denominada “jeitinho”, e aparentemente somos os campeões da modalidade.

A VIOLÊNCIA DIFUSA NA ESCOLA…

O sociólogo Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia moderna e um dos pilares dos estudos sociológicos atuais, considerava o crime como de certa forma inerente à comunidade humana, um fenômeno social normal, não constituindo, portanto, uma característica patológica. Ainda assim, percebia-o como “ruptura com a consciência coletiva”, em função do que sofre punição pela lei penal.

É preciso lembrar que durante muito tempo a justiça foi ministrada por grupos, tribos, famílias, sendo pouco mais do que simples vingança; porém, com a concentração da função de vigiar e punir nas mãos do poder estatal, houve tendência forte de redução da violência descontrolada.

No entanto, um dos sintomas da falência do Estado é a ocorrência de linchamentos, quando os cidadãos voltam a “tomar a justiça nas próprias mãos” e punem pessoalmente quem cometeu, ou é suspeito de cometer, crimes como roubo, estupro, assassinato, violência, assédio, que deveriam ser investigados, julgados e punidos pelos sistemas policial e judiciário; infelizmente, parte da sociedade parece ter perdido a confiança de que isso acontecerá de fato.

No calor de momentos dolorosos ou situações revoltantes, pessoas normalmente tranquilas deixam-se conduzir por um sentimento de “manada”, basta que alguém grite que o acusado deve apanhar para que a multidão comece o espancamento, e até a morte. É evidente que mesmo os culpados não devem ser tratados desta maneira, e muito menos os inocentes como é comum acontecer, bastando a semelhança com quem supostamente cometeu o delito, o azar de estar próximo ao local do crime e, mais absurdamente ainda, não ter a aparência ou o comportamento que o grupo atribui aos inocentes.

Na Idade Média, parteiras, viúvas ou mulheres menos conformistas foram queimadas como “bruxas”, passados seis séculos do fim daquele período histórico é mais do que hora de pararmos com esse procedimento bárbaro.

Além destes episódios mais localizados, temos assistido também àquilo que podemos chamar de violência difusa nas sociedades do século XXI. Violência que tem sido legitimada precisamente por uma consciência coletiva, e justificada de várias maneiras, quase que constituindo uma norma social, por mais controvertida que pareça aos estudiosos da área.

Fonte: http://fundacaotelefonica.org.br/wp-content/uploads/2016/06/estudante-alvo-violencia-700-carlos-latuff.jpg

Por representar uma inversão do que poderíamos chamar de processo civilizatório, tem sido difícil ao Estado contemporâneo o enfrentamento desta questão, que modifica as interações sociais para formas violentas de sociabilidade, já que representa a perda do monopólio da violência legalizada, que desde o final do século dezenove parecia seu atributo exclusivo.

A fragmentação social, o desprestígio da possibilidade de soluções institucionais, a perda da solidariedade, a certeza de que certos problemas não têm solução, nos trazem o acirramento da pobreza, exclusão, meio ambiente degradado, discriminações de gênero e raça, que, entre outras brutalidades generalizadas, destroem o vínculo social, não permitindo a visão do outro como sujeito de direitos.

Tais agressões constituem uma perda do conceito de cidadania, escapando da área jurídica ao consolidar padrões de conduta divergentes e incompatíveis, em contraponto às normas civilizadas, caracterizadas por autocontrole e controle social institucionalizado.

Em vários ambientes, mas particularmente nas escolas, que refletem todas as características de nossa sociedade, boas ou ruins, instala-se a prática da violência como busca de justiça, a ação punitiva individual e o fortalecimento da cultura de “ganhadores ou perdedores”, que acentua o individualismo competitivo, o hedonismo e a ideia corrente do “tudo ao mesmo tempo, aqui e agora”.

O processo ensino-aprendizagem não é instantâneo, exige maturidade, reflexão e solidariedade, sendo, portanto, a antítese da selvageria e crueldade.