A propaganda do Regime Nazista

Heloisa Coli Bizzoto 

Vanessa Carolina 

Pedro Henrique Rocha Saraiva

Discentes Universidade Federal do ABC

Ana Maria Dietrich

Historiadora e docente Universidade Federal do ABC

Durante o  III Reich (1933-1945), o Partido Nacional Socialista da Alemanha desenvolveu suas atividades guiando-se por princípios racistas, anti-semitistas, nacionalistas e autoritários. As atrocidades cometidas pelo regime nazista eram de conhecimento público, tanto da população alemã quanto da opinião pública internacional, como apontou Lenharo. A propaganda foi parte essencial do nazismo, possibilitando que o regime conquistasse o apoio e a simpatia das massas. Em seu livro “Minha Luta”, Hitler revela a importância dada à propaganda:

“[…], sempre me interessou vivamente a maneira por que se fazia a propaganda da guerra. Eu via nessa propaganda um instrumento manejado, com grande habilidade, […]. Compreendi, desde logo, que a aplicação adequada de uma propaganda é uma verdadeira arte, […]” (HITLER apud Pereira, Wagner, 2008, P. 44)

A propaganda nazista esteve presente nos diversos aspectos do cotidiano do povo alemão, incluindo a arte, a educação, a arquitetura, o cinema e até mesmo os esportes. A dimensão social pela qual se estendeu o regime nazista é compreendida através do contexto de crise econômica vivida pelo povo alemão na época, da violência e a repressão impostas à sociedade, e também através da propaganda, que seduziu e fidelizou muitos cidadãos alemães.

“O Triunfo da Vontade”(ilustração 1 e 2), filme produzido em 1934 e dirigido pela cineasta Leni Riefehnstal(ilustração 3), revela a essência da propaganda nazista. Neste documentário, o Ministro da Propaganda, Joseph Goebels, afirma que “pode ser bom possuir o poder baseado na força, mas é melhor ganhar e segurar o coração das pessoas”. A motivação para esta pesquisa envolve a compreensão da força da propaganda nazista nesta missão bem elucidada por Goebbels, que pôde conquistar grande apoio popular nas décadas de 30 e 40 apesar da triste ideologia racista e higienista e de todos os horrores cometidos.

Totalitarismo, antissemitismo, propaganda do terror e características do fascismo

Numa perspectiva de compreender as bases do desenvolvimento abundante de material de propaganda no regime nazista se faz indispensável citar o pensamento da filósofa política alemã, Hannah Arendt, sobre antissemitismo e totalitarismo. Em “A Origem do Totalitarismo”, Arendt retoma as origens do antissemitismo como correlatas à formação dos Estado-Nação na Europa, tal desenvolvimento traz consigo a eclosão dos primeiros sinais de nacionalismos que pouco a pouco se mostram cada vez mais contrários à característica essencialmente cosmopolita dos judeus e além de também nutrir uma constante desconfiança com o caráter mais restrito que os grupos judaicos e de sua cultura em geral possuem (ilustração 4).

Para Arendt, o advento do Imperialismo retirou o domínio dos judeus do ramo de financiamentos, pelo qual ficaram conhecidos. Tal fato teria obrigado grande parte da comunidade judaica a se especializar em diversas ocupações, sobretudo de profissionais liberais, no início do século XX. Dessa forma, quando não eram vistos como exploradores devido à prática de empréstimos bancários, eram vistos como culpados pelo desemprego dos “reais” alemães. Resumindo, qualquer que fosse a mazela em questão, as chances de que os judeus fossem culpados era grande, ou seja, o antissemitismo ressurge com força em situações de crise de representação e estabilidade nacional, sendo por isso usado exaustivamente nas propagandas ideológicas nazistas.

Além disso, o momento histórico entre o final do século XIX e primeira metade do século XX estava muito influenciado pelas teorias racialistas, como a idealizada por Gobineau, que afirmava que a miscigenação seria a desgraça de uma civilização, e que somente a eugenia poderia elevar a humanidade. Junto a essas ideias, a destruição, a instabilidade dos estados europeus, os centenas de milhares de apátridas, após a Primeira Guerra Mundial, foram fatores que lançaram grande parte da Europa no totalitarismo, no caso de uma Alemanha humilhada, afundada em dívidas tal tendência foi ainda mais potencializada. Por fim, devemos relembrar a ideia de totalitarismo de Hannah Arendt, para a pensadora um regime totalitário seria baseado na dominação total através de uma ideologia e da propagação do terror e do medo como instituição e mantenedor do poder, isolando os indivíduos e retirando qualquer força para agir contrariamente. O terror é então, sem dúvidas, o principal instrumento de propaganda nessas condições em que um grupo seleto tentar destruir toda e qualquer ameaça ao seu status de líder.

Ademais, devemos mencionar também o trabalho do historiador e cientista político brasileiro, Francisco Carlos Teixeira, acerca das características do fascismo. Primeiro de tudo deve-se evitar a visão de que o fascismo seria um acidente histórico restrito ao período entre guerras, segundo muitos autores tal ideia é equivocada, já que o fascismo pode ser visto como um fenômeno da sociedade, além de uma época e um lugar específico. Mesmo que existam aspectos essencialmente ligados a certos países, como o caso do nazismo na Alemanha, a universalidade do fascismo enquanto fenômeno se mantém.

Teixeira faz uso da definição de fascismo de Wolfgang Schieder para elucidar melhor tal universalidade e a vastidão conceitual do fascismo:“…se reconhece como fascistas movimentos nacionalistas extremistas de estrutura hierárquica e autoritária e de ideologia antiliberal, antidemocrática, e antisocialista .” (Schieder apud Teixeira, 2002, pg. 118). Portanto, é característico do fascismo a construção da imagem do Estado como responsável pela união e estabilidade nacional e como sendo o único apto a reerguer moralmente um povo, detentor máximo de poder , além também da necessidade da canalização de todo esse poder à imagem de um líder supremo que sintetize a ideia de uma pacto nacional. Vale ressaltar que os movimentos fascistas procuram se apresentar como uma terceira via, isto é, avessa tanta ao liberalismo quanto ao marxismo.

Por último, Teixeira destaca a busca de um inimigo da nação e os pretextos medíocres usados pelo regime nazista e aceitos também pela população alemã que levaram a perseguição não só dos judeus, mas também dos comunistas, ciganos, homossexuais, negros e estrangeiros. Uma das motivações de intolerância além das características cosmopolitas, dos idiomas diferentes, das relações com partidos políticos , era a de que todos esses grupos fossem formadores de associações em que os indivíduos partilhavam de muita cumplicidade entre si e que poderiam estar conspirando contra o regime e à unidade nacional alemã. Ou seja, tudo que parecesse antinacional era objeto de perseguição e ódio, é nessa perspectiva que o grande volume de propagandas nazistas foi idealizado e disseminado por toda Alemanha, sendo esse o foco escolhido de nossa pesquisa.

A propaganda política no regime nazista

Como bem colocado por Pereira, a propaganda política consolidou-se com os avanços tecnológicos dos meios de comunicação, entre as décadas de 1920 e 1940. Em qualquer regime a propaganda política é utilizada como um instrumento de sedução, em busca de adesões políticas. O diferencial dos fascismos em relação aos demais modelos é a censura ou o monopólio dos meios de comunicação, que permite que o Estado obtenha, além do controle da força física, o controle também da força simbólica (ilustração 5).

Bortulucce aponta que a estética nazista é moldada de forma simples e dirigida às massas, com mensagens de fácil compreensão e que despertam emoções e sentimentos, envolvendo a dicotomia entre o amor eo ódio. A força da propaganda nazista estava também em atuar sobre a auto-estima nacional, que à época estava fortemente abalada pelo contexto de grande crise econômica e da derrota na 1ª Guerra Mundial.

As ideias estavam presentes no cotidiano popular em várias maneiras distintas, sendo repetidas diariamente. A propaganda passava pelos estandartes, pelos hinos, pelos uniformes militares e até mesmo pelas saudações. Os símbolos adotados pelo regime nazista também eram de grande importância: a suástica representa fonte de vida e a águia com asas levantadas representa a força e o poder idealizados pelo regime.

Até mesmo o militarismo representou um importante elemento estético. O uniforme e toda a pompa militar reforçaram a imagem de força e poder que o regime nazista buscava passar para a população. Na arquitetura, desenvolveram-se grandes projetos, que visavam construir uma Alemanha gloriosa (ilustração 6). A arte se dividia entre as representações de Hitler e seus oficiais, as representações de importantes momentos do III Reich e as artes clássicas, com o aspecto de perfeição tão apreciado pelo regime nazista. I

A imagem do Führer era muito importante e tratada com cuidado, sendo este representado principalmente pelo fotógrafo Heinrich Hoffman (ilustração 7) e a Leni Riefehnstal. Sobre isto, Bortolucce demonstra que

“Hitler posiciona-se nos palcos e palanques com o corpo ereto, a voz forte, o gesto enérgico, e no, entanto, controlado. […] Sempre ocupa uma posição privilegiada no plano da filmagem e no enquadramento fotográfico; a câmera se detém nele e nunca se apressa, em nenhum momento do espetáculo.” Bortolucce, 2008, p. 62-63

Propaganda política aplicada ao cinema

Um dos principais veículos de propaganda nazista foi o cinema. Pereira aponta que desde a 1ª Guerra Mundial já havia se iniciado o interesse pela propaganda política através do cinema e que até mesmo a ascensão de Hitler estaria fortemente relacionada a essa mídia. É importante destacar que o cinema foi um importante instrumento político não só para os fascismos, mas também para os regimes democráticos.

Conhecer o cinema nazista é essencial para a compreensão da propaganda política desenvolvida nesse período, uma vez que esse foi o veículo de comunicação que recebeu os maiores investimentos governamentais. A relação do Führer com o cinema já existia antes mesmo de sua chegada ao poder:  A Universum Film Aktien Gessellschaft, mais conhecida como Ufa, através de Alfred Hugenberg, veiculava cinejornais que contribuíram para a construção da imagem do nazismo e do próprio Hitler, contribuindo para um bom desempenho do partido nas eleições.

Esse fato revela que, desde o início, o regime nazista já conhecia o poder de mobilização das massas contido no cinema e refletido na intensa produção do período: foram 1350 filmes desenvolvidos nos 12 anos do III Reich. Nem todas as produções cinematográficas do período eram propaganda política clara: muitos apresentavam características ideológicas bastante sutis e passavam como forma de entretenimento.

Os filmes desenvolvidos nos anos 30, por sua vez, eram bastante partidários e patrióticos, como objetivo de atrair a juventude para a militância nazista. Os ideais nazistas eram vistos de forma maniqueísta, como uma disputa entre o bem e o mal. Para construir a imagem do inimigo, os judeus eram representados de formas depreciativas, muitas vezes associados a insetos e animais parasitas. Outros povos também foram representados de forma negativa, como os polacos, tchecos, russos e até mesmo os ingleses, após a guerra. É importante destacar que essa representação do inimigo ocorria também em filmes de entretenimento, de forma sutil.

Algumas produções nazistas se destacaram tanto por sua qualidade cinematográfica quanto pela demonstração nacionalista nelas contidas. O Triunfo da Vontade e Olympia, ambas da cineasta Leni Riefenstahl, são as mais conhecidas do público. O Triunfo da Vontade, de 1935, foi o último a exaltar o Fuhrer de forma direta e tinha o objetivo de representar o 6º Congresso do Partido Nazista, realizado em 1934 em Nuremberg. Ainda assim, parte de suas imagens não são do Congresso pois foram encenadas, de maneira a mostrar uma forma de organização perfeitamente bela. Olympia, estreado em 1938, foi realizado com o propósito de ser um documentário dos Jogos Olímpicos de Verão de 1936, sem que deixasse de exaltar o regime nazista. Ainda assim, exalta o regime nazista e seus ideias, de forma a demonstrar a força e a beleza da sociedade ariana.

O filme “Der Ewige Wald” (A Floresta Eterna), de 1936, foi construído como uma propaganda ideológica da necessidade do Espaço Vital, essencial na ideologia nazista, ao demonstrar de forma lúdica a relação entre o povo alemão e a terra na figura da floresta. O filme ainda mostra a civilização alemã como uma raça superior, que se perpetuará pela eternidade.

Uma das histórias mais interessantes é  do filme  “Ich klage an“ (Eu acuso), de 1941, que revela que o cinema servia também como uma espécie de termômetro popular para o regime nazista. Esse filme teve como objetivo testar a reação nacional frente a uma proposta de lei que autorizava a eutanásia, uma vez que parte da política higienista do regime nazista se voltava também contra deficientes físicos e portadores de doenças incuráveis. A comoção em torno da morte da protagonista indicou que a sociedade não aceitaria esse tipo de lei, de forma que essas atividades foram desenvolvidas clandestinamente.

Mesmo durante a 2ª Guerra Mundial, o cinema manteve sua importância, representando fonte de informação e de entretenimento. Eram apresentados cinejornais de guerra, os Die Deutsche Wochenschau (Noticiário Alemão), com imagens das batalhas enfrentadas pelos militares. Os documentários militares eram claras propagandas políticas e considerados educacionais para os alemães. Os filmes ficcionais passavam-se no contexto da guerra e realizavam a propaganda política de forma um pouco mais discreta. Os filmes históricos, por sua vez, exaltavam o passado alemão como uma forma de energizar o povo alemão e motivá-los para a guerra.

Um dos últimos filmes nazistas produzidos foi o histórico Kolberg, de 1945, que retratava a resistência do povo alemão na cidade de Kolberg, durante o período napoleônico. O filme recebeu muitos recursos e contou com muitos atores, já colorido e considerado uma super produção. Realizado entre 1943 e 1944, teve seu lançamento em Janeiro de 1945. Essa é a parte mais interessante, uma vez que, nesta data, a guerra já estava praticamente perdida: o Eixo havia colapsado e estava cercado pelos aliados, que já estavam fortalecidos desde 1944.

Essa circunstância reflete bastante a essência da propaganda e a importância da imagem no regime nazista, que sempre procura exaltar o povo alemão, a raça ariana, as produções nacionais e a história representada nos grandes feitos do passado. A propaganda nazista, presente do cotidiano popular de tantas formas diferentes e com tanta intensidade, foi essencial para que o partido nazista obtivesse tanto apoio popular e propagasse sua ideologia de forma tão expressiva nos 12 anos em que estiveram no poder.

 

 Conclusão

A principal contribuição desta pesquisa é a exposição, de forma simples e bastante ilustrada, da extensão da máquina da propaganda nazista, que permeava todo o cotidiano da sociedade alemã. Estimular o leitor a pensar quais os impactos das ações nazistas em contraposição à sua forma de fazer arte, cinema, arquitetura e até mesmo fotografia na contemporaneidade é fundamental para refletir sobre a responsabilidade popular e a força das ideias.

Como foi observado, a presença dos símbolos na escala de prédios e a ideologia por trás de um filme manipula a opinião pública de forma até mesmo surpreendente. Estas lições, já conhecidas um século atrás, são utilizadas na atualidade de forma massificada, portanto permite que façamos mais do que relembrar a história, permite repensarmos nosso cotidiano e nossa realidade.

É de fundamental importância frisar que a propaganda, tal como conhecemos contemporaneamente, não foi criada pelos Nazistas, mas  neste regime ela é massificada, instrumentalizada e universalizada com grande potência, possivelmente favorecida também pelo

fascismo e pela monopolização dos meios de comunicação.

Desta maneira, não se fala de Nazismo sem citar a propaganda, que foi parte da base estruturante do regime nazista, que dominou a Alemanha de 1933 a 1945. Todavia, mais que a dimensão atingida pelos instrumentos para manipulação social, este regime é a prova histórica que mecanismos de manutenção da democracia nos meios de comunicação são fundamentais para não se conduzir sociedades inteiras à regimes violentos, racistas, higienistas e totalitários, como foi o regime nazista.

 

6. Referências Bibliográficas

ARENDT, Hannah, As origens do totalitarismo, anti-semitismo, imperialismo e totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

 

BORTULUCCE, Vanessa Beatriz. A arte dos regimes totalitários do século XX. Rússia e Alemanha. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008.

 

LENHARO, Alcir. Nazismo: o triunfo da vontade. São Paulo: Ática, 1986. p. 7-11. v. 94.

 

PEREIRA, W. P. Cinema e propaganda política no facismo, nazismo, salazarismo e franquismo. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 38, p. 101-131, 2003. Editora UFPR. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/historia/article/view/2716/2253>. Acesso em 10 de outubro de 2017.

 

PEREIRA, Wagner Pinheiro. O Poder Das Imagens – Cinema e Política Nos Governos de Adolf Hitler e Franklin D. Roosevelt (1933-1945). Edição 1, 2012. Alameda Casa Editorial. Parcialmente disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=iFsqDwAAQBAJ&pg=PT37&lpg=PT37&dq=wagner+pinheiro+nazismo&source=bl&ots=MKzFBCVpgb&sig=btjX3S5dq1ubOOCC2e47dcBg3MY&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiQ14XSpubWAhWDWpAKHUMCCEE4ChDoAQhCMAo#v=onepage&q=wagner%20pinheiro%20nazismo&f=false>. Acesso em 18 de outubro de 2017.

 

PEREIRA, Wagner Pinheiro. O império das imagens de Hitler: o projeto de expansão internacional do modelo de cinema nazi-fascista na Europa e na América Latina (1933-1955). Tese (Doutorado em História Social). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-29092008-172531/pt-br.php>. Acesso em 10 de outubro de 2017

 

SOUZA G., SEVERINO L. e DANTAS S. A Segunda Guerra e a Propaganda Nazista. 2012. Disponível em: <http://www.fca.pucminas.br/omundo/a-segunda-guerra-e-a-propaganda-nazista/> Acesso em 15 de outubro de 2017

 

TEIXEIRA, F. Os fascismos. Século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: 2002.

 

United States Holocaust Memorial Museum. O Terceiro Reich: Visão Geral. Disponível em:

<https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005141> Acesso em 12 de outubro de 2017.

[1] LENHARO, Alcir. Nazismo: o triunfo da vontade. São Paulo: Ática, 1986. p. 7-11. v. 94.

QUEM É O CULPADO PELO HOLOCAUSTO?

Por Renata SIUDA-AMBROZIAK*

Durante a II Guerra Mundial, a minha terra tornou-se o palco da maior carnificina que se pode imaginar. Em cada esquina morreram dezenas, centenas, ou milhares de pessoas. Essa situação de praticamente cada um de nós, poloneses, ter perdido os familiares tem a ver muito com a memória da Guerra e do Holocausto na Polônia e com as controvérsias recentes ligadas às mudanças na narrativa e no discurso internacional sobre a II Guerra Mundial em geral e o Holocausto em particular.

Parece que por razões ideológicas, econômicas e políticas, as interpretações do crime contra a humanidade que aconteceu nos tempos da guerra estão começando a ser desenvolvidas de maneiras novas, surpreendentes e, ao mesmo tempo, bem perturbadoras. Especialmente quando aparecem as tentativas para explicar o Holocausto pela “coautoria” dos poloneses e aparece no discurso diplomático a expressão “campos de concentração poloneses”.

Vejamos simplesmente os fatos – o Holocausto foi planejado e preparado pela Alemanha nazista, mas executado na Polônia ocupada. Antes da guerra a Polônia gozava da maior concentração de judeus na Europa e da segunda maior do mundo, depois dos Estados Unidos. Foi decerto precisamente por causa da numerosa população judaica na Polônia que os locais de extermínio foram estabelecidos pelos nazistas no território polonês. Mas o Holocausto foi institucionalmente organizado e sistematicamente levado a cabo pelos alemães nazistas.

A II Guerra Mundial eclodiu com a agressão da Alemanha nazista na Polônia, em 1 de setembro de 1939. Em 17 de setembro de 1939, segundo o Tratado de Ribbentrop-Molotov, também as tropas soviéticas invadiram a Polônia, colaborando perfeitamente na destruição do país com os nazistas. Nas terras polonesas sob ocupação soviética, os judeus, junto com os poloneses, foram enviados aos campos de trabalho penais ou brutalmente executados com tiros covardes na cabeça dos prisoneiros desarmados (Katyn, Miednoye).

Ainda em 1939 os nazistas começaram a criar no território polonês ocupado as grandes concentrações de judeus nos guetos urbanos (o maior – de Varsóvia com 400 mil pessoas) e a estabelecer os primeiros campos de concentração (primeiro Stutthof, e em 1940 Auschwitz – uma verdadeira fábrica de morte com câmaras de gás e crematórios, onde se matavam até 20 mil pessoas diariamente, usando Zyklon-B e monóxido de carbono).

Naquele tempo os poloneses já tentaram fazer o alarme sobre o que estava acontecendo, passando informações precisas sobre o Holocausto para os aliados. Infelizmente, sem resultados. Havia voluntários poloneses que entravam nos campos de concentração nazistas para descrever a realidade, mas naquele tempo ninguém ouvia. Mais até − alguns governos europeus colaboravam tranquilamente com o III Reich do Hitler…

Ilustração de Jacek Yerka (Toruń – Polônia)

 

Em 1941 foi emitido pelos nazistas um decreto sobre a aplicação da pena de morte aos poloneses que ajudavam aos judeus a sobreviver, por exemplo escondendo-os nas suas casas − em nenhum outro país ocupado pelos alemães estava em vigor uma lei tão rigorosa como na Polônia. Logo depois, em 1942, apareceu o plano para a “solução final da questão judaica na Europa” − o extermínio em massa da população judaica nos campos de concentração na Polônia.

Ao mesmo tempo o Dr. Josef Mengele começou os seus experimentos médicos criminosos no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, e os alemães nazistas começaram a liquidar os guetos e a deportar os seus habitantes aos campos de concentração. Em 19 de abril de 1943, começou a revolta armada dos judeus no gueto de Varsóvia − um gesto de desespero contra a sua liquidação. O levante durou até 8 de maio de 1943. Depois de sufocar brutalmente a revolta, os nazistas proclamaram oficialmente o Terceiro Reich “limpo de judeus”.

No dia 24 de julho de 1944, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, num só dia foram mortos cerca de 40.000 seres humanos. Foi um recorde na história da indústria nazista de morte. Em 1 de agosto de 1944 o exército subterrâneo polonês promoveu um levante em Varsóvia. Intensos combates com a Alemanha duraram até 2 de outubro de 1944, resultando na matança de quase 200 mil varsovienses. A cidade ficou quase completamente destruída.

Em 25 de novembro de 1944, Himmler ordenou explodir as câmaras de gás e os crematórios de Auschwitz-Birkenau e apagar os vestígios do assassinato em massa. Em 18 de janeiro de 1945 as tropas SS alemãs começaram a evacuar o campo − 66 mil prisioneiros foram levados para o Ocidente na “marcha da morte”, que matou mais de 15 mil seres humanos. Em 26 de janeiro de 1945 − tropas soviéticas, agora aliadas, libertaram o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, onde ainda havia 7.000 esqueletos-prisioneiros. Em 30 de abril de 1945 − Adolf Hitler cometeu suicídio no bunker em Berlim.

A guerra resultou na morte de mais de 6 milhões de cidadãos poloneses, dos quais 3 milhões eram judeus poloneses. Muitos deles sobreviveram graças à ajuda dos poloneses. Atualmente, o título de “Justo entre as Nações do Mundo”, outorgado àqueles que arriscaram conscientemente as suas vidas para salvar aos judeus, foi dado a mais de 6 mil cidadãos poloneses – o maior número entre todas as nações do mundo.

No entanto, o agressor que invadiu a Polônia em setembro de 1939, organizando o Holocausto de uma maneira fria, bem pensada e sistêmica, depois de 1945 teve uma chance do desenvolvimento democrático e econômico sem precedentes graças à situação da Guerra Fria. A Polônia ficou atrás da Cortina de Ferro, destruída, saqueada pelos alemães e soviéticos e traída pelos aliados, que a deixaram, depois de se ter aproveitado dos cientistas poloneses quebrando o famoso código de Enigma e dos milhares dos soldados poloneses lutando no Ocidente.

Entre eles os famosíssimos pilotos poloneses que defenderam Londres dos bombardeios dos nazistas, à  mercê de Stalin e da “democracia popular” proclamada pela União Soviética, vista pela maioria esmagadora da população como uma outra ocupação. As tropas polonesas, incluídas no exército aliado, nem foram convidadas para comemorar o final da II Guerra Mundial…

Mais ainda − a divisão entre “perpetradores e agressores” e “vítimas”, tão claramente visível durante e logo depois da guerra, cedeu agora lugar às discussões já não tão unilaterais. Por isso os poloneses reagem muitas vezes emocionalmente. No nosso olhar, a maneira como a II Guerra Mundial e o discurso do Holocausto estão sendo ultimamente apresentados parece absurda, concentrando-se nos poucos casos de colaboradores poloneses e omitindo a generalizada fraternidade dos poloneses e judeus na luta e a ajuda dos poloneses aos judeus durante o Holocausto, confirmada por pesquisas detalhadas.

As narrativas históricas comprovadas estão dolorosamente colidindo com os pontos de vista dos que frequentemente nem passaram pela ocupação alemã, mas acham que possuem o direito de colocar a culpa naqueles que em razão dela passaram pelo maior sofrimento…

Em tal situação torna-se cada vez mais difícil manter indiscutível a verdade sobre a Guerra e o Holocausto. Parece que agora a cada dia aumenta a tensão, provocando terremotos nas relações internacionais pela atitude estranha da “divisão da culpa pelo Holocausto” entre os agressores e as vítimas.

A Polônia perdeu na guerra quase 40% dos seus cidadãos, entre eles judeus. O destino dos judeus poloneses durante o Holocausto não foi algo único ou separável do destino da etnia polonesa em geral.  Mas agora fala-se antes de tudo sobre o antissemitismo na Polônia durante a guerra ou a indiferença dos poloneses em relação aos judeus fechados nos guetos ou nos campos de  concentração. Infelizmente, não mostrando os fatos acima expostos, por exemplo as punições com a morte aplicadas àqueles que aparentemente não sabiam mostrar essa indiferença, assim como a todos os membros das suas famílias… Ou a indiferença cruel dos aliados frente aos relatórios sobre o Holocausto providenciados pelos poloneses nos primeiros anos da Guerra.

Sim, com certeza houve aqueles poloneses que foram pagos pelos judeus pela ajuda. Houve outros que chantageavam e ameaçavam denunciá-los. Pessoas sem honra e sem vergonha. E os historiadores têm que se deparar com isso. E se deparam. Assim deveria ser. Porque em cada grupo há pessoas diferentes, decentes e indecentes. Nunca somos todos santos. Mas é difícil dizer, preservando a verdade histórica, que foram, na sua maioria, os poloneses que ajudaram no Holocausto ou que os campos de concentração eram “campos poloneses”, como se ouve hoje pelo mundo.

Os poloneses, na sua esmagadora maioria, nunca se renderam durante a guerra, nunca colaboraram com os nazis, contruindo o maior movimento de resistência aos ocupantes, jamais visto no mundo na forma de todo o Estado Polonês Subterrâneo e arriscando a vida dos seus familiares para salvar as vidas dos judeus, apesar de conhecerem bem demais as consequências das suas ações − são eles os mais numerosos entre os “Justos do Mundo”.

Por isso, as perguntas e as dúvidas estranhas que se ouvem agora sobre os poloneses, que, estando numa situação quase que igualmente precária, deveriam ter-se arriscado ainda mais para ajudar os judeus, mostram uma lógica bem perversa – em frases como “os nazistas não teriam aniquilado tantos judeus se os poloneses se tivessem oposto mais àquela matança”, uma vítima judia torna-se mais inocente e mais importante do que as outras, polonesas…. Mas somente aos olhos de Hitler os judeus constituíam uma categoria especial, e pensar desse modo equivale a aceitar a lógica dos assassinos nazistas.

A vida humana tem sempre o mesmo valor, independentemente da nacionalidade, religião, gênero, raça, nível de educação… Dizer que alguns valem mais e outros menos, que é preciso sacrificar uns para salvar os outros é mais uma barbaridade. “Não matarás!”. E ponto final. Assim nunca precisarás te justificar. E procurar “bodes expiatórios”.

Mas as tensões continuam voltando e reaparecendo, causando uma grande indignação na Polônia com a política histórica consciente, que quer livrar da responsabilidade pelo Holocausto os seus autores, criando uma imagem antissemita dos poloneses e repercutindo no mundo dos meios de comunicação de massa, com o aparecimento de expressões como “campos de concentração poloneses”. A ignorância histórica prejudica tanto a verdade como a sagrada memória das vítimas, tanto judeus como poloneses, conduzindo à relativização do crime hediondo da guerra e do Holocausto, inextricavalmente entrelaçados.

Por isso é um grande desafio para nós − não deixar esquecer as recordações e memórias, não deixar manipular os fatos históricos, não permitir que a verdade histórica se torne uma “verdade aplicada”, na qual foram os poloneses antissemitas que começaram a II Guerra Mundial, atacando a Alemanha, construíram sozinhos os campos de concentração para se aniquilarem a si mesmos, mataram-se a si mesmos nos levantes e tiroteios nas ruas.

Ainda mais, exterminaram a maioria da sua própria população de origem judia, que precisamente na Polônia, por muitos séculos, encontrou a paz, a estabilidade e as possibilidades de se desenvolver econômica e culturalmente, sem as perseguições ocorridas no resto da Europa. Não parece isso um absurdo total? Infelizmente, é assim a nossa “politicamente correta”, a nova “verdade histórica” sobre a Guerra e o Holocausto…

*Renata Siuda-Ambroziak, PhD
Vice-Diretora do Instituto das Américas e Europa na Universidade de Varsóvia
Professora de Estudos Latino-Americanos no Centro de Estudos Americanos, Grupo de Pesquisa sobre América Latina e Caribe
Editora-chefe da Revista del CESLA – Revista Internacional de Estudos Latino-Americanos (www.revistadelcesla.com)
Editora da Revista Brasileira de História das Religiões (http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RbhrAnpuh/index)
Professora Visitante e Pesquisadora Sênior da CAPES / Brasil, na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

https://uw.academia.edu/RenataSiudaAmbroziak
https://www.researchgate.net/profile/Renata_Siuda-Ambroziak

MEMÓRIAS DA GUERRA E DO HOLOCAUSTO NA POLÔNIA…

“Sim, é verdade, que na cidade de Varsóvia a cada dia pisamos na terra banhada em sangue – em cada esquina da capital – morreram dezenas, centenas, ou até milhares de pessoas.” (R.S.A.)

No dia 1º de Agosto, comemorou-se os setenta e três anos do Levante de Varsóvia, também denominado A Revolta ou Insurreição de Varsóvia (em polonês Powstanie Warszawskie), uma luta armada durante a Segunda Guerra Mundial na qual o Armia Krajowa (Exército Clandestino Polaco) tentou libertar Varsóvia do controle da Alemanha Nazista. A Coluna Polonaises também presta sua homenagem à data, trazendo o texto da profa. Renata Siuda-Ambroziak* e algumas fotos feitas em junho do ano passado, quando viajamos à Polônia e tivemos a oportunidade de visitar o Museu do Levante de Varsóvia**:

“As lutas foram travadas também no campus da Universidade de Varsóvia, a minha Alma Mater, aonde o grupo militar “Krybar” defendia, com a participação dos professores, estudantes e escoteiros, cada um dos edifícios universitários. Pensando das memórias, é sempre bom começar com os fatos – a II Guerra Mundial eclodiu com a agressão da Alemanha nazista na Polônia (1.09.1939). Ainda em setembro, segundo o Tratado de Ribbentrop-Mołotow, também as tropas soviéticas invadiram a Polônia, colaborando na destruição do país com os nazistas.

Durante a guerra o Holocausto foi planejado, institucionalmente organizado, preparado e sistemáticamente levado a cabo pela Alemanha nazista, antes de tudo na Polônia, que possuía a maior concentração de judeus na Europa e a segunda maior do mundo, depois dos Estados Unidos. Ainda em 1939 os nazistas começaram a criar no território polonês ocupado as grandes concentrações de judeus nos guetos urbanos (o maior em Varsóvia) e, logo depois, estabeleceram os primeiros campos nazistas de concentração (em 1940 uma verdadeira “fábrica” da morte de Auschwitz).

Em 1941 foi emitido um decreto sobre a aplicação da pena de morte àqueles que ajudavam aos judeus sobreviver, por exemplo escondendo-os nas suas casas – em nenhum outro país ocupado pelos nazistas estava em vigor uma lei tão rigorosa como na Polônia. Logo depois, em 1942, apareceu o plano para a “solução final da questão judaica” – extermínio em massa dos judeus de toda a Europa nos campos da concentração.

Os alemães nazistas começaram a liquidar os guetos e deportar os seus habitantes aos campos de concentração. A revolta armada no gueto de Varsóvia em abril de 1943 foi um gesto de desespero contra a sua liquidação – depois de apagá-la brutalmente, os nazistas proclamaram oficialmente o Terceiro Reich “limpo de judeus”.

Mas os judeus não foram as únicas vítimas da guerra e da barbárie nazista, especialmente no território polonês. Em 1º de agosto de 1944 o exército subterrâneo lançou um levante em Varsóvia. Intensos combates duraram dois meses, resultando na matança de mais que 200 mil habitantes. A capital ficou quase completamente aniquilada. Cada ano, no dia 1º de agosto, a cidade literalmente pára na Hora Zero – às 17 hrs. Para preservar a memória das vítimas, de todas as vítimas.

Depois de 1945 a Polônia ficou atrás da “cortina de ferro”, traída pelos aliados, que a deixaram à mercê de Stalin e a proclamada “democracia popular” pela União Soviética, vista pela maioria esmagadora da população como uma outra ocupação.

Assim, o debate público sobre a guerra e o Holocausto recomeçou a partir de 1989, na Polônia independente e os últimos anos os poloneses estão vivendo o “tempo de retorno”, um boom da memória, com as suas manifestações incluindo criação de novos museus nacionais que descrevem a história da guerra, os levantes heróicos, a experiência da ocupação (por exemplo o Museu do Levante de Varsóvia). Outra manifestação é o florescimento da pesquisa histórica e popularidade das reconstruções dos acontecimentos históricos, também aqueles mais dolorosos.

O peso da história é evidente no espaço público, onde foi erguida uma série de novos monumentos comemorativos das vítimas da Segunda Guerra Mundial, os heróis não reconhecidos depois da guerra pelo regime comunista e das vítimas do Holocausto. São renovados os bairros e cemitérios judeus e a história judaica é muitas vezes apresentada em locais expostos, como por exemplo, o novo Museu dos Judeus Poloneses em Varsóvia.

As manifestações da cultura judaica incluem festivais, a popularidade da música e uma variedade de produções artísticas. As universidades também lidam com essa demanda, abrindo programas dedicados aos centros de pesquisa sobre a história dos judeus na Polônia.

Assim, deixo em aberto a pergunta se vale a pena fazer divisões entre os poloneses e os judeus, as vítimas da II Guerra Mundial – a guerra resultou na morte de milhões de cidadãos poloneses, dos quais muitos eram judeus. Somente aos olhos de Hitler, os judeus constituíam uma “categoria especial” de vítimas e pensar deste modo equivaleria a aceitar a lógica dos assassinos nazistas.

A vida humana tem sempre o mesmo valor, independentemente da nacionalidade, religião, gênero, raça, nível de educação… Nenhuma vítima do nazismo, sendo judeu, polonês, russo, homossexual, deficiente, doente mental, mereceu morrer naquela carnificina e nunca se pode jogar na memória coletiva um papel secundário.

Podemos, sim, colocar perguntas difíceis. O debate sobre a II Guerra Mundial e o Holocausto é, e sempre será doloroso. Mas o maior desafio para o mundo é não deixar esquecer as memórias, deixando uma mensagem clara e unívoca – nem a guerra, nem o Holocausto podem se repetir mais. Tudo isso fica ainda mais claro depois de visitar a Polônia – por isso convido-os para virem, para sentirem sozinhos o peso dessa história, ao mesmo tempo terrível e heróica. Porque em poucos lugares do mundo a memória da Guerra e do Holocausto fica ainda tão visível, tão viva e tão comovente…”

*A Dra. Renata SIUDA-AMBROZIAK  é  Professora do CESLA,  Centro dos Estudos Latino-Americanos, Instituto das Américas e Europa na Universidade de Varsóvia, e atualmente vice-diretora do Instituto. Doutora em Ciências Humanas em Filosofia Social, com Estudos Pós-Doutorais em Direito da Propriedade Intelectual e em Administração Universitária.

Abaixo, fotos do Museu do Levante de Varsóvia:

** A experiência em visitar o Museu do Levante de Varsóvia (Muzeum Powstania Waeszawskiego) é realmente extraordinária e imperdível para quem visita a cidade. Ele não é um museu comum, logo na entrada em uma das paredes pode-se ouvir sons ritmados, é como se alí estivessem ainda batendo os corações daqueles que viveram e lutaram durante este período terrível da história da Polônia. Sua concepção é interativa, e um muito bem montado memorial retraça a história, os momentos-chave e os personagens – famosos e desconhecidos – do ato final da resistência polonesa à ocupação nazista.

A ideia é a de trazer o visitante para dentro daquela realidade, e é impossível não se emocionar. Inclusive de sentir uma certa claustrofobia ao atravessar uma reprodução dos “esgotos”, forma de locomoção pela cidade que os revolucionários utilizaram na época do levante. 

As exposições permanentes trazem inteligentes soluções multimídia, relatos emocionantes, armas, meios de transporte, muitas fotografias, uniformes e também uma área dedicada às crianças e jovens que colaboraram nas linhas de combate. Na parte exterior do edifício está uma longa parede-memorial, com o nome daqueles que combateram pela liberdade na Polônia.

Tivemos o privilégio de conhecer o Sr. Henryk Wasilewski, nascido em 1924 e que permanece no museu trabalhando em máquinas impressoras da época. Ele fazia parte de um escritório de impressão subterrânea (na rua Żelazna) durante a ocupação alemã. Foi preso pelos alemães e permaneceu na prisão Pawiak em Varsóvia, sendo interrogado por agentes da Gestapo, que segundo ele, falavam o polonês perfeitamente. Através da intervenção de um oficial, conhecido de seu pai, o Sr. Wasilewski encontrou a liberdade. Uma entrevista atualizada com ele, em polonês, encontra-se no link abaixo: 

http://www.1944.pl/archiwum-historii-mowionej/henryk-wasilewski,2290.html

Site Oficial do Museu: http://www.1944.pl/

Texto principal: Profa. Dra. Renata Siuda-Ambroziak.

Fotos e texto adicional: Izabel Liviski.

Fonte secundária: http://viagemeturismo.abril.com.br/atracao/museu-do-levante-de-varsovia/

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Consulado da República da Polônia em Curitiba, que possibilitou nossa viagem de estudos à Polônia em junho de 2016, ao Cônsul Geral Sr. Marek Makowski e Vice-Cônsules Dorota Ortynska e Dorota Bogutyn. À Aleksandra Duda por sua gentileza e preciosas informações como guia através do Museu do Levante de Varsóvia, e posteriores correspondências.

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