A Coluna Espaço do Leitor apresenta o E-book Mulheres Poetizam, organizado por Isabel Furini em 2020. Boa Leitura!
Isabel Furini, mora em Curitiba/PR. É poeta, escritora, educadora e palestrante. Foi colunista do Suplemento Viver Bem da Gazeta do Povo. É coeditora da revista Carlos Zemek. Ministrou a oficina de Criação Literária no Solar do Rosário. Seus poemas foram premiados no Brasil, Portugal e Espanha. Realizou Recitais de Poesia na 36a. Semana do SESC & XV Feira do livro de UFPR, Curitiba/PR, e na Burlingame Public Library, na Califórnia, USA.
O convite da poeta
Ano passado recebi o convite para escrever o prólogo do e-book Melhores Poemas 2020. Confesso que fiquei surpresa com o convite feito pela querida poeta e jornalista Isabel Furini e naquela ocasião me perguntei se era mesmo a melhor pessoa para fazê-lo. Fiz! E foi um grande momento para a leitora que sou. Conheci ali poetas que não conhecia e isto deixou maior meu coração de poeta. Sempre me surpreendo ao me colocar diante da poesia. Sempre agradeço a certeza que tenho dessa força e delicadeza que a poesia imprime no mundo. Faço parte disto!
Este ano fui convidada para compor um novo e-book, Mulheres Poetizam. Outra surpresa! Agora estou não apenas como leitora, mas sou uma das poetas que compõem a obra. Sim, a menina maringaense que nasceu apaixonada pelas palavras e descobriu a poesia muito antes de saber ler agora está ao lado de grandes mulheres. E já lhe adianto que ao ler este livro percorrerá em passo conjunto com a artista completa Etel Frota em busca da airosidade poética do sutil, seus olhos irão brilhar diante da jovem poeta Jéssica Iancoski, ficará sem palavras ao caminhar entre gardênias e girassóis ao chegar diante da esfinge poética de Barbara Lia, mergulhará na delicadeza profunda de Maria Antonieta Gonzaga Teixeira, vai desejar ter muito mais dos versos fortes e libertos de Adriane Garcia e não sairá ileso da fecundidade entregue pelos poemas de Juliana Meira. São nestas páginas que encontrará a beleza confessa nas letras de Carla Ramos, a poesia minimalista e selvática de Anna Apolinaro. E semeamos o poético juntas com Elieder Corrêa da Silva, Devora Dante, Elciana Goedert, Jeovana P., Juliana Oliveira Nascimento, Marcela Gonzales, Maria da Glória Colucci, Maria Teresa Marins Freire, Marilís de Assis, Marli Andrucho Boldori, Regina Bacellar, Rita Delamari, Sheina Lee, Solange Rosenmann, Sonia Andrea Mazza, Vanice Zimerman.
Não pense você que fazer poesia é coisa fácil. É palavra qualquer posta em plano envergado na brancura do sensível. Poesia é caminho sem volta, é um emaranhado de amor, dor, beleza que – para quem se entrega – não se respira um só dia sem tê-la. É a busca da perfeição no rosto da amada. É lida sem descanso. É bebida exata para as horas sem música.
E estamos aqui, todas nós expostas em plano poético. Visíveis em nossa mais íntima beleza. Únicas, cada uma em seu cabedal de palavras. Florada sem obedecer estação, daquelas mudas que nascem até na rachadura do asfalto. Aqui o respiro do mundano no melhor que se representa, a poesia.
Meu convite é este: aceite o delicado presente que foi concebido pela generosidade e olhar da poeta verdadeira e admirável Isabel Furini e você terá seu dia inundado dos mais belos poemas. Existe coisa melhor?
(Por Flavia Quintanilha)
Poemas e fragmentos de poemas das poetas que participam do e-book “Mulheres Poetizam”:
Paixão e anjo decaído (Adriane Garcia)
As labaredas sobem
Querem o céu
No baixo ventre
Queima esse inferno
De luz.
*
Poema sem título (Anna Apolinário)
Pássaros apalpam
A palavra pulmão
Sem pudor,
Lábios asfixiam
O voo.
*
outono (Barbara Lia)
folha de plátano
baila ao sol
acha crepitante
desaba no solo triste
epitáfio da folha:
não desapareço
feito espuma nas ondas
regenero o solo
com ternura feroz
para colorir azaleias
gardênias e girassóis
*
Renasço em Essência (Carla Ramos)
Minha alma nasce
Mas, grita em silêncio
Há em mim, ainda, muito barulho
Que me impede de ouvir
O Volume do Silêncio (…)
*
Expectativa (Elciana Goedert – Ciça)
(…) Ansiosa, espero a alvorada
Pois sei que virás, afinal
Depois d’uma noite enluarada
“Tu vens, eu já escuto teu sinal…”
Coração feliz, em disparada
Não tira os olhos do quintal.
*
Realidade (Elieder Corrêa da Silva)
(…) Com passos leves enfrentei
o proposto pela vida.
Fiz semeaduras no passado,
floriu vida e com ela,
espinhos e cardos,
e também nasceram flores.
Hoje, colho frutos sagrados.
*
Trágico (para Abílio – Etel Frota)
lavra o árido
cala o ávido
anacrônico
verte o cálido
fala o óbvio
pentatônico
lega o ótimo
vai, num átimo
cessa, anônimo
*
notas envelhecidas (Flavia Quintanilha)
pela tarde sem brisa e luz
as palavras não encontram
plano na nota pianíssima
da canção que busco em seus lábios
mas sou só
sustenido
no que não expresso
pela pele
sua pele
que toquei
na mais dolorosa delicadeza
*
Antonela (Isabel Furini)
passou a habitar as cavernas do tédio
e das lembranças
as lembranças devoraram as distâncias
e permaneceram ancoradas
(caoticamente)
no quarto de um fantasma
Antonela analisou as memórias
de sua mente e compreendeu
que o fantasma era ela.
*
Silepses (Para Nicola Otávio – Jéssica Iancoski)
(…) O Incutido,
Incurso
Indiscutível.
A omissão pressupõem-lhes
O erro.
Errante persisto
Não com,
Mas preso no sss silêncio
Das minhas sss silepses.
*
Dor de poeta (Jeovania P.)
(…) É uma dor de viver intensamente
de está aí no mundo
pronto para a chuva
para o sol
para pular de paraquedas
e dançar a noite inteira
feito tapa que se leva na cara
que vai e volta
*
Poema sem título 3 (Juliana Meira)
quando vierem virar meu rosto
dedos de ampere
estarei entre outros dentro de mim
moendo vida feito os miúdos de um bicho
por isso tragam silêncio e fome
*
Entusiasta (Juliana Oliveira Nascimento)
Entusiasta da Vida
Se tu tens um sonho,
Insista, persista!
Sejas pleno, inteligente, racional
e realista.
Não desistas e sejas mais que otimista…
Sejas entusiasta da tua vida!
*
Tempo (Maria Antonieta Gonzaga Teixeira)
Tempo
que não dá tempo
Sobra tempo
Espera o tempo.
O tempo rabisca o ensaio
escreve a história.
O tempo ensina
se der tempo. (…)
*
Iguais (Maria da Glória Colucci)
Fluem suaves, sutis em desalento,
Nas leves hastes dos cataventos,
Nas trêmulas dobras da memória
Nas vagas luzes da história…
Sem volta; sem licença viajam:
– Tempo e vento. Vento e tempo.
Iguais em tudo! Velozes passam!
*
Rever (Maria Tereza Marins Freire)
O olhar surpreso
Acompanha o passo
Que no compasso
Da música ecoando no espaço
Se faz e refaz
Volteia e se retrai (…)
*
Vale das Águas (Marílis de Assis)
(…) A flor colorida
Palavras que dançam ao vento
Amores que suspiram em vigorosos ais
Solidão sem fim,
Temperança
Teu rosto, bonita lembrança
Desenho inacabado
Vale das águas
Homem alado
*
Metamorfose (Marli Andrucho Boldori)
Mulher é a palavra dita
desenhada
escrita grafada
decifrada ou guardada
a sete chaves. (…)
*
O Palhaço (Regina Bacellar)
Vive para brincar,
brinca para viver.
Ri, chora, grita,
desabafa problemas,
descarrega emoções.
No palco, são rostos,
utopias, vidas a representar.
Na vida, é um só
a se angustiar. (…)
*
Mulheres da Vitória (Rita Delamari)
Sob o escudo de luz,
Cavalga sobre as colinas
E contempla a beleza
Da aurora boreal…
Defensora das tradições.
A paz como escolha! (…)
*
Que procura é esta? (Solange Chemin Rosenmann)
(…) Quero-te em mim.
Vens, habita-me em calmaria,
Mesmo trazendo tua ventania,
Deixes a maré brilhante,
Em pôr de sol, mirar-se n’água,
Narciso de ti, vem habitar-me.
Quero-te em mim, estando em ti.
*
Haicai (Vanice Zimerman)
brisa de verão –
aroma de aquarela
desliza no Canson
POEMAS EN ESPAÑOL
Árbol # 1 (Dévora Dantes)
La sombra que me albergo
su suave olor a naranja.
Atrapada mi niñez en cada
una de sus ramas. (…)
*
Anhelo (Marcela González)
Llevo guardadas las cartas que me diste.
Siento el aroma de las flores que traías.
Tengo el recuerdo de tus caricias.
Hasta cuándo?
Cuándo será el momento de reencontrarnos?
Por qué te marchaste antes dejándome muerta en vida?
Sé que pronto partiré.
Espera.
*
Camino a la igualdad (Sheina Lee)
La luna late con fuerza,
enciende la oscuridad,
aplaude las diferencias,
y con fervor la igualdad,
mujeres con gran firmeza,
hombres buscando la paz,
vistiéndose de promesas,
llevando a la libertad (…)
*
Corazón torturado (Sonia Andrea Mazza)
Cuando ya ni recuerdes a tu primer amado
y tu último enamorado se haya ido
Has de entender al despertar
que el amor es un sueño que se esfuma
Por calles desgastadas de rutinas
infestadas de parvadas de palabras muertas,
Observada por pérfidas miradas, (…)