Há alguns anos atrás entrei em contato pela primeira vez com uma forma muito singular de poesia, o Haicai. Já havia terminado o ensino médio, e em nenhuma aula de literatura tive a oportunidade de conhecer obras literárias orientais. Talvez isso explique porque em geral sabemos tão pouco sobre esse assunto, e muitos poetas com anos de bagagem, por exemplo, ainda o desconhecem.
Simplificadamente, Haicai (ou Haikai) é um tipo de poesia de origem japonesa que possui apenas 3 versos, sem rima e sem título. Em sua forma tradicional, os versos se dividem em cinco, sete, e por último cinco sons. Veja abaixo:
O velho lago…
O ruído do salto
Da rã na água
O Haicai acima é a tradução do original escrito por Matsuo Bashô (1644 – 1694), um dos maiores mestres do Haicai japonês e que considerava a escrita da poesia como uma prática espiritual.
A forma tradicional do Haicai necessariamente se inspira em cenas ou seres da natureza e nas estações do ano, sendo suas características mais marcantes:
• A expressão das mudanças, da transitoriedade;
• A integração do ser humano com a natureza em sua simplicidade;
• Buscar sempre captar os momentos singulares, assim como em uma fotografia:
Os Haicais acima não seguem “100%” a forma tradicional, porém o legado desta secular tradição poética japonesa se espalhou pelo mundo todo, e hoje em dia ela é transmitida em diversas línguas, tendo se adaptado a cada povo e cultura.
No Brasil, por exemplo, escritores como Paulo Leminski, Carlos Drummond de Andrade, Helena Kolody, Érico Veríssimo, dentre outros, escreverem Haicais e concederam às suas criações identidades próprias, tratando de temas humanos, cotidianos, além da natureza e suas estações. Eles sabiam que mesmo com poucas palavras é possível transmitir pensamentos e sentimentos de grande profundidade, característica sempre presente neste tipo tão especial de Poesia.