Já ha tempos venho ensaiando escrever sobre Urban Nation, em Berlim. Desde 2013 esta associação convida “grafiteiros” para criarem nas fachadas e paredes de prédios, e em outros locais nas ruas de Berlim. O projeto tem a participação de jovens artistas contemporâneos urbanos, formando uma rede internacional. Quem está sempre por aqui é o brasileiro Crânio. Das ruas para um espaço fechado, em setembro deste no está prevista a abertura do Museu de Arte Urbana Contemporânea. Deixo aqui o link do projeto para quem quiser saber mais. https://www.urban-nation.com/about/
Toda a fachada do prédio da associação e seus alguns de seus vizinhas estão decoradas com trabalhos fantásticos que, é claro, de tempos em tempos, são substituídos por novos. Uma das grandes características desta arte é a sua vida curta, e sua fragilidade. Não é raro um lindo desenho ser “estragado” por uma pichação. Mas nesta discussão eu nem quero entrar…
Hoje a arte de rua contemporânea já é reconhecida mundialmente, saiu destas para entrar no mercado. O artista expõem em galerias, quer e precisa vender o seu trabalho. E porque não!? Interessante é observar uma arte, que ainda vive na proposta do efêmero, ser transformada em “eterna”. Já que, com certeza, servirá como investimento para o dinheiro acumulado por poucos. Outro tema também que daria uma boa troca de opiniões!
Mas enquanto isso, Berlim está cheia de obras fantásticas que podem ser até vistas em passeios turísticos especializados. Podem ser vistas obras de brasileiros como Os Gêmeos e, como falei, o Crânio. Se algum leitor souber de mais alguém que andou por aqui, por favor, nos informe!
Não podendo evitar a comparação…
Enquanto a política cultural de Berlim estimula e vê na arte de rua – aqui de maneira mais ampla que os grafites – como enriquecimento cultural, atração turística, embelezamento do espaço urbano e como uma forma de destacar-se no cenário mundial. A política cultural de São Paulo, oposta à de seu antecessor, aposta na criminalização e na exclusão desta arte. Talvez, percebendo a bola fora, há pouco foi lá o seu prefake pintar um coração murcho, que é bem o que ele representa. E aproveitando o jargão dos grafiteiros: “Vão levar rapidinho esse coração, prefake!!!”
Infelizmente São Paulo está apostando no parar no tempo, ou melhor, em “voltar pra trás” (o pleonasmo aqui intensifica atitude tacanha!). Ao meu ver é um retrato fiel de boa parte dos brasileiros, ainda agarrados aos seus valores conservadores…. Uma tendência para os tempos futuros? Afinal nenhum desenvolvimento é linear.