Falo sobre coisas que estão em mim, não por que seja delas uma estudiosa – apenas alguém que contempla, alguém que argumenta com as próprias intempéries.
Sei muito pouco profundamente das coisas que estão fora e, de igual forma, muito pouco ainda do que se passa dentro. Apenas percepções e pequenos recortes que me tocam e formam concepções subjetivas, talvez verdadeiras apenas para mim.
Escrevo porque quero e preciso. E gosto de escrever sobre coisas que ninguém se interessa, mas quê importa?
São tempos em que não temos tempo pras coisas que a ninguém interessa, mas as que interessam aos outros, são coisas que muitas vezes não valem o nosso tempo.
É preciso ter um nome pra valer uma leitura? É preciso que alguém de importância venha e reconheça o que você é pra que mais pessoas o reconheçam?
Já não me importo.
Baseio-me numa filosofia de que não preciso me tornar nada, só preciso voltar a ser o que sempre fui. Não é um processo de construção, mas de restauração. Também não é uma corrida, uma disputa com os demais. Não preciso ir a lugar nenhum e nem ser melhor que ninguém, apenas voltar a ser o que eu era antes de toda essa intervenção externa ter início.
E escrevo.
Escrevo sobre profundidades pois estamos submersos em beiradas, e estou farta de beiradas!
Quero miolos com recheio! É disso que gosto nas pessoas e em mim mesma.
Vi num filme uma vez, o pai do autor principal era poeta, e vivia numa quinta cheia de plantas e silêncio. Escrevia por escrever, não era sua intenção publicar, ser famoso, ganhar dinheiro, reconhecimento ou valor.
Escrevia porque era escritor, assim como a flor desabrocha porque é flor, não porque alguém mereça ou aprecie.
São filosofias de outros, gente que eu leio pra tentar sobreviver, tentar me compreender, me perdoar, perdoar os demais, suportar minhas sensibilidades, fragilidades e deficiências.
Essas coisas que não são práticas nem resultam em popularidade ou dinheiro.
Mas esse universo de coisas abstratas é que me encanta! E por mais que eu saiba que poderia dizer outras coisas, ser mais objetiva, talvez mais útil, é nesse meio gelatinoso e quase sem luzes, como o mais profundo do oceano, que quero mergulhar. Pra me encontrar talvez, pra te encontrar talvez, pra talvez ver cristalinamente, apesar do escuro assombroso e dos monstros marinhos, o que há na profundidade dos mares do convívio com o outro e da presença uníssona de cada pessoa no mundo.
Não é preciso ser nada. É até bobagem ser alguém. Quanto mais se projeta o nome do homem, maior o perigo de que se perca, eivado de ego.
O homem médio basta. No fim das contas, é o que somos. A sabedoria é algo muito contraditório. Está no mais simples, às vezes no menor dos homens.
E não resolve correr para o alto ou para baixo. Não resolve correr de qualquer maneira, talvez sequer andar no sentido de alguma coisa. Porque no final das contas não aceitamos ser como os demais, apenas ser?
um álbum inteiro pra você entender com o coração o que não está dito.