Construções.

Falando sobre situações e pessoas crescentes e decrescentes. O que você prefere, o ápice das paixões ou a chance de surpreender-se com maravilhas ocultas não muito atraentes à primeira vista?

As coisas que progridem são mais interessantes. E mais seguras também.

Cansei de começar do ápice. Prefiro as coisas que vão devagar, passo por passo. Mesmo que comecem até um pouco insossas, sem ter pista de para quê servem, têm a chance de ir adiante, evoluindo até tornarem-se algo quem sabe, muito, muito bom, com sorte, até inesquecíveis.

Melhor isso que as coisas que principiam fantásticas e repletas, pois não há dois caminhos: ou as coisas melhoram, ou partem para o declive, e cabe escolher o que se deseja, a paixão que se esgota e decai dia-a-dia , ou dar-se chance a algo  que parte do nada para possibilidades impensadas, que contém a surpresa do desenvolvimento delicado e exclusivo das construções tijolo a tijolo.

É certo que sou uma apaixonada e sendo assim é difícil pra mim ter essa paciência da formação, a compreensão de um cultivo que resultará em frutos desconhecidos, talvez até aceitar que, algumas vezes, a semente não dará em fruto algum.

Mas é de um longo aprendizado a conclusão de que as coisas que começam no alto não têm mais pra onde subir… dar uma chance às coisas que principiam sem perspectiva de darem certo e, por não se sabe que artimanha do destino, nos surpreendem.

E não é assim apenas de mim para o outro, mas também do outro para mim, porque não sou daquele tipo de pessoa que se gosta de cara, é preciso fazer algum esforço de convivência para gostar de mim, permitir-se ir um pouco mais fundo no que sou e estou para enfim descobrir que também eu posso subir muitos degraus no seu conceito, havendo chance

E talvez mais por isso tenho preferido pessoas e situações, como eu, crescentes. E apesar do encanto tão agradável das paixões, que nos avassala e remete para um habitat emocionante e com algum sentido de viver (ainda que precário), percebo que coisas sem graça e pessoas sem sal podem resultar em grandes descobertas (ou pequenas. E isso ainda é melhor do que desiludir-se ao começar o trajeto do ponto mais alto da montanha rumo a um vale de plantas rasteiras sem nenhuma vista a oferecer).


Ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.

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Lári Germano é autora dos livros "Cinzas e Cheiros" e "En plein air - ao ar livre". Conheça e adquira os trabalhos no site www.larigermano.com. Lári escreve também na página pessoal do Facebook e nos Instagrams @lari poeta e @lariprosaetrova . É compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud, Twitter e Youtube. A foto do logo é assinada pelo fotógrafo Fernando Pilatos www.fernandopilatos.com.br.

2 Comments

  1. Arlete de Oliveira Germano disse:

    Muito boas as palavras costuradas no texto. Somos todos de extrema importância aos olhos do criador e temos muito a doar e receber..

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