Remisson Aniceto
Em tempos de crise como os atuais, é perfeitamente compreensível a recusa das editoras em apostar em novos talentos, mesmo que uma obra analisada tenha alta qualidade e se enquadre na sua linha editorial. Poucas querem correr riscos. E poucos novos escritores podem se dar ao luxo de ter uma mãe como a Julia Bruhns, que pagou para publicar as primeiras obras dos filhos Heinrich e Thomas Mann, ou usufruir da sorte de Camões, cujo Lusíadas foi patrocinado pelo pai.
Sabendo das dificuldades pelas quais passam os novos e desconhecidos escritores, talentosos, medianos ou medíocres para publicar seu primeiro livro e ciente também das motivações das editoras sérias, grandes ou pequenas, em se recusar a publicá-los, imaginei o seguinte anúncio:
Senhores Editores (somente das grandes editoras, vejam bem!!!):
Quero publicar imediatamente um livro de contos e crônicas. Escrevo também poesias e meus textos apresentam indiscutível qualidade. E não sou eu quem afirma (se bem que classifico todos os meus contos, crônicas e poesias como literatura de ponta), mas todos os que leram se apaixonam pelos meus textos: minha família e amigos de trabalho, atores, diretores, cenógrafos, sonoplastas etc.
Não vou me identificar de imediato, mas sou uma personalidade muito famosa, jovem, bonita, culta e inteligentíssima, pessoa pública conhecidíssima, artista que todas as noites está em destaque na maior rede de televisão brasileira no horário mais nobre. Apareço em todas as grandes revistas de moda e de artes do mundo, todos podem me ver em comerciais o tempo inteiro, inclusive nos gigantescos outdoors espalhados pelas avenidas, estradas, grandes prédios. Tudo o diz respeito ao meu trabalho e à minha vida pessoal é notícia diária em outros canais de tv, rádios, revistas, jornais, internet etc. Posso ser vista e admirada também nos teatros e cinemas espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Tenho milhões de seguidores no Twitter, Facebook, YouTube, Tumblr, WhatsApp, Google+, WeChat…
O que toco vira ouro, a roupa e os sapatos que visto vendem aos montes, os brincos, relógios e anéis com os quais apareço à noite esgotam-se nas finas joalherias nas primeiras horas do dia seguinte, tudo o que falo torna-se viral.
Mas não quero dizer meu nome agora, para que ele (o meu nome) não influencie na publicação do meu livro. Até para que os senhores leiam, avaliem e exprimam seu parecer naturalmente, sem forçação de barra, pois acho que a qualidade de qualquer criação tem que vir antes do nome do seu criador, tem que se sobrepor ao seu nome, famoso ou não.
Quem quiser o privilégio de publicar o meu livro, basta escrever para a redação deste jornal solicitando os originais, que os meus assessores enviarão. Se gostarem do que escrevo, contatem novamente estes assessores para saber tudo que espero da editora. Mas já adianto que o meu livro terá que ser especial, colorido, de capa dura, com o melhor papel, com o prefácio de uma ilustre personalidade da literatura mundial, de preferência internacional (que fica a cargo dos senhores, mas terei que aprovar), a tiragem da primeira edição terá que ser de no mínimo 1.000.000 (um milhão) de exemplares. Quero o livro amplamente divulgado em rede nacional, em todas as mídias e distribuído nas maiores livrarias brasileiras e do resto do mundo. Quero também a tradução para o inglês, espanhol, francês, japonês, chinês, alemão e russo. Depois veremos os outros idiomas.
O nome da editora escolhida será mostrado inúmeras vezes nas novelas, nos programas de tv, nos filmes, nos jornais, revistas, nas fotos e vídeos que fizerem comigo, em todos os locais onde eu estiver, na praia, nos restaurantes, a trabalho ou não, pois levarei este livro onde eu for. E farei questão de deixar o logotipo da editora nos melhores ângulos quando as câmeras o focalizarem. Há maior divulgação para uma editora do que esta?
Para fechar o contrato, não abro mão de um adiantamento de exclusividade de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) e 20% sobre todas as vendas.
Façam as suas propostas.
Todos dizem que é muito difícil, quase impossível mesmo, um escritor desconhecido das massas, ou que não seja político influente, cantor de sucesso, esportista, apresentador de tv, publicar qualquer coisa sem ter que pagar, porém, como já disse, não quero que o meu nome influencie na decisão dos senhores. Assim, somente o divulgarei depois que escolher a melhor proposta. Como podem perceber, dispenso qualquer privilégio que advenha da minha grande fama.
Assim que eu escolher qual dos senhores publicará meu livro, me identificarei..
É somente isto que peço. Pela relevância do meu nome no meio artístico, creio que não é muito.
Boa sorte a todos e que vença o melhor!!!
Remisson Aniceto- 16/04/1962, Nova Era – MG – Brasil. “Desde criança, lá no Aleixo, admirado de ver os sorrisos, as caretas, as expressões diversas no rosto do seu pai quando ele lia, Remisson pensou que aquilo devia ser bom e logo também começou a ler. Com a leitura, surgiu a imperiosa necessidade de escrever contos, crônicas, poesias e artigos diversos, tendo parte dos seus trabalhos traduzidos e divulgados em livros didáticos, revistas, jornais, rádios e sites de alguns países.
Nascido em Nova Era, cidadezinha próxima da Itabira de Drummond, sempre imaginou que algum dia contornaria as montanhas para conhecê-lo, mas, como o poeta já havia advertido bem antes: “tinha uma pedra no meio do caminho”. Até que em 1987 Drummond, que há muito vivia no Rio de Janeiro, viajou definitivamente.
E-mail para contato: remisson8@yahoo.com.br
Site: Revista PROTEXTO – www.remisson.com.br/