Análise crítica sobre a animação “Tá chovendo hambúrguer”

Na animação “Tá chovendo hambúrguer”, muitos aspectos equivocados a respeito da ciência e do cientista que são apresentados atualmente no ensino de ciências – seja através dos livros didáticos, seja pelos próprios professores, cujas concepções estiveram presentes também na sua formação.

Larissa Buratto Vasconcelos

Discente da Universidade Federal do ABC -UFABC

Profa. Dra. Ana Maria Dietrich

Historiadora e docente da Universidade Federal do ABC

Na animação “Tá chovendo hambúrguer”, muitos aspectos equivocados a respeito da ciência e do cientista que são apresentados atualmente no ensino de ciências – seja através dos livros didáticos, seja pelos próprios professores, cujas concepções estiveram presentes também na sua formação, entre outros – são reforçados, sendo eles: a imagem do cientista como alguém diferente, incompreendido, genial (“nerd”), isolado, com cabelo bagunçado e sempre de jaleco (o próprio personagem do filme diz, quando ganha seu primeiro jaleco: “uau, igual dos cientistas de verdade!”). Também como alguém que trabalha em um laboratório maluco, super equipado, criando invenções malucas e complexas, a partir de ideias totalmente originais e estando sempre a serviço do bem da humanidade (o cientista do filme inventou o “sapato spray” e a máquina de fazer comida, por exemplo, motivado pelas necessidades que observou na comunidade em que vivia).

Sabe-se, no entanto, que os cientistas não são pessoas dotadas de uma inteligência descomunal, mas pessoas com oportunidades de desenvolver suas pesquisas, não possuem um único estereótipo, não trabalham necessariamente dentro de um laboratório padrão, não precisam viver isoladas socialmente, assim como geralmente trabalham em conjunto com outros cientistas, discutindo e recriando ideias já antes apresentadas, bem como a ciência não é imparcial nem está sempre a serviço do bem comum, mas recebe influência de fatores externos, sendo eles políticos, econômicos, sociais, históricos e mesmo pessoais.

Já esse último aspecto citado é apresentado no filme, quando o cientista age influenciado pelo prefeito da cidade, e quando toma sua decisão movido por vaidade, dado o reconhecimento do seu trabalho (o personagem diz: “pela primeira vez as pessoas estão gostando do que eu fiz”), contribuindo nesse aspecto para desmitificar a visão da ciência e do cientista veiculadas no ensino. O filme também ontribui nesse sentido ao mostrar que as “invenções” não dão certo na primeira tentativa, revelando a falibilidade da ciência, que se constrói por tentativas e erros, bem como mostra a importância do diálogo entre a comunidade científica e a sociedade.

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É editora-chefe da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades e coordenadora do ContemporARTES. Coordena o grupo de pesquisa do CNPQ Educação em Direitos Humanos/ certificado pela UFABC em parceria com a UFV, UFJF, UFF, UFPA, USS e UFBA. É professora adjunta da UFABC. Pós-doutora em Sociologia pela UNICAMP, doutora em História pela USP com doutorado sanduíche pelo Centro de Estudos de Anti-Semitismo (Universidade Técnica de Berlim). Integrante Permanente da Pós Graduação de Ensino, História e Filosofia da Ciências e da Matemática (UFABC) Autora de Nazismo Tropical (Todas as Musas, 2012), Caça às Suásticas - O partido Nazista em São Paulo (Imprensa Oficial / Humanitas 2007) e outros.

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