René Machado desenvolve pintura cada vez mais gestual
A exposição LabUTA é composta por um conjunto de obras recentes de René Machado e abre para o público a partir do dia 16 de Abril na Casa de Cultura Laura Alvim.
O artista revisita suas origens profissionais como publicitário, incorporando-as à imagética variada e viva da arte urbana e às possibilidades artísticas que circundam a ideia de “pintura abstrata” na atualidade. Apresenta de forma imponderável a força estética das ruas, do grafite, da street art, da pop art com o impulso de pinceladas neo-expressionistas. Explora a idéia do efêmero a partir das inúmeras sobreposições de camadas de elementos.
O artista lança mão da serigrafia como marca da era industrial, da reprodutibilidade, do desgaste da imagem, ora ampliada trazendo apenas os pontos, ora imagens repetidas que lembram anúncios nos muros da cidade, sobrepostos com traços de spray, e inúmeras camadas de tintas. “Parte do processo envolve: fotografia, digitalização, impressão, serigrafia, ampliação e tratamento de imagens para impressões pictóricas em grandes suportes e inclusão de uma série de camadas. O trabalho sofre interferências de diferentes técnicas: óleo, acrílica, esmalte sintético, carvão e spray”, cita o artista.
O resultado despretensioso do trabalho de René também advém da “action painting”, seu traço descompromissado, as pinceladas livres, o gesto solto – oriundos de seu estilo que dispensa afetação.
As cores fazem parte de estudos do artista e seguem a mesma linha de liberdade do processo. Nesta exposição, algumas explorações mais sóbrias do verde, do azul, outras mais radicais trazem o rosa e laranja neon da década de 90, sempre entrepostas pela radicalidade dos pretos, explorados pelo carvão, spray, e esmalte sintético.
De acordo com a curadora Vanda Klabin o deslizamento de gestos é um processo de articular diferentes modos de ver, derivado da perda da imagem representativa da realidade, um contínuo fazer e refazer, obliterar e construir novos acessos.“Os campos picturais permeados por vibrantes contrastes, harmonias dissonantes, grumos espessos e alta voltagem cromática, têm uma conotação ambígua. A cor é o seu veículo expressivo e compatibiliza elementos díspares e dissonantes na estruturação da tela.” Diz Vanda.
Uma parte das obras se inspira no que René chama de “Frequência Morelenbaum”, as últimas inspirações vieram da sonoridade composições do álbum Central do Brasil de Jaques Morelenbaum – Toada, Alma e Central do Brasil, “Sempre que ouvia esse álbum, tinha vontade de decifrar as composições através de gestos, então escolhi estas músicas para produzir as obras no ritmo de cada uma delas”, revela o artista.
Nesta exposição René traz novidades como a fotografia, a colagem e a instalação revelando novas dimensões do processo criativo. A fotografia, ora como um desmembramento e ora como inspiração para as telas, contém paisagens urbanas, muros, painéis capturados em centros de cidades como Paris, Berlin e Barcelona. O olhar sempre atento à estética do efêmero, restos de cartazes, grafite, fixações, pinturas descascadas, são paisagens capturadas pelo artista que influenciam suas telas e agora fazem parte da exposição.
A colagem surge como um índice correlato da pintura, a partir de um material mais popular que é o papelão. Oriundo de caixas de produtos de marcas populares o material foi trabalhado com cores preponderantes nas telas durante o processo criativo, recortes, rasgos livres e colagem, revelam ainda novas dimensões para o conceito de descomposição e acaso. “Desconstrução, fazer e refazer fazem parte do processo, sobreposições, apagamentos, sinais de erros e acertos e desta forma as camadas vão se compondo, criando de forma aleatória o abstrato”, diz René.
TEXTO DE ANA MARIA CARVALHO
Ana Maria Lima de Carvalho é jornalista especialista em comunicação, psicanalista e fotógrafa.
Sócia da Crio.Art assessoria especializada em arte contemporânea
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