Autora: SoniaMar Passot, a filha do sapateiro.
Há alguns dias assisti um filme italiano estrelado por Marcello Mastroiani e Anita Ekberg de 1960, LA DOLCE VITA, um clássico do cinema mundial, dirigido pelo cineasta Federico Fellini. Ao ser entrevistado por um jornalista durante as filmagens, Fellini chamou minha atenção e refleti sobre suas palavras. Surpresa, pensei em como as vidas humanas se entrelaçam em suas semelhanças! Disse ele: “Comecei a viver quando decidi fazer cinema. Meu verdadeiro nascimento inicia com lembranças bem precisas de quando fiz meu primeiro filme. Antes disto minha vida parece ter sido uma sorte de incubação. Família, país, estudos…vivi como se fosse um turista que fui atravessando episódios e situações até então”.
Me apeguei a estas palavras para comentar sobre minha própria incubação e transição. Guardadas as devidas proporções. Por 25 anos trabalhei na UFPR – Universidade Federal do Paraná, como SERVIDORA PUBLICA, imbuída do espirito da função pública, dediquei –me a SERVIR A COMUNIDADE do SiBi- Sistema de Bibliotecas.
Ao longo da minha carreira trabalhei em três bibliotecas – Ciências Humanas e Educação; Saúde (com sede no Jardim Botânico) e por último, na Biblioteca do Campus Rebouças. No âmbito da minha vida pública, passei por todas as fases necessárias para progredir na carreira de bibliotecária, galgando essas etapas através do esforço pessoal, como fazem milhões de brasileiros, ou seja, trabalhando e estudando. Desta forma, sempre com o apoio e o respeito das minhas chefias, colegas de trabalho e familiares, conclui a graduação em biblioteconomia. Mais tarde, vieram a especialização em recursos humanos, e finalmente o mestrado em Ciência da Informação e de Bibliotecas (Ecole National des Sciences de l infomation et Bibliotheques– France – 2008-2010).
As oportunidades que surgiram ao longo deste período foram frutos dos muitos anos de dedicação, estudos e ações, que me permitiram aproveita-las nos momentos adequados. Nunca estive preparada completamente, mas sempre disposta a aceitar desafios. Alguns foram realmente mais difíceis e nas batalhas para vencê-los, nunca me preocupei com as horas dedicadas fora do horário de expediente; tempo de duração de uma atividade; distancia a percorrer, ou qualquer outro obstáculo. Otimista, avancei sempre buscando parcerias, aliados, construindo redes. E principalmente, dando oportunidades aos novos funcionários, aos jovens estudantes estagiários que, imbuídos do mesmo espirito, juntaram-se a mim para somar esforços, contribuir, construir e SERVIR.
Porém, o SER HUMANO, nunca está pronto. Por causa desta condição estamos sempre procurando, buscando algo que virá, falta-nos alguma coisa e quando, de repente, descobrimos o que estava ausente dentro de nós, é aí que entra a certeza da realização. Eureca! Descobrimos aquilo que, mesmo intrinsecamente queremos ao longo da vida, e, neste instante a palavra incubação faz sentido, fez sentido para mim.
Com humildade, consciente do dever cumprido por ter servido o SiBi e honrado a minha profissão de bibliotecária, agradecida por todas as experiências e aprendizado ao longo da vida. Com toda a bagagem adquirida profissional, pessoal, familiar, afetiva, econômica, social, (re) começo uma nova profissão, a de Escritora. Com confiança nestes novos caminhos, escrevi meu primeiro livro. Porque escrevo? Podem-se perguntar alguns leitores. Escrevo com o objetivo de deixar um traço, fazer com que minha época e as vivencias destes tempos possam beneficiar o amanhã.
Que através da leitura destes escritos, possam melhorar a qualidade de vida das pessoas, que ações concretas aconteçam. Continuo a lutar por ideais, lutar para melhorar o entendimento e a consciência principalmente das crianças sobre o ambiente marinho, sobre o cuidado com o nosso Planeta, que é também um dos temas que escolhi para defender. Ser idealista e trabalhar com o coração na boca, não está fora de moda, como podem pensar algumas pessoas. Foi isto que fiz na Universidade Federal do Paraná e continuo a fazer através dos meus livros.
A chama dos desafios retorna novamente, deixo para trás a Bibliotecária aposentada e recomeço com as atitudes que me encantam. Ir em frente, lutar para vencer obstáculos com garra e determinação, perseverar, até o objetivo final ser alcançado. Assim é minha natureza.
Do que trata meu primeiro livro?
Uma história de vida real, contada a partir dos eventos importantes ocorridos no Brasil e no mundo dos anos 1960 para cá e o impacto que estes eventos teve na vida de uma cidadã.
Título: Vida Iluminada. Local: Curitiba-PR, 2020. 134p. (ainda sem editora) no prelo.
Sinopse:
Este livro conta a história de uma mulher que atravessa sua época com alegria e determinação. Passa pelos anos sombrios da ditadura militar vestida de guarda-pó branco, seu uniforme escolar do curso primário, e avança em direção aos anos 70 dançando e rindo nas festinhas de garagem, espiando através da cortina do tempo, por um minutinho, para ver as mulheres queimarem seus sutiãs em praça pública em um ato de libertação e, com folego e disposição, ouvindo no rádio o Brasil conquistar a copa do mundo de 1970, com aquele ˮtimeˮ em campo.
Ganha o mundo, mas só um pedacinho dele, o Rio de Janeiro dos anos 80 e 90 onde, pela fresta da sua janela, assiste a Beija Flor de Nilópolis receber seu primeiro troféu no Carnaval. Nesses anos de satisfação torna-se mãe de uma linda menina, acompanha o primeiro impeachment de um presidente da república e recebe seu diploma de normalista.
Em outro momento, atravessa o Oceano Atlântico com a curiosidade natural que a grande maioria dos seres humanos tem: ver o que existe depois da linha do horizonte. Descobrindo o velho mundo, porém em dimensões menores que os grandes navegadores, fez uma revolução em sua vida. Agora, de cabelos brancos, mas com muita energia, compartilha com os curiosos leitores os caminhos por ela percorridos.
Excelente texto, bem esclarecedor a respeito do livro Vida Iluminada.