A arte postal ou mail art, aproxima realidades já pensadas nas décadas de 1910 e 1920, pelos artistas do Futurismo Italiano, o qual fortalecia o pensamento por uma nova forma de perceber a expressão artística, buscando fugir dos cânones pré-estabelecidos. Vanguardas históricas como o Dadaísmo, o Surrealismo e o Construtivismo Russo, já esboçavam alguns conceitos que foram despertado pelos futuristas, e que foram absorvidos por artistas dos anos 50 e 60, despertando assim um olhar criativo e questionador. Esses conceitos inovadores já estavam presentes também na obra de Marcel Duchamp, a partir de suas apropriações de objetos de uso cotidiano, abalando assim, as restrições da academia burguesa impostas à obra de arte.
Segundo Enock Sacramento, a Arte Postal, tem as mesmas fontes do happening, da performance e da body art. Tendo surgido em Nova York nos anos 1950, expandiu-se rapidamente pelo mundo por sua originalidade e como alternativa para exibir-se um trabalho fora do circuito das galerias e museus. Consistia em uma troca de mensagens criativas, muitas vezes de cunho político e social, utilizando o sistema de correios. Seus suportes utilizavam envelopes, cartões postais, folhas de papel, com imagens impressas ou carimbadas e mensagens diversas, muitas vezes requerendo respostas. Esteve em alta no período da guerra fria e, no Brasil, durante os anos da ditadura militar. Ela se mantém viva ainda hoje, atualizando as plataformas e as mensagens, sem perder seu cunho de crítica social.
Um dos destaques desse meio de expressão, é o artista pernambucano Paulo Bruscky (1949) principal organizador em 1975 da 1ª Exposição Internacional de Arte Postal, que foi fechada pelo regime militar. Bruscky tornou-se um expoente da arte postal, que ele prefere chamar de “Arte Correio” e sempre a defendeu como um tipo de arte “antiburguesa, anticomercial e antissistema”.
Articulou-se com o movimento internacional de arte postal e manteve intensa correspondência com membros dos grupos Gutai e Fluxus. “Arte é feita para circular” diz Bruscky. “Na Arte Correio, a arte retoma suas principais funções: a informação, o protesto e a denúncia”, completa.
A Web Art e o Mail Art são formas de prolongamento do movimento inicial de arte postal, utilizando como meio a rede de computadores e um perfil adaptado à contemporaneidade. Nesta nova modalidade, os arquivos podem chegar abertos ou fechados, possibilitando a intervenção dos internautas, que têm a opção de modificá-los e devolvê-los aos seus expedidores ou reenviá-los a outros internautas. O IUOMA, Internacional Union of Mail-Artists* é um site atuante, que agrega artistas do mundo inteiro.
Em Curitiba/PR entre os anos 1960 e 2000, desenvolveram-se vários projetos de arte postal, entre eles, o “Postal-Poesia” reunindo duas linguagens, fotografia e texto. Com um grupo de amigos, conseguimos fazer algumas pesquisas interessantes na década de 90, juntando a palavra poética e a poesia escrita com a luz. As imagens foram realizadas para o Suplemento Viver Bem do Jornal Gazeta do Povo, e o detalhe curioso é que elas não passaram por nenhum Photoshop, são totalmente analógicas. Entre os escritores participantes estavam alguns nomes conhecidos da cena literária local: Sônia Bittencourt Wolff, Ricardo Corona e Fernando Nascimento (in memorian). Reproduzo abaixo alguns resultados das nossas parcerias.
Nota: O Centro Estadual de Capacitação em Artes Guido Viaro** em Curitiba/PR, mantém pesquisa e elaboração permanentes de Arte Postal, realizando exposições anuais nessa modalidade.
FONTES:
Sacramento, Enock – Para entender a arte contemporânea – Curso ministrado na Caixa Cultural de Curitiba, 2012.
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7783/paulo-bruscky
Curta Artes: https://www.youtube.com/watch?v=Xd_4eFq-qQo
https://jornalggn.com.br/literatura/hannah-hoech-e-a-resistencia-dadaista-ao-nazismo/
LINKS:
* https://iuoma-network.ning.com/
** http://www.centrodeartesguidoviaro.com.br
Belíssimo texto! Posso usar com meus alunos? Quando voltarmos para uma nova realidade, quem sabe poderemos fazer uma parceria…
Claro, profa. Ana Maria, fico muito feliz que tenha gostado, e me sinto lisonjeada
com o seu comentário. Estou à disposição para as parcerias que queira fazer.
Abraço grande e saudoso.
Parabéns, Bel ! Belíssima fotografias. Ótimos textos.
Obrigada Isabel, é muito bom poder contar com a sua leitura atenta, e comentários. Abraço grande.
Que beleza de texto, Izabel! Aprendi muito com você! Parabéns pelas fotos maravilhosas!
Obrigada pelos seus comentários, querida Bia.
Abraço grande.
Izabel, seu texto traz para mim uma importante informação: eu ainda não tinha conhecimento dessa forma de resistência cultural à ditadura: a Arte Correio ou Arte Postal; como também não conhecia seu desdobramento posterior , nos anos 90, através de sua fotografia em parceria com poetas de Curitiba. Feliz em conhecer trabalhos tão belos que se inserem num contexto de ruptura com o convencional e abrem caminhos novos para a expressão artística. Obrigado, Izabel!
Vc pegou ‘na veia’, Afonso. É uma arte muito contemporânea,
ágil, versátil e acima de tudo, crítica. Sempre dando espaço ao fazer
poético, ao sentimento, enfim, uma arte democrática, acessível a todos.
Excelente! Fotos lindas, tema instigante.
Realmente Wanda, um tema que promete profundas investigações,
embora seja uma arte relativamente recente.
Obrigada pelo seu comentário, abraço.
Sensacional esse tema Izabel! Ficou muito bem explicado e completo seu texto. As fotos complementam perfeitamente a reportagem e por isso aprendi muito sobre uma arte que para mim passava despercebida. Gratulacje!!
Dzięki, Everly.
É muito bom saber que artistas como vc sempre têm algo a aprender no universo das artes.
Grata pelo seu comentário, abração.
Uma arte que percorre o mundo por suas próprias pernas, conduzindo mensagens de beleza e de conscientização. Já tinha visto, mas sem os olhos de ver. Agora, com seu texto e fotos, realmente vi. Obrigado por mais esta oportunidade de aprendizado.
Que maravilha, Pucci.
Com sua sensibilidade e aguda percepção do social,
estamos sempre trocando aprendizados.
Abraço grande.
Muito bom conhecer um pouco mais sobre o assunto, e saber que há um baluarte aqui na urbe. Gratulacje!
Dzięki, Claudio!
Urge na urbe, reavivar a chama da arte postal.
Abraço grande.
Olá Bel
Eu não sou muito fã de arte moderna e contemporânea e não sabia da existência dessa forma de expressão. Não é um tipo de arte que me chama atenção, talvez por não ter o olhar, a percepção aguçada. Sei que há uma função se não muitas já que há uma tendência a liberdade a fim de justamente construir um novo conceito. De qualquer modo, aprendo muito com sua destreza e seu olhar cauteloso e parabenizo por sempre engrandecer meus conhecimentos numa visão que vai além.
Forte abraço
Obrigada pelos seus comentários, querido Rodolpho! é desses embates tranquilos que nascem as nossas trocas e o aprofundamento das experiências de vida. Abração.
Oi Izabel. Parabéns pela matéria, gostei muito de ver meu poema MUROS no postal com sua foto. A arte postal mostra que arte é arte, não é medida pelo tamanho, só tem entendimento pelo sentimento. Abraço.
Obrigada pelo comentário, pela poesia e por sua amizade, Sonia.
Abraço grande!