“Gratidão”: ACGB/Vida Urbana inaugura painel de azulejos em homenagem a profissionais da linha de frente em Curitiba.

Com 8 metros de comprimento e mais de 2 metros de altura, o mural feito com 140 peças de cerâmica traz, em destaque, as figuras de onze categorias de trabalhadores sob o título “Gratidão”. Outros sete painéis serão inaugurados até o fim do ano.

Painel foi instalado próximo ao endereço da ACGB / Vida Urbana na Avenida Marechal Floriano Peixoto: homenagem ao motoboy, à médica, ao frentista, ao gari e à policial militar, entre outros.

A Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB/Vida Urbana) inaugurou na quarta-feira (30/06), às 10 horas, o primeiro dos oito murais de azulejo em homenagem aos profissionais da linha de frente no combate à Covid-19, instalado na Avenida Marechal Floriano Peixoto, próximo à sede da entidade, no centro de Curitiba.

Depois de finalizada a pintura manual, cada uma das peças de azulejo é levada
ao forno de alta temperatura (800 graus), onde permanece por até quatro horas.
O processo de resfriamento dura o mesmo tempo.

O painel de 8 metros de comprimento por 2,10 metros de altura, feito com 140 peças de cerâmica, traz em destaque a palavra “Gratidão” acompanhada das imagens de onze categorias de trabalhadores que exercem atividades essenciais em meio à crise sanitária. Caso dos médicos, cozinheiros, policiais militares, garis, caixas de supermercado, motoboys e carteiros, entre outros.

O desenho foi dividido em partes como se fossem peças de um quebra-cabeça.
Cada parte corresponde a um azulejo de 30cm x 40cm.

De acordo com Deisi Momm, coordenadora da ACGB/Vida Urbana, o trabalho de criação e fabricação do mural teve início em março deste ano. A inauguração, a princípio, deveria ocorrer no mês passado para que coincidisse com o aniversário de 21 anos da associação, mas foi adiada depois que cinco dos dez funcionários envolvidos diretamente no projeto testaram positivo para covid-19.

As peças de azulejo foram fixadas uma a uma. A secagem
da massa de cimento demora cerca de 24 horas.

Na semana passada, três faixas estendidas pela entidade no mesmo local onde foi instalado o painel atraíram a curiosidade de quem passou pela região. Tratava-se de uma campanha publicitária idealizada pela equipe da ACGB, chamando a atenção para a homenagem e, ao mesmo tempo, alertando as pessoas para que observem as medidas sanitárias de combate à pandemia.

A primeira faixa traz uma mensagem de João. Ele reclama da falta de notícias da namorada, se mostra confuso e diz não entender o motivo para o desprezo.

No texto, escrito em preto e vermelho, João e Maria, dois personagens fictícios, trocam mensagens. Ela uma profissional de linha de frente, ele o namorado preocupado por não receber notícias. “Foi uma maneira que encontramos de chamar a atenção para o painel e, ao mesmo tempo, lembrar que, mesmo com a vacinação, os cuidados continuam”, afirmou Deisi.

Em seguida, na faixa ao lado, é a vez de Maria responder. Trabalhadora da linha de frente, a profissão não é identificada, ela censura João pelo drama gratuito, chamando a atenção do namorado para os cuidados que deve tomar.

Segundo a coordenadora, até o fim do ano, outros sete painéis saudando os profissionais da linha de frente devem ser instalados em diferentes pontos de Curitiba, cada um elencando categorias diferentes. “São muitos, e queremos que todos recebam o nosso agradecimento”.

Na terceira e última faixa, é a vez da ACGB/Vida Urbana tomar a palavra e avisar ao personagem João e a todos que estão passando pelo local que Maria “sabe o que diz”. O texto continua: “Foi pensando nela”, uma profissional da linha de frente, que “a Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil decidiu prestar uma homenagem”.

Entidade sem fins lucrativos, a ACGV/Vida Urbana é responsável por projetos de recuperação de calçadas, plantio de flores em canteiros públicos, corte de grama e “despichamento” de imóveis na região central da capital paranaense. O trabalho é feito gratuitamente. Em 2019, alpinistas urbanos da associação fizeram a limpeza do obelisco da Praça 19 de Dezembro *, no Centro Cívico, onde está localizada a escultura do “Homem Nu” . O monumento tem 44 metros de altura, o equivalente a um edifício de 15 andares.

Praça 19 de Dezembro, com a mulher e o homem nus, ao centro o obelisco antes da limpeza realizada pelos alpinistas urbanos. Fonte:
https://www.bemparana.com.br/noticia/em-curitiba-alpinistas-urbanos-vao-lavar-o-obelisco-da-praca-19-de-dezembro#.YOJ4NhtKjIU

O custo de instalação do painel na Av. Marechal Floriano Peixoto é estimado em R$ 28 mil. Toda a despesa é absorvida por empresas garantidoras de condomínio, mantenedoras da ACGB. “Desde o salário dos profissionais até os insumos e equipamentos para a preparação e a fixação dos azulejos tudo é custeado pela associação. Não há dinheiro público envolvido”, afirma Deisi.

TEXTO/FOTOS:

Bonijuris – Marcus Gomes (JornalistaEditor)

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41 3323 4020 / 41 99502 9285 / redacao@bonijuris.com.br

CONTATO COM A IMPRENSA:

Deisi Momm Fonseca – Coordenadora de projetos da ACGB / Vida Urbana

41 3323-7708 / 41 98739-8371 <deisi@acgb.org.br>

Sede da ACGB / Vida Urbana: Av. Mal. Floriano Peixoto, 1400–Centro – Curitiba – PR

*Nota: A Praça 19 de Dezembro – mais conhecida como “A Praça do Homem Nu” (na verdade do Homem e da Mulher Nus) – foi criada com referência à data da emancipação política do Paraná, ocorrida em dezembro de 1853. Nela constam, além de outras obras, duas estátuas em granito de um “casal”, autoria dos artistas paranaenses Erbo Stenzel e Humberto Cozzo. Fonte: https://curitibaspace.com.br/praca-19-de-dezembro/

Writing Is Like Cooking Some Ideas

Autoras: Leila de Almeida Barros e Ana Carolina Colacino de Lima (1)

Whenever we have writing tasks assigned as students, it is quite common to come across various difficulties ranging from composing processes to the written production itself: planning; brainstorming; using the most suitable structure and techniques; revising; proofreading; adding the right amount of fluency and accuracy… There are so many variables to be considered. No wonder why writing can be so overwhelming sometimes. Not only do we have to spend hours acquiring and/or expanding in details our knowledge on a given theme in order to properly assess it in writing, we also need to consider how to properly select, organize and display the essential ideas that will make our points clear throughout the production in a cohesive manner. We should also take into consideration the audience to which our text is destined to, as well as if our choices – not only in terms of language, but also in terms of structure and techniques – will be both suitable and engaging to those who might be interested in reading and building meanings from our words.

(Source: https://www.thecut.com/)

The process that involves arranging ideas, details, examples, and explanations before actually getting down to writing the text can be as intense and time-consuming as manufacturing the text itself. Many might still see the ability to write well and effectively as an inborn talent. According to scholars Paula R. Backscheider and Catherine Ingrassia (2005), in the late eighteenth century many researchers insisted on claiming that renowned literary writers were actually geniuses who possessed superior mental and social qualifications, as well as an intimate and universal knowledge of the world, almost as if the ability to write well had been acquired by them from birth. To the French theorist Antoine Compagnon (2010), this is certainly the most controversial issue inside literary studies. As time advanced, literary theorists started understanding literary works to be not the product of divinely inspired geniuses seen as the sole arbiters of their text’s meanings and themes, but rather as the result of a distinct mastery of literary techniques which had been gradually acquired through much study, practice, revision and discipline.

Understanding an analogy as a comparison of two unlike things based on the resemblance of a particular aspect, as according to the online dictionary Merriam Webster, we now propose to go through the intricate nature of writing by comparing it to an equally sophisticated and processual method: the art of cooking!

(Source: https://www.theatlantic.com/)

Writing is a process that may be as complex and long as cooking, but, in both cases, practice leads to perfection. Writers and cookers have some similarities that are worth a deeper look. Cookers have to mix different ingredients to come up with a new meal, and it may be simple, as an everyday meal that you prepare for lunch, or it may be complex, as a five-stars restaurant’s meal. So it is with writers: they gather thoughts together to build a new text, with concepts and ideas. Also, it can have a high level of difficulty as a master’s dissertation, or be as simple as a record of a personal diary. Both results come in many forms, and have different “tastes”, and as every writer/cooker may know, this is a common ability which anyone can do, but the more you practice, the better you become.

Getting deeper into the comparison, we can establish a parallel between some key aspects. Cookers with a medium experience know that they cannot mix too many ingredients; otherwise, the meal will have too much information for the client’s taste. Also, if you have already cooked multiple times, you should have been able to develop your own spice and tips. Writing is no different: you cannot overload the text with too many ideas and concepts; and, with experience, you start to build your own tone and writer’s personality.

(Source:https://annafitz-ux.medium.com//)

The two processes also have similarities in the final result, concerning the “audience” to whom the product of the effort it is destined to. First looking at the cooking process, we have to keep in mind that there are different types of people who may like some ingredients and hate others. Depending on what we put together and how we do it, people may like our meal or not. Some of them, because of their level of experience, may have a more critical look into the flavors and overall composition of the plate. So it is with writing: some people have more or less experience to provide critical analysis of your piece of writing. Also, some people will appreciate your text while others will not – and when they do not like it, it may just be a matter of preference. That does not mean your text is necessarily bad, as the reader could have just personally disagreed with the ideas provided – and that is precisely what makes the process even more interesting and engaging.

Last but not least, we must look at both as continuous processes, in which constant improvement is always fostered and at stake. Writing or cooking with a few errors is normal – we are not perfect. What is important is to keep in mind the desire to produce an interesting and well-built foundation. And even if we burn our first rice and mess up our first text, we can and must try it again: just as we need food to live and stay happy our brains need writing to expand, learn ideas and stay healthy.

References:

ANALOGY. In: COLLEGIATE DICTIONARY. Merriam Webster Online. Merriam-Webster, Incorporated [19–]. Disponível em: https://www.merriam-webster.com/dictionary/analogy. Acesso em: 22 jun. 2021.

BACKSCHEIDER, P.; INGRASSA, C. A Companion to the Eighteenth-Century English Novel and Culture. Oxford: Blackwell Publishing, 2005.

COMPAGNON, A. O demônio da teoria. Minas Gerais: Editora UFMG, 2010.

FULWILER, T. A Personal Approach to Academic Writing. College writing: Third Edition. New Hampshire: Heinemann, 2002.

RAIMES, A. Techniques in the teaching of writing. New York: Oxford University Press, 1983.

Primeira Imagem disponível em: https://www.thecut.com/article/daily-writing-habit.html. Acesso em: 21 junho 2021

Segunda imagem disponível em: https://www.theatlantic.com/culture/archive/2020/03/ /608188/ Acesso em:  21 junho 2021.

Terceira imagem disponível em: https://annafitz-ux.medium.com/what-is-technical-writing-1fa47e49d7cc. Acesso em: 21 junho 2021

(1) NOTA SOBRE AS AUTORAS:

Leila de Almeida Barros é professora do Curso de Licenciatura em Letras Inglês da Universidade Estadual do Paraná, Campus de Apucarana, Paraná. Doutora em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Ana Carolina Colacino de Lima é graduanda do Curso de Licenciatura em Letras Inglês da Universidade Estadual do Paraná, Campus de Apucarana, Paraná.

Penhasco Emocional

Na longa história humana da infâmia destaca-se a forma como os portadores de deformidades e deficiências foram, e infelizmente alguns ainda são, tratados pelos demais, por suas próprias famílias e pela sociedade.

Desde remotas eras, nações belicosas como Esparta, exigiam que meninos a partir dos 7 anos estivessem a serviço do exército, o que exigia pessoas saudáveis para defender o Estado em suas guerras, excluindo aqueles que tivessem algum tipo de deficiência e, segundo Plutarco, os bebês eram levados a uma espécie de conselho de anciãos, e se a eles a criança parecesse disforme, esta era levada a um abismo situado na cadeia de montanhas Tahgetos, de onde era lançada para a morte. Faziam isso na certeza, em nome do Estado e da própria família desta criança, de que não era bom nem para ela mesma nem para a República que ela vivesse, por não se mostrar bem constituída.

Mesmo em Atenas, berço da civilização ocidental, crianças com deficiência não recebiam tratamento muito diferente, mas cabia ao próprio pai o dever de matá-la; e este extermínio era consenso na comunidade, de tal forma que mesmo grandes pensadores, como Platão, acreditavam que os que receberam corpo mal formado deveriam ser levadas para a morte; e o próprio Aristóteles considerava que deveria haver uma lei que proibisse alimentar criança disforme.

Em Roma o tratamento dado às pessoas com deficiências era bastante similar ao grego, já que a Lei das Doze Tábuas, instituída em meados do século V a.C., permitia a morte dos filhos ditos anormais por seus pais; entre ricos e nobres, entretanto, havia certa tolerância com as pessoas que nasciam com alguma deficiência, e alguns chegaram a exercer funções de proeminência. Assim foi para os imperadores romanos Cláudio, que era manco, gago e sofria de convulsões, Galba e Othon que teriam malformação nos pés; isso os afastaria da vida pública não fossem do alto patriciado.

Em tempos mais recentes temos o testemunho dos retratos da nobreza espanhola do século XVII por Diego Velázquez, em que as deformidades decorrentes de casamentos consanguíneos são mostradas claramente, e no entanto, contrariamente ao que o senso comum de muitos afirmava, deficiência ou fragilidade física não são acompanhadas necessariamente de restrições intelectuais ou criativas, e mesmo as fragilidades cognitivas podem ser trabalhadas educacionalmente com excelentes resultados, tanto social quanto individualmente. É possível que cada ser humano viva ao máximo sua potencialidade com dignidade e respeito; bons professores e pais amorosos abrandam sequelas e trazem bem-estar, apesar das possíveis limitações.

Homero, o poeta a quem se atribui a autoria dos poemas Ilíada e Odisseia, e por conseguinte a gênese da literatura do ocidente, era cego. John Milton, um dos maiores poetas ingleses, autor de Paraíso Perdido, também o era. Da mesma forma, Jorge Luís Borges, o grande escritor, poeta e ensaísta argentino, perdeu a visão ao longo da vida, o que não afetou seu talento ou reduziu sua produção. No que parece irônico, um dos maiores e mais influentes compositores da humanidade, Ludwig van Beethoven, perdeu grande parte da audição aos 26 anos, o que não o impediu de compor algumas de suas magistrais Sinfonias. Ray Charles, Hermeto Pascoal, Andrea Boccelli, José Feliciano, Stevie Wonder, a lista de artistas com deficiência visual é tão grande quanto seu inegável talento.

O que foi considerado o maior presidente norte-americano do século XX, Franklin Delano Roosevelt, tinha problemas de locomoção consequentes de paralisia infantil, e ao longo de toda sua atuação política isso não diminuiu a importância de sua contribuição à criação do pacto social que tirou seu país da Depressão, e ao enfrentamento das potencias do Eixo na Segunda Guerra. Os heroicos atletas paraolímpicos honram o espírito esportivo e não deixam dúvida alguma sobre sua capacidade de superação, Jogos Paraolímpicos recebem competições entre atletas de alto nível, com deficiências sensoriais ou físicas em esportes adaptados, que nada ficam a dever em torcidas e entusiasmos aos Jogos Olímpicos tradicionais.

Embora nascida sem problemas físicos, Mara Gabrilli, tetraplégica após um acidente, teve atuação destacada em defesa desta população em diversos cargos, muitos dos avanços da política brasileira na área se devem exatamente às suas atividades, e hoje é senadora pelo estado de São Paulo, e continua ativa pela conquista de espaços aos vários aspectos da população com necessidades especiais. A conquista da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência deve-se a ela e muitas outras brasileiras e brasileiros, persistentes e dedicados à causa da inclusão, que mudou o panorama do mundo do trabalho para homens e mulheres com alguma inabilidade congênita ou adquirida.

O britânico Stephen Hawking, um dos mais renomados cientistas do século, passou a maior parte de sua vida adulta sem a capacidade de falar e fazer movimentos, o que não impediu sua monumental contribuição a vários ramos da ciência como cosmologia e mecânica quântica. Estes e muitos outros exemplos mostram que estamos caminhando rumo à inclusão e acolhimento de todos, cada um de nós com suas especificidades; entretanto falta muito para atingirmos o completo reconhecimento do Outro como iguais dentro das diferenças.

Os penhascos atuais, embora não sejam físicos, podem ser emocionais. Deles atiramos outros seres humanos para a morte, ao retirarmos a dignidade e aceitação que todos necessitamos.

UM POEMA DE BLAKE

Temo o homem que só conhece um livro”, disse Tomás de Aquino, o grande teólogo medieval. O homem de um livro só é aquele cuja visão de mundo é esquemática e seu esquema é a antítese. Para ele, a existência se reduziria a um dualismo radical entre pólos irreconciliáveis: luz contra trevas, bem versus mal, alma em oposição a corpo, fiel contra infiel, hetero versus homo, etc. Essa visão de mundo tem um nome antigo: maniqueísmo.

Sistematizado no século III pelo religioso Maniqueu, que dizia ter recebido uma revelação dos anjos, o pensamento maniqueísta é o objeto do temor de Tomás de Aquino. Como pode o homem de um só livro fazer a leitura do complexo texto da existência? Esse desafio requer um leitor enciclopédico, capaz de substituir a imobilidade da antítese pela dinâmica do paradoxo: neste, os opostos não estão fatalmente separados, mas interagem na constituição do ser que, movido por suas contradições, está sempre em devir.

Fragmento de livro maniqueista de origem Uygur (VIII – IX d. C.). Fonte: Wikimedia.

Mas para que os anjos não levem a culpa pelo maniqueísmo, precisamos nos lembrar de William Blake (Inglaterra, século XVIII), homem de múltiplas leituras, artista eclético e que também dizia ter visões angelicais. Para esse místico, as injustiças sociais e a pobreza não eram obras do demônio, mas eram consequências do sistema econômico e das decisões dos governantes; para o poeta cabe ao homem superar as próprias contradições, através de novas sínteses.

Antecipando-se a Bachelard, Blake compreendeu que o real é ambíguo e que, por isso, não é irreconciliável com o sonho. No poema “The clod and the pebble”, a figura do Amor lembra menos Cupido que Janus, o deus de duas faces – metáfora do real em diferentes versões: a visão otimista do frágil torrão, o olhar pessimista da dura pedra. Ao apresentar essas versões, sem juízo de valor, o poeta supera o impasse através da arte: a síntese que recria o real em dimensão estética. Compartilho aqui a tradução que fiz desse poema.

O TORRÃO E A PEDRA

“Amor não busca o próprio gozo,
E nem se cuida com esmero,
Mas dá a outros seu conforto
E cria céus dentro do inferno.”


Assim algum torrão de terra
Cantava, sob pés, na estrada;
Mas, beira-rio, uma pedra
Responde-lhe com essa quadra:


“Amor só busca o próprio gosto
E torna o outro escravo seu,
Goza no alheio desconforto,
E faz um inferno no céu.”

A Coluna Planetário apresenta um texto escrito por Israel Blajberg: O Silêncio do Talit

O dia 8 de abril de 2021 foi consagrado para a Recordação dos Heróis e Mártires do Holocausto.

Yom haZicaron laShoá vehaGvurá!

https://escolaeducacao.com.br/judaismo/

6 milhões de inocentes. Tragédia quase 20 vezes maior que a pandemia da Covid no Brasil, que arrebatou mais de 400 mil almas até agora. Enquanto o pretenso III Reich que deveria durar 1000 anos desapareceu encoberto pela pátina do tempo, o Povo de Israel continuou sua caminhada de quase 6 mil anos e venceu. Podemos levantar bem alto essa bandeira: ESTAMOS AQUI !   A Alemanha Nazista com todo seu poderio foi vencida em sua agressão covarde contra civis judeus desarmados, incluindo idosos, mulheres, crianças, até recém-nascidos.

Detalhe de manto ritual judaico.

Apesar de milhões de baixas esta guerra foi vencida pelo Povo Judeu.  Outro número nos vem à mente neste dia – os Heróis –  temos orgulho do 1,5 milhão de bravos soldados judeus que vestiram as fardas dos Exércitos Aliados, inclusive do Brasil, e dos milhares de bravos partisans que desafiaram a besta nazista, no Gueto de Varsóvia, em Treblinka, nas florestas, em centenas de guetos onde eles tentaram resistir a uma força muito superior, um dos maiores confrontos assimétricos da Historia Universal. De certa forma, cada judeu que habita este planeta é também um sobrevivente – a prova viva de que os inimigos de Israel não prosperaram.

Há alguns anos, arqueólogos descobriram em Jerusalém fragmentos das muralhas do aquartelamento da então poderosa Décima Legião Romana, enviada pelos Césares para invadir a Terra Santa. E onde está a famosa Decima Legião, com seus guerreiros, lanças, espadas e catapultas ? Resposta – desapareceu para sempre há 20 séculos. Nada restou, além de fragmentos enterrados na Jerusalém de Ouro, capital do moderno Estado de Israel, iluminado pela luz da Torá. Hitler também tentou destruir os seguidores da Lei de Moisés, era a encarnação de Amalek, assim como Haman da Pérsia. Todos desapareceram, sem conseguir abalar a Eternidade de Israel.

https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2018/04/16/brasileira-de-23-anos-pode-colorir-quase-40-mil-fotos-em-do-holocausto.htm

No Museu de Auschwitz, em uma pequena vitrine duzias de Talit – mantos rituais, xales de oração chamam a atenção no silencio do local. Judeus piedosos os levavam nos ombros sem saber que trilhavam seu ultimo caminho, Al Kidush HaShem.  Suspensos diante dos visitantes consternados, o silencio do Talit é significativo. Testemunhas mudas da continuidade da fé. Ao longo dos milenios uma religiao pura enfrentou e venceu desafios internos e externos, sejam fisicos ou espirituais, vencendo a todos sempre com o mesmo poder do Talit, acompanhando os cânticos nas sinagogas.

Os que se omitiram ou nos perseguiram na noite negra do Holocausto tiveram suas almas maculadas indelevelmente pela marca ignominiosa de Caim. Os inocentes que eles torturaram pereceram como martires Al Kiddush haShem. Esses irmãos e irmãns nos legaram sua fé inquebrantável, seu espirito de luta, transmitido de geração em geração. Que cada um de nós esteja preparado para incorporar-se aos múltiplos elos da corrente de ouro que interliga as gerações, recebendo a bandeira de luta que os últimos sobreviventes do holocausto nos entregam, honrando assim o mandamento que a Bíblia ensina: ZACHOR – RECORDAR. 

Holocausto Nunca Mais !

Contra quem quer que seja, em qualquer lugar !

(Israel Blajberg)

Nunca digas que este é o último caminho

Ainda que nuvens de chumbo toldem o azul do céu

Um povo… entre muralhas que tombam

cantou esta canção de armas na mão!

(Hino dos Guerrilheiros – Combatentes da Resistência Judaica)

Sobre o autor:

Israel BLAJBERG – Nascido no Rio de Janeiro, seus pais emigraram de Ostrowiec, Polônia. Engenheiro, professor, tradutor, jornalista. Autor de livros, artigos e palestras sobre temas poloneses, brasileiros e judaicos, II Guerra Mundial, Holocausto e Genealogia. Realizou diversas viagens de estudo à Polônia, tendo recebido 5 condecorações do Governo Polonês e Associações de Ex-Combatentes.

Contato: iblajberg@poli.ufrj.br

Imagens retiradas da Internet, sem fins comerciais:

https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2018/04/16/brasileira-de-23-anos-pode-colorir-quase-40-mil-fotos-em-do-holocausto.htm

https://escolaeducação.com.br/judaismo