A nascente sociedade urbana da Vila de Entre-Rios e o lugar dos escravos libertos e seus descendentes. – 2ª parte.

“Aqueles que viveram em Entre-Rios por volta dos anos de 1885 a 90, não podiam prever o que seria decorrido 40 e poucos anos, este pedaço da antiga Fazenda de Cantagalo, que já é hoje um centro de grandes possibilidades, onde se vive sofrivelmente, por entre o febricitante trabalho de seus habitantes.

Quem conheceu Entre-Rios do tempo do professor Antônio Pulga, do Manoel da Travessia e da tia Senhoria; quem mais tarde assistiu ao período dos – Zés Portugueses e dos Pires, no Portão Vermelho; Virginio Emerenciano Pereira, Pereira Gomes, Alfredo e Pedro Torno e outros; quem ainda – e isso a poucos anos – assistiu o surto de progressos que deram a esta terra as iniciativas de Antônio Pereira Lopes e Vicente Dias, e hoje assiste ao esforço hercúleo para elevar sempre e cada vez mais Entre-Rios a culminância que o destino lhe reserva, certamente há de sentir prazer por morar em terra tão promissora.

Entre-Rios hoje difere muito daquele que conhecemos a 40 anos passados: difere nos hábitos e nos aspectos.

Antigamente vivia-se como se fosse uma só família, tão reduzido era o número de habitantes e tinha-se apenas a estrada “União e Indústria”, a estrada de Cantagalo e o largo de S. Sebastião, para se transitar. Tudo o mais eram apertados trilhos, por entre lagoas, pastos e moitas de marica.

O tempo foi correndo, a população aumentando e com ela os fogões; novas ruas foram abertas, começam a surgir as sociedades de toda a ordem, o estado sanitário foi melhorando e hoje, embora lhe falte água boa e um sistema perfeito de esgoto pode-se dizer que – moramos em uma verdadeira cidade onde há de tudo.

Quiséramos que o leitor que paciente nos lê, pudesse retroceder conosco aquela época distante, quando nos acercávamos do guarda da travessia da estrada dos Campos Elysios, hoje Rua 15 de novembro – o velho Dario – a ouvir-lhe as histórias, admirar-lhe os pássaros engaiolados que cantavam alegremente e gosar a sombra amiga do caramanchão existente ao lado, cuja folhagem exuberante, merecia todo o carinho do vigia atento, para então poder compreender o motivo da nossa obstinação em relembrar “coisas que passaram”, destruindo ilusões e derramando saudades, que ainda vivem n´alguns corações amadurecidos pelos anos (…)Entre-Rios foi nada, passou a ser muito, e no futuro será tão grande, que, prever se torna impossível.” “ENTRE-RIOS, o que foi e o que será”. Vê Jota, pseudônimo de Antônio Villela Junior. “Entre-Rios Jornal.” Entre-Rios, atual Três Rios. Ano II, sexta-feira, 17 de janeiro de 1936, ed. 52, p. 2.

Esta crônica do Vê Jota, escrito nos dias iniciais do ano de 1936, mantêm a característica relacionada na primeira parte deste trabalho (cronista da imprensa trirriense que mais escreveu sobre a sociedade nascente da Vila e depois distrito de Entre-Rios), apresenta-se como retrato de uma outra parcela da sociedade trirriense – diferente da apresentada anteriormente, tendo entre seus cidadãos citados, representantes daqueles responsáveis pelo “surto de progresso”; pessoas e espaços (recordados com muita saudade apesar da satisfação com o progresso conquistado), que se interpenetram demarcando ações, tempo, criando e revelando imagens e significados da vida de relação social.

Antônio Villela de Carvalho Júnior, esteve presente na formação dos principais grupos de artes cênicas, musicais, esportivos, culturais, políticos e sociais da cidade, foi vice-prefeito do Município de Paraíba do Sul/RJ, ocupou a cadeira nº 6 da Academia Trirriense de Letras e Artes. Sua crônica, publicada três anos antes da emancipação, é um registro do quanto Entre-Rios no final dos anos de 1930, difere em muito do último quarto do século XIX: “O tempo foi correndo, a população aumentando e com ela os fogões.”

Este “olhar” de um cronista que viveu o tempo histórico de formação da Vila e depois distrito, até a emancipação e formação administrativa de uma nova cidade no interior do Estado do Rio de Janeiro, no recorte temporal do início da República no Brasil, permite-me, em conjunto com textos imagéticos das fotografias deste período, perceber de que maneira, e em que espaços sociais, os negros libertos e seus descendentes estiveram presentes na formação da sociedade nascente da Vila de Entre-Rios, no pós-abolição até o final dos 40, e quanto esta inserção reflete na vida dos afrodescendentes que vivem atualmente em Três Rios/RJ.

Arte, cultura, economia, política, trabalho, educação, esporte e manifestações populares; as fotografias revelam quais os espaços conquistados ou concedidos aos negros libertos e seus descendentes na nascente sociedade de Entre-Rios. O que as presenças ou ausências nas imagens fotográficas nos revelam?

1 – Arte e Cultura

“Três Rios, ou melhor, Entre-Rios, desde a 70 anos passados [anos finais do século XIX], quando sua população era diminuta, e consequentemente, possuindo pequeno número de habitações – quase todas cobertas de zinco – começou a receber a visita de companhias dramáticas, que realizavam seus espetáculos em palcos montados no interior dos “Grandes Armazéns da Companhia da Estrada União e Indústria”, existente na área fronteira à Estação da Central do Brasil e hoje ocupada por construções modernas.” “TEATRO amador vem dos primórdios da cidade: 85 anos de cena”. Vê Jota. O Cartaz. Três Rios/RJ. Ano III, 24 de julho de 1974, nº. 149 (A).

Formaram-se no início do século XX alguns grupos de teatro amador que tiveram curta duração. Idealizado em 1913 por Vicente Dias, Alberto Silva, José da Silva Vaz e Antônio Vilela Junior, surge no ano seguinte o Grupo Dramático e Beneficente Dias Braga, encenando em 21 de agosto de 1914 no “Teatro Sul-América” o drama em 3 atos – “Condessa Diana de Rione” – e a comédia em um ato: “O Diabo atrás da porta”.

Nesta fotografia, temos os indivíduos que participaram da primeira encenação do Grupo D. B. Dias Braga: José Vaz, João Amâncio, Francisco Neves, Alfeu Braga, Virgilho Bilheri e Antônio Villela Junior, Hermínia Torres e Hercília Pereira. As duas meninas ao centro no primeiro plano são, à esquerda, Araci Vidal, e a direita, Adalgisa Villela.

“Nas áreas culturais e artísticas da Vila, o movimento tomou corpo malgrado à corrente ainda aferrada aos “preconceitos sociais” que entravava a participação de damas nas representações planejadas.” (KLING. 1969)

Hugo Kling relata a dificuldade da mulher no início do século XX, de fazer-se presente nas atividades cênicas, mas não identifica este mesmo comportamento social com relação aos negros: este grupo de teatro era formado principalmente, por comerciantes e seus filhos, não possuía negros entre seus pares.

As imagens que apresentam o corpo de diretores e os artistas, mesmo quando da comemoração do primeiro aniversário de apresentações do G.D.B. Dias Braga, em agosto de 1915, revelam que os negros não participavam destas atividades, muito provavelmente, por não se representarem entre o grupo de comerciantes, que se constituíram naquele momento, em sua grande maioria, de imigrantes estrangeiros. Demonstrando claramente que os espaços da dramaturgia se circunscreveram apenas a um grupo social da época.

Na fotografia acima em primeiro plano da esquerda para a direita: Araci Vidal e Adalgisa Vilela. Em segundo: Vilela Junior, José Vaz, Alberto Silva, Estefânia Carlinda Álvares, Iracema Almeida, e Vicente Dias. Ao fundo em pé na mesma ordem: Virgilio Bilheri, Edgar Vidal, Francisco Neves de Carvalho, Trupim P. da Silva, João Amâncio, Fernando Castilho e Pedro Fernandes.

Esta realidade parece não ter se alterado com o passar do tempo, pois 23 anos após o Grupo Dias Braga, em 1937, organiza-se nas dependências do informativo “Entre-Rios Jornal” o Grupo de Amadores Teatrais Viriato Correia – presente até os dias atuais inclusive com a dependências de um teatro próprio; que entre os seus componentes quando da apresentação da primeira peça, não possuía nenhum artista cênico negro. Reportando aos aspectos das artes – música -, no início da formação social na Vila de Entre Rios, Vê Jota escreve:

“A música começou a ser cultuada em Três Rios, não só pelas damas que se dedicavam ao estudo da música em piano, como também pelas bandas formadas pelos escravos [presentes nas cerimônias de inauguração das Estações de Entre-Rios tocando em homenagem ao imperador D. Pedro II], como a que ainda chegamos a conhecer na Fazenda de São Lourenço de propriedade do venerado Visconde de Entre-Rios, já nos primeiros anos da República e em franca decadência. O seu mestre chamava-se João Prata e desfrutava da confiança e da amizade do Visconde.” EM COMEMORAÇÃO ao nosso aniversário – prêmio Melnhaque: A melhor “História de Três Rios”. JUNIOR, Antônio Villela. “O Jornal de Três Rios”. Três Rios/RJ. Ano II, 26 de abril de 1961, nº 53, p. 2.

Relaciona este cronista ainda: a Banda Henrique Mesquita que possuía como mestre o musicista Francisco Duarte descrito como uma criatura de longos cabelos alourados, olhar doce e atitudes paternais; a charanga do Pedro Belmonte, o Grupo Musical Carlos Gomes, regido pelo professor Guerra da Costa, o Grupo da Lira fundado por volta de 1900 pelos irmãos Agnelo, Galvino e Marcolino e o Grupo Musical 1º de Maio do qual foram fundadores os ferroviários Carlos Vidal, Severino José Ferreira e Ernesto Mattos entre outros; – agremiação musical centenária que ainda permanece em plena atividade no município.

A Banda Musical 1º de Maio teve atuação importante na aglutinação da população para os comícios do movimento emancipacionista. Ao domingo percorria as ruas da cidade realizando apresentações musicais e convidando o povo para esta atividade. Jornais da época informam a participação de seus músicos em bailes, quermesses da igreja, carnavais e, acompanhando o féretro de pessoas mais afortunadas da cidade.

A população negra, liberta da condição de propriedade, utilizou-se de estratégias de mobilidade social na pós-abolição para a inserção nas sociedades urbanas. O ambiente da arte musical recebeu intensa participação e influência dos negros na formação, no caso de Entre-Rios, mas também de outros centros urbanos brasileiros, de diversos grupos instrumentais, bem mais do que nos das artes cênicas. Destacaram-se no distrito também a Banda “Jazz União” e a “Jazz Band Columbia”.

Regina Xavier (2008, p 25) afirma que, “se a cidade era um lugar de conflitos e de resistência para os escravos era, ao mesmo tempo, um lugar que propiciava espaços de convivência para a comunidade negra, importante na construção de estratégias variadas na busca de melhores condições de vida”.

Se os atributos morais da etnia negra apresentados por Vê Jota em seu artigo indicam uma visão negativa formatada pela sociedade republicana brasileira eminentemente branca – representada na sua “porção” regionalizada pela sociedade entrerriense, alguns estereótipos “positivos” valorizavam os talentos destes para “a música, para a dança ou qualquer outra atividade que a emoção sobrepujasse a razão. Observa-se que as “características da raça”, dependendo do espaço social, podem ser qualificadas negativa ou positivamente.” (ABRAHÃO E SOARES, 2003)

Os “reflexos” sociais nos “espelhos” das crônicas e das fotografias muito nos revelam da inserção do negro na sociedade pós-abolição.

Outro espaço de participação social dos negros na coletividade entrerriense ocorreu pelas atividades esportivas, especificamente, o futebol, que possuía a época representantes deste grupo em todas as equipes da cidade, o que possibilitou certa ascensão social e financeira. Mas, isso veremos na próxima edição.

Referencias:

ABRAHÃO e SOARES, Bruno Otávio de Lacerda e Antonio Jorge Gonçalves. O elogio ao negro no espaço do futebol: entre a integração pós-escravidão e a manutenção das hierarquias sociais. Disponível no site: http://comunicacaoeesporte.files.wordpress.com/2010/10/elogio-ao-negro-no-espaco-o-futebol-pos-escravidao-e-hierarquias-sociais.pdf . Acesso em: 12 de fev. 2012.

KLING, Hugo José. A Matriz de São Sebastião de Entre Rios e outras anotações históricas. Juiz de Fora/MG: Sociedade Propagadora Esdeva, 1969.

XAVIER, Regina Célia Lima. A escravidão no Brasil Meridional e os desafios historiográficos. In: RS negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre/RS. EDIPUCRS, 2008

ADJETIVO FEMININO: DICIONÁRIO DE EXPERIÊNCIAS


“Adjetivo Feminino” é composto por 59 verbetes, que dão uma ácida dimensão do que pode significar ser mulher atualmente, tendo como convincente evidência, a própria experiência feminina. Foi criado pela artista visual Marina Jerusalinsky como um livro-obra, a partir do acolhimento de relatos de mais de 40 mulheres acerca dos adjetivos que as marcaram de algum modo, durante a vida. A essas marcas, a autora acrescentou as suas próprias, além de uma minuciosa pesquisa linguística, gerando os verbetes.

O livro é dividido em 3 partes: I. Ambiente de trabalho; II. Espaços públicos e comerciais; e III. Relações pessoais. Assim é possível compreender um pouco de antemão os contextos em que os adjetivos foram usados sobre as mulheres. Alguns são amplamente utilizados na nossa sociedade, como “gostosa” e “morena”; outros são comumente generalizados a todas as mulheres, como “fraca”, ou “sensível demais”; e outros, ainda, falam de experiências bastante singulares, como “larga”, “anormal” e “bela bélica”. A autora procurou abordar com humor cada um deles, mostrando através da ironia suas dimensões machistas, absurdas, ou mesmo cruéis.

Marina Jerusalinsky nasceu em Porto Alegre, em 1990, e desde 2017 mora na capital paulista. É artista e investigadora de palavras; trabalha principalmente com ações no espaço urbano, escrita e propostas participativas. Além de participar de diversas exposições coletivas, realizou sua primeira individual pelo 3º Prêmio IEAVI, na Casa de Cultura Mário Quintana (Porto Alegre), em 2014. Atualmente cursa Doutorado em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo (USP), desenvolvendo pesquisa teórico-prática em torno das noções de transgressão e domesticidade femininas, a partir do estudo de formas de opressão sobre as mulheres ligadas à linguagem e à separação público/doméstico.

Nota: Para participar do próximo volume, entre em contato: marijeru@gmail.com, ou @marina.artetexto (no Instagram).

Fotos: Bruno Tarpani

ALGUNS VERBETES:

Au.to.ri.tá.ria

  • Dito de pessoa em cargo de chefia que se apoia na autoridade, na prerrogativa e no poder de comandar, porém possui o defeito de não ser do gênero masculino.
  • Mulher que impõe respeito e obediência por sua postura ou expressão enérgica, impositiva, gerando pânico e desespero entre defensores dos padrões normativos de gênero.
  • Também conhecida como “braba” ou “mandona”.

(Da seção: Ambiente de Trabalho)

Fo.fa

  • Que é encantadora, graciosa, “meiga” (ver entrada).
  • Termo utilizado por indivíduos com grave distúrbio, que consiste em, ao assistir a seminários, conferências, palestras ou similares, independentemente do tema abordado, considerar que a questão mais relevante é a fofura da oradora.

(Da seção: Ambiente de Trabalho)

Gos.to.sa

  • Pedaço de carne com curvas acentuadas que, ninguém sabe bem como, consegue transitar pela cidade.
  • Mulher sexualmente apetecível que involuntariamente atrai machos com capacidade de fala rudimentar.

(Da seção: Espaços Públicos e Comerciais)

A.nor.mal

  • Mulher que participa de organizações ou movimentos sociais e políticos, apresentando parâmetros insatisfatórios de normalidade, pois mulheres normais não se preocupam com questões para além do lar.
  • Que tem problemas mentais, manifestando e insistindo repetitivamente em ideias absurdas, como a liberdade do corpo feminino.
  • Mulher extraordinária.

(Da seção: Relações Pessoais)

Cu do.ce

  • Mulher que, por não ter nada melhor para fazer, gasta boa parte de seu tempo e sua energia seduzindo um homem com o único propósito de posteriormente negar suas investidas.
  • Termo usado por homens que não entendem o significado da palavra “não”.

(Da seção: Relações Pessoais)

Sen.sí.vel de.mais

  • Mulher que se afeta ou se impressiona por coisas insignificantes, como que gritem com ela.
  • Emotiva, sentimental; que chora exageradamente por qualquer mínima violenciazinha.
  • Ver também: “vitimista”.

(Da seção: Relações Pessoais)

Serviço:

Livro – Adjetivo Feminino: Dicionário de Experiências

Editora- Atelier Editora

Preço- R$ 28,90 

Frete de 6,00 para todo o Brasil

Capa brochura

Impresso em papel Pólen Bold

Dimensões- 10,5 x 15 cm
92 páginas
1ª edição

Para comprar ou obter mais informações: ateliercultura.com.br/adjetivofeminino

Media Culture in Language Education

Communication channels have huge and intensive impact on cultural matters in society, and so, on human education. Middle and high school students come to the classroom embodied in mediatized cultures. They hold a great range of information and learn several different contents that are taught by the media every day.

The use of digital and electronic media in education render different attitudes by school teachers though.  On the one hand, there are teachers who refuse to use them for a number of reasons: they lack technical knowledge, they keep negative or apocalyptic views of the media; also, there are those who prefer to use traditional teaching tools, such as, blackboards and copy notebooks followed by very ordinary methods of teaching.

Furthermore, on the grounds of a technicist perspective of the use of media tools in education, there are those teachers who choose media-based approaches that reproduce values, beliefs and stereotypes about people and society with no educational goals at all. Thus, these   tools  set  rules and methods, tasks and contents in the classroom.

On the other hand, the overuse of these tools by teachers and educational institutions is of great concern, since they can be often introduced in school and/or academic activities with no critical sense. Therefore, how can media tools be critically and effectively used to foster cultural and educational development of students?

Pedagogical experiences based on the theoretical perspective of Media Education (PENTEADO, 1998; PORTO, 1998; MARTIRANI, 1998; KELLNER, 2001) imply a meaningful and subjective dialogism with digital, electronic and printed media. The aim is to go beyond language signs, social representations, and implicit discourses in order to educate students towards critical thinking and language awareness development, contributing to their political and cultural empowerment.

That theory requires clear articulation between methodology, media and student education. Media contents are to be seen as ‘authentic materials’ in foreign language teaching which can be analyzed in two categories: arising themes (FREIRE, 1978) (critical thinking provides an opening for questioning and critical analysis of human, historical, political and social themes); language focus (language awareness of   listening, speaking, reading, writing, pronunciation, vocabulary, and grammar teaching).

In 2015, a group of undergraduates from  Letras Inglês at a state university in northwestern Paraná State, studied about pedagogical uses of the audiovisual media to English language teaching.

As a final output, they ended up suggesting seven possible uses of  audiovisual media in English language teaching within a systematic methodology: a) purposes; b) reasons for the selected audiovisual media; c) a survey of arising theme(s) for discussion in the classroom; d) possible language focus, and e) student learning expectations. These audiovisual media consisted of five films, a cartoon and a documentary.

FILMS:

(1) Arising themes: Dislexy and Alternative teaching/learning methodologies
Prime Video: The Blind Side
(2) Arising themes: Prejudice, Love and Overcoming
O Grande Ditador – Wikipédia, a enciclopédia livre
(3) Arising themes: Dictatorship, World War II and Tolerance
The Bucket List (2007) - Rotten Tomatoes
(4) Arising themes: Life and Death
(5) Arising themes: Holocaust, Xenophobia and Survival

CARTOON:

The Marvelous Misadventures of Flapjack (Western Animation) - TV Tropes
(6) Arising themes: Sexuality, Gender and Stereotype

DOCUMENTARY:

(7) Arising themes: Religion, Extremism and Victims

REFERENCES:

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

KELLNER, D. A cultura da mídia: estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001.

MARTIRANI, L. A. O vídeo e a pedagogia da comunicação no ensino universitário. In: PENTEADO, H. D. Pedagogia da comunicação: teorias e práticas. São Paulo: Cortez, 1998. p. 168.

PENTEADO, H. D. Pedagogia da comunicação: sujeitos comunicantes. In: ______. (Org.). Pedagogia da comunicação: teorias e práticas. São Paulo: Cortez, 1998. p. 13.

PORTO T. M. E. Educação para a mídia: pedagogia da comunicação: caminhos e desafios. In: PENTEADO, H. D. Pedagogia da comunicação: teorias e práticas. São Paulo: Cortez, 1998.

IMAGENS:

(1) Disponível em: http://snshdwallpapers.blogspot.com/2012/12/taare-zameen-per-wallpapers.html

(2) Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Um_Sonho_Poss%C3%ADvel#/media/Ficheiro:Blind_side.jpg

(3) Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grande_Ditador#/media/Ficheiro:The_Great_Dictator_(1940)_poster.jpg

(4) Disponível em: https://www.rottentomatoes.com/m/bucket_list

(5) Disponível em: https://www.amazon.com/Anne-Franks-Holocaust-None/dp/B00ZE501RS

(6) Disponível em: https://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/WesternAnimation/TheMarvelousMisadventuresOfFlapjack

(7) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VvYRRh3lhV4

NOTA: Trabalho apresentado pela autora no evento Second Annual Latin American Conference for Teacher-research in ELT em Buenos Aires, Argentina, em 2017, sob o título “English language teaching through audiovisual media in a Brazilian teacher education program”.

OS SONS E OS SENTIDOS

A professora Maria Esther Maciel, em uma crônica publicada no “Estado de Minas”, relata o seguinte: uma amiga ouvia em seu carro o Prelúdio da Suíte n° 2 para violoncelo, de Bach. No posto, o jovem frentista, antes de encher o tanque, ficou um tempo junto à janela do carro, atento ao som que vinha lá dentro e disse que aquela era a música mais linda que ele já tinha escutado.

Depois, ao trazer a maquininha do cartão, perguntou que música era aquela, tão maravilhosa. A amiga de Maria Esther fez uma cópia das seis Suítes para solo celo, na interpretação de Antônio Meneses, e levou-a, no dia seguinte, para o frentista que tinha ouvidos para ouvir muito além dos hits que nos são impostos no dia a dia.

Do jornal para um livro de cabeceira: “Fenomenologia da obra literária”, de Maria Luiza Ramos. Não se assuste, vou só reproduzir o caso com que ela ilustra o papel da intuição sensível. Veja só o que a professora conta: “Certa vez reunimo-nos em casa com alguns amigos, a ouvir uma série de poemas gravados, quando a empregada, que tirava a mesa do jantar, parou à porta e ali permaneceu até o final da audição.

Chamou-nos a atenção o seu inesperado interesse e, quando lhe perguntamos se havia gostado, respondeu num suspiro: – É tão lindo!” A empregada era analfabeta e “os poemas eram de difícil apreensão, até mesmo para pessoas iniciadas”.

Um desses poemas era o soneto “Entre a raiz e a flor” de Jorge de Lima, que transcrevo no final desta crônica, para que compartilhemos um pouco da experiência narrada. E Maria Luiza conclui: “O que sensibilizou a mulher foi a voz do declamador, o ritmo dos versos, a musicalidade das frases, a pura emoção, afinal”.

“Existe texto e existe repetição”, disse outro autor de cabeceira, Roland Barthes. Os sucessos que infestam a mídia são da ordem da repetição. Músicas como as de Bach, poemas como os de Jorge de Lima, se situam no campo da textualidade: o que transforma a linguagem em “casa do ser”.

Para rematar: não é preciso iniciação nem erudição para experimentar a epifania do ser: basta ser capaz de abrir-se para o que não é o mesmo, para o que não é o óbvio, para o que não é repetição, para o que significa, no dizer de Gabriela Llansol, “o encontro inesperado do diverso”.

Entre a raiz e a flor: o tempo e o espaço,
e qualquer coisa além: a cor dos frutos,
a seiva estuante, as folhas imprecisas
e o ramo verde como um ser colaço.

Com o sol a pino há um súbito cansaço,
e o caule tomba sobre o solo de aço;
sobem formigas pelas hastes lisas,
descem insetos para o solo enxuto.

Então é necessário que as borrascas
venham cedo livrá-la da cobiça
que sobe e desce pelas suas cascas;

que entre raiz e flor há um breve traço:
o silêncio do lenho, ― quieta liça
entre a raiz e a flor, o tempo e o espaço.

LIMA, Jorge de. Poesia completa. Org. Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p.474.

“Balance” – Ilustração de Kevin Sloan