Um pouco de coragem

Na última coluna eu falei sobre a necessidade de criar espaços, de conhecer o silêncio para saber o que fazer com essas “horas brancas”. Mas hoje eu quero falar sobre o oposto: sobre a necessidade da conversa, sobre a interação com o outro.

Na última coluna eu falei sobre a necessidade de criar espaços, de conhecer o silêncio para saber o que fazer com essas “horas brancas”. Mas hoje eu quero falar sobre o oposto: sobre a necessidade da conversa, sobre a interação com o outro.

E isto envolve muitas coisas, porque essa interação nem sempre significa uma troca agradável. Pra se relacionar com o outro de verdade é preciso estar disposto a abrir não apenas o seu melhor, mas também o seu pior e conhecer, por sua vez, também ambas as versões do outro (porque todo ser humano possui ambas).

É preciso estar preparado para a fragilidade nossa e do outro. Também para o fato de que nem sempre dá pra estar bem. Com o outro, ou sem ele.

Afinal, basta querer estar bem pra estar bem? Não. Às vezes por maior que seja o esforço pra pensar positivo, os acontecimentos nos pegam. Parece que nunca estamos preparados pra hora ruim, como se o mal acontecesse apenas na casa do vizinho, e se chega a nossa vez, como nos indignamos!

Outras vezes, é a falta de acontecimentos que nos pega, e aí caímos na história da última coluna, porque o marasmo muitas vezes envolve uma outra profundidade, que é a solidão.

Solidão necessária, inevitável, irremediável. E que nos assusta imensamente: estar conosco apenas.

Mas precisamos do outro, somo seres sociáveis. É necessário interagir, compartilhar e, até mesmo nas divergências, botar os pingos nos is, dialogar, buscar através da comunicação (sempre precária), um entendimento.

Muita gente prefere deixar o tempo agir, em vez de se arriscar numa discussão. Mas a conversa, mesmo quando se inflama, ainda é uma tentativa de conexão com o outro, é uma insistência no convívio, é um pouco de coragem.

Porque o rompimento é prático, mas não é “humano”. É uma desistência, e num mundo de relações superficiais e grande dificuldade de aprofundamento, não deixa de ser uma coisa triste.

Temos que aprender (se ainda não aprendemos) a romper com o que nos faz mal, – mas não deixa de ser uma coisa triste.

Por outro lado, algumas questões precisam ter vazão. Não dá pra segurar tudo dentro da gente, e conversar pode ser uma maneira de abrir uma vaga no peito, na alma, também um “espaço” para coisas novas, coisas boas, renovar as esperanças.

ainda bem que há lágrimas

quando os sentimentos já não tem onde se assentar

elas liberam uma vaga

uma cadeira vazia

pra sentar, ver o tempo

Não vale a pena passar por cima de tudo, dos próprios sentimentos, da necessidade de conversar algo que nos incomoda pra passar um perfil superior, o ser civilizado acima do ser verdadeiro, real e humano.

A gente precisa do outro e essa necessidade só se completa com ao menos a tentativa de comunicação. É certo que nunca ela será inteira, é muito difícil transmitir o que vai dentro, e o próprio ato de transmissão já a deturpa. Mas ao menos a tentativa é necessária.

E o quanto não alivia uma boa conversa com quem está (ou finge estar) realmente interessado nas vivências da gente! E como é compensadora uma boa hora de papo jogado fora, ou de confidências singulares entre pessoas que se gostam e se aceitam apesar de seus defeitos e falhas…

ouça esta canção e entenda com o coração o que não está dito.

Tags:,
Lári Germano é autora dos livros "Cinzas e Cheiros" e "En plein air - ao ar livre". Conheça e adquira os trabalhos no site www.larigermano.com. Lári escreve também na página pessoal do Facebook e nos Instagrams @lari poeta e @lariprosaetrova . É compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud, Twitter e Youtube. A foto do logo é assinada pelo fotógrafo Fernando Pilatos www.fernandopilatos.com.br.

Deixe um comentário