TRADUZINDO O MUNDO…

O sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, um dos mais considerados pensadores da área educacional nos dias de hoje, disse em recente entrevista que “todo conhecimento é uma tradução, que é seguido de uma reconstrução, e ambos os processos oferecem o risco do erro”.

Todo aquele que já tentou realizar uma tradução de texto, por mais simples que seja, entende bem a cada idioma tem suas peculiaridades, manter-se fiel ao espírito desejado pelo autor do documento, poesia, ensaio, escrito literário, não é simples, envolve escolhas delicadas, a palavra exata, e muitas vezes é possível alterar bastante o conteúdo imaginado inicialmente. Um adágio popular proclama que todo tradutor é um traidor; isso acontece porque nós, seres humanos, somos simultaneamente análogos e distinguíveis, parecidos e diferentes, e tudo aquilo que nos une pode também nos separar.

Reconstruir tem a mesma característica, o novo nem sempre guarda do anterior algumas características que apreciávamos, não por coincidência várias campanhas políticas têm sido vencedoras com uma espécie de apelo ao passado, àquilo que era antes, algo que perdemos no avanço para o futuro.

Todo estudante quando tem suas primeiras aulas de Física é apresentado formalmente aos conceitos de tempo e de espaço, embora tenha convivido praticamente toda a sua vida com essas grandezas e suas consequências, é geralmente neste momento que elas parecem começar a existir racionalmente. Espaço é mais fácil de compreender, pois associável a valores materiais e mensuráveis: metro, quilômetro, milímetro… já o Tempo, embora também mensurável, é imaterial e, na verdade, apenas existe como referência.

(http://nsrainha.com.br/content/uploads/Artigo-Espa%C3%A7o-de-tempo-11072016.jpg)

 

Quando se fala de qualquer momento, está se falando do momento que já passou (mesmo que há um milissegundo) ou da expectativa do momento que há de vir. A captura do exato momento presente é um desafio que resiste aos milhões de “selfies” feitos na tentativa de congelá-lo.

É como se a nostalgia constituísse um sentimento dominante na ordem mundial, o passado cada vez mais desejável e representativo do que é bom, o presente trazendo dor, revolta, ressentimento e uma absoluta falta de perspectiva em relação ao futuro. Como se só nos restasse o já transcorrido, que na lente da memória se torna cada vez mais rosado.

Assim, pensar em conhecer algo como uma necessária tradução seguida de reconstrução pode assustar bastante, pois poucos espaços de convivência humanos trabalham tão fortemente com o conhecimento de forma tão fragmentada quanto as escolas, em qualquer nível. Se a isso somarmos o fato de que aprender não é apenas um processo racional, dado que muito da emoção está associada à aprendizagem, a complexidade deste ambiente é surpreendente.

Entender e operar bem dentro deste enredamento, com as mudanças profundas ocorridas no processo educativo nestas últimas décadas, tanto provocadas pelo avanço tecnológico, pelas alterações políticas e econômicas, quanto pela maior compreensão da dialética razão-sentimentos, leva à necessidade de compreendermos melhor o mundo em que vivemos, seus problemas e possíveis soluções, ao mesmo tempo em que necessitamos aperfeiçoar a solidariedade e empatia, pois soluções globais exigem empenho e dedicação de todos.

Quem somos, sem ilusões sobre nosso possível caráter angelical, como convivemos dentro da identidade de cada nação sobre o planeta, o quanto podemos confiar na ciência e tecnologia que desenvolvemos, até que ponto inclusão não é apenas um discurso repleto de boas intenções e sem respaldo na realidade de nossas ações, são quesitos que ainda merecem reflexão.

Traduzir o mundo, ensinando aos jovens como sobreviver sem destruir o meio ambiente, conhecendo melhor a si mesmo e aos demais, tornando-se um bom profissional e cultivando a linguagem da paz, ainda é missão perseguida pelos professores, embora nenhum de nós domine o idioma da verdadeira fraternidade.

Pé na estrada 2

Assim como no primeiro volume de “Um lugar na janela”, Martha Medeiros reúne experiências suas longe de Porto Alegre. Desta vez, o itinerário inclui desde um show dos Rolling Stones no Hyde Park até um retiro em Cascais, passando por uma visitinha a um santuário asiático em que os devotos depositam milhares de pênis de madeira.

EM FOCO: MAISON EUROPÉENNE DE LA PHOTOGRAPHIE

“O essencial é invisível aos olhos”
(Antoine de Saint-Exupéry)

Em fevereiro deste ano visitei um importante museu de fotografia que me agradou muito, e do qual trago excelentes recordações. Com a sigla MEP, a Maison Européenne de la Photographie  está situada no coração do bairro Marais, em Paris, e é dedicada à fotografia contemporânea, oferecendo aos visitantes um centro de exposições com mais de 20.000 obras de fotógrafos internacionais a partir dos anos cinquenta até os dias de hoje.

A instituição possui também uma biblioteca com um panorama da edição fotográfica e uma videoteca de filmes realizados por fotógrafos ou sobre eles. Nesse dia, a biblioteca e a videoteca não estavam abertas ao público devido a reformas no espaço. Na entrada do museu fui cumprimentada por funcionários que de forma simpática e acolhedora me ajudaram a entrar na maison e circular por lá… eu estava usando bota ortopédica devido a uma fratura no pé, ocorrida algumas semanas antes de viajar.

Colagem de Lee Friedlander, na entrada da MEP

 

Um pouco da História da MEP:

Fundada em 1978 por iniciativa de Henry Chapier, Jean-Luc Monterosso, Marcel Landowski e Francis Balagna, a Associação “Paris Audiovisual” é a origem da Bienal Internacional do Mês da Fotografia em 1980, cujo sucesso e a presença maçiça do público em geral têm ajudado a criar uma relação especial com a Prefeitura de Paris que se tornou ao longo dos anos, a primeira parceira e principal financiadora de suas ações.

É assim que em 1985 a cidade de Paris coloca à disposição da Associação do “Espaço Foto”, situado próximo da localização atual do Fórum das Imagens, a Place Carrée. Esta primeira galeria de 400 metros quadrados funcionou sob a direção artística de Jean-Luc Monterosso, e já representava o embrião da futura Casa Europeia da Fotografia por sua programação destinada ao conhecimento  de obras de artistas franceses e estrangeiros, a maior parte deles hoje famosa, mas que na época eram apenas considerados os pioneiros do movimento contemporâneo da fotografia, criando uma ruptura com o passado da imagem fixa, artistas como Robert Frank ou William Klein.

Nesta linhagem de artistas, encontrava-se no “Espaço Foto”, exposições de Duane Michals, Helmut Newton, Alice Springs e Ralph Gibson. Além disso, Henry Chapier inaugura uma exposição em 1986 para comemorar os 50 anos da Frente Popular, a partir dos arquivos do C.G.T. com fotos inéditas de Willy Ronis e Robert Doisneau sem esquecer de imagens raras do mundo da moda e do entretenimento.

Com a aproximação da década de 90, a Associação “Paris Audiovisual” assume um duplo papel, o de promover uma política artística e cultural para os parisienses e paralelamente tem a ambição de fazer do Mês da Fotografia uma ponta de lança capaz de consagrar a Cidade Luz como a capital inconteste da fotografia.

 

Fonte: https://lesmuseesdeparis.com/2017/08/02/maison-europeenne-de-la-photographie/

 

Exposições

A cada ano, a MEP propõe diversas exposições, com artistas de todos os horizontes criativos, convidando grandes nomes assim como jovens talentos a expor suas obras.

A Biblioteca

Com mais de 30.000 títulos, a biblioteca da MEP é um local de referência na matéria para pesquisadores, estudantes e amantes da fotografia.

A Livraria

Permanecendo aberta de quarta a domingo, a livraria  da MEP propõe obras em conexão com as Exposições e uma seleção composta de livros e revistas selecionados sobre artistas que fazem e que fizeram a história da fotografia.

A Coleção

A Coleção da MEP conta com mais de 20.000 fotografias. A mesma não é exibida permanentemente, mas é regularmente mostrada na França e no exterior como parte de grandes exposições.

Fonte: https://www.jr-art.net/exhibitions/murs-de-la-maison-europeenne-de-la-photographie-paris

 

A Vídeoteca

A Videoteca da MEP conta com cerca de 750 filmes consagrados à fotografia, ficções realizadas  por fotógrafos, filmes experimentais, e entrevistas,  disponíveis para consulta no local.

O Auditório

Auditório da MEP tem recebido muitas projeções e conferências, possibilitando ao público ver e ouvir grandes fotógrafos e profissionais da área.  A grande reabertura  se deu durante o ano  de 2013.

O ARCP

A MEP abriga também dentro de seus  muros o Atelier de Restauração e de Conservação de Fotografias da Cidade de Paris. Desde 1983, está em curso uma política de preservação do patrimônio fotográfico municipal.

Ateliers de fotografia para crianças e adolescentes. Fonte: https://www.parismomes.fr/nos-adresses/15-217-1099/musee-lieu-culturel/la-mep-maison-europeenne-de-la-photographie

 

Ações Pedagógicas

A MEP realiza ações educativas também com crianças através da fotografia. A fotógrafa Cyntia Mancuso realizou em abril deste ano uma oficina com crianças entre 7 e 10 anos, justamente para sensibilizar os pequenos e fazê-los experimentar “ver”, muito mais do que somente “olhar”.  Utilizando as emoções vindas dos outros sentidos, mais do que somente da visão, como o paladar, a audição, o toque e o olfato são colocados em ação para perceber o mundo ao redor, e expressar essas sensações em imagens.

“Feche os olhos … o que resta do mundo exterior, suas cores e suas formas? Que impressão deixa em nossas memórias? Que imagens continuam em nossa mente? elas são as mesmas para cada um de nós? Abra os olhos… o olhar vai muito além da visão! Ele questiona o mundo, projetando nossas emoções guiando nossos passos, influencia nosso ambiente. Nossa vez de fazê-lo aparecer em imagens!”

Exposição “Nova Dheli”

Algumas fotos e registros abaixo das instalações, estrutura, fachada, decoração e da exposição que estava em curso na MEP em fevereiro de 2017, “Nova Dheli”, sobre a qual Johann Rousselot escreveu na apresentação do ensaio fotográfico: “Brutalmente contemporânea, Delhi é uma selva na qual cada um tenta sobreviver à sua maneira, se protegendo quotidianamente, sem o qual ela o devora.”

 

“Imagens contemporâneas de Nova Delhi”

“Tradição e modernidade na capital da Índia”

 

“Visitantes podem apreciar a exposição e assistir à vídeos relativos ao tema”

 

“Contradições da sociedade indiana são retratadas em fotos.”

 

“As mesas têm fotografias antigas da cidade de Paris impressas em seu tampo.”

 

 

“Perspectivas inusitadas da cidade por toda a parte.”

“Fotos de natureza têm uma iluminação especial”

“Toda a decoração foi pensada para tornar a Maison um local muito aconchegante.”

 

 

“Cantinho perfeito para um café enquanto se observa e discute fotografia.”

 

 

 

 

 

“Espaços de sociabilidade e reflexão na MEP.”

 

“Fachada da MEP na Rue de Fourcy, Paris.”

 

“Ambientes expositivos que lembram cavas e bunkers.”

 

“Uma tela viva e movente, passa diante da Maison.”

 

” Pausa para descanso dos olhos e dos pés.”

 

 

Maison Européenne de la Photographie

5/7 rue de Fourcy 75004 (métro: Pont Marie or Saint-Paul)

Site oficial: www.mep-fr.org

Texto e Fotos: Izabel Liviski e MEP

 

 

Um terço

Para a nota da semana, uma crônica ou quase ou isso: “Na maciez costumeira do quarto, no frio, que é pomo estranho, mas, de muitas formas, saboroso, eu sei os seus olhos de perto”.

Medo, violência e poesia

O poeta Fabio Weintraub, paulistano nascido em 1967, publicou alguns livros de poesia cuja temática principal é a cidade. Em Novo endereço, livro publicado em 2002, o eu-lírico descreve habitantes que se encontram perdidos, arruinados e à margem da sociedade, tentando encontrar um espaço e motivo para viver.