O QUE FOI O HOLODOMOR?

Curitiba vai receber a partir desta sexta-feira, dia 10/11, uma impactante e inédita exposição de fotografias e documentos a respeito do Holodomor, fato histórico ainda pouco conhecido no Brasil, e deliberadamente ignorado por alguns outros países.

Curitiba vai receber a partir desta sexta-feira, dia 10/11, uma impactante e inédita exposição de fotografias e documentos a respeito do Holodomor, fato histórico ainda pouco conhecido no Brasil, e deliberadamente ignorado por alguns outros países. Para entender melhor do que se trata, entrevistamos através de e-mail, o Pe. Domingos Starepravo*, da Ordem de São Basílio Magno (OSBM), morador de Ivaí no Paraná, e Curador da mostra. **

1. O que significa Holodomor, é o mesmo que genocídio?

O significado etimológico em ucraniano significa, matar pela fome, ou fome forçada. No ocidente, foi conhecido como “A grande Fome”. A fome forçada aconteceu em um pais mundialmente conhecido como o celeiro da Europa, onde brilhavam como ouro os campos de trigo maduro e desde seus bisavós, avós e pais, cultivavam sempre estas terras negras, consideradas como as melhores terras do mundo, por serem verdadeiros “Humus”, esta terra não necessita de fertilizantes. Diz o escritor de “The Invisible Writing”, Arthur Koestler (The Macmillan Co. New York, 1954), que presenciou algumas cenas: “Vi crianças que eram como cadáveres mamando nos peitos das suas mães secas e famintas, parecia que não era leite, mas o próprio fel”.

Além disso, houve ainda mortes por fuzilamentos em massa nos cárceres e nos Campos de Concentração, milhões de deportações, só para a Sibéria foram deportados 5 milhões e 950 mil pessoas. Estes sofreram torturas, trabalhos forçados na Sibéria, Extremo Oriente e outros lugares mais remotos do Polo Norte. Houve ainda a  liquidação das Igrejas Ortodoxa Autocéfala e a do Rito Bizantino Católico, com as prisões dos seus Bispos, Arcebispos e Metropolitas (Arcebispos Maiores).

Acervo da mostra

2. Onde aconteceram exatamente esses fatos e quais foram as maiores vítimas?

Tomada pelo exército russo-comunista em 1920, o território desta tragédia foi a UCRÂNIA ORIENTAL, os territórios além do Rio Dnipró – Margem esquerda do grande rio. Ali existiam as mais lindas aldeias, os colonos mais ricos e um nível de vida invejável. Cada chácara ou fazenda era muito bem organizada com casas boas e confortáveis. E já em 1922, 8 milhões de pessoas estavam passando fome. Conforme os dados da Organização de Genebra, 700 mil crianças foram para orfanatos e destas 50% morreram de fome. E diz ainda que: em 1922 a cada dia morriam 10 mil pessoas. G.G. Ficher (New York, 1927) confirma, – “Recolhia-se cadáveres cedo e a tarde nas cidades, nas vilas, fazendas coletivas que eram simplesmente jogados em valas comuns já preparadas por outras vítimas, ainda vivas, mas que depois tinham o mesmo fim.

E alguns ainda com vida eram jogados ali para serem enterrados. “No desespero para sobreviver as pessoas faziam de tudo, comiam tudo o que achavam, como lesmas, sapos, ratos, cães, gatos, lagartos, folhas e brotos de arvores e até capim, comiam cavalos e vacas mortos, iam ao extremo, chegou-se a comer cadáveres de outras pessoas. Mas o pior de tudo isso aconteceu que em algumas aldeias chegou-se ao canibalismo, na busca desesperada de salvar a própria vida matava-se os próprios filhos pequenos para assim cozinhá-los e comer com a esperança de sobreviver. Estes fatos estão devidamente registrados nas delegacias das regiões em crise. 

Acervo da mostra

 

Apesar de todos esses fatos, o conhecido escritor e intelectual inglês BERNARD SHAW, no seu regresso de Moscou em 1933 assim se expressou: – “Lá não existe nenhuma espécie de Fome”, no entanto ali ele comeu um dos maiores almoços de sua vida. Com esse tipo de método, as pessoas interessadas desde o exterior, ficavam totalmente ignorantes sobre o que ocorria de fato na Ucrânia.

Na exposição, se apresenta a epígrafe de ROBERT CONQUEST, um destacado investigador norte americano, professor da Universidade de Stanford e autor do livro “HARVEST OF SORROW” (Colheita de Desesperos). Conquest escreveu: “Moscou planejou a Fome para destruir os camponêses ucranianos, como bastião nacional. Os Camponeses Ucranianos foram destruídos não por serem camponeses, mas por serem camponeses ucranianos.”

Conquest é um dos autores internacionais que mais se destacam no conhecimento do Holodomor, porque ele viu e presenciou com seus próprios olhos. Lenin e seus camaradas concluíram que a nacionalidade e a língua ucraniana eram de fato um elemento de grande peso, e que o regime que ignorasse isso de maneira ostentosa estaria fadado a ser considerado pela população como uma mera imposição usurpadora. Esta é uma página da nossa história universal que jamais pode ser ignorada, ou levada ao esquecimento.

É o GENOCÍDIO de milhões de ucranianos e também de outras nacionalidades. É um período negro da história que o mundo livre não quis ver e reconhecer na época dos acontecimentos. Podemos até sem medo de ofender ninguém, dizer: – Foi um período satânico. Porque foi o tempo que o ser humano perdeu completamente o senso de respeito pelo outro ser humano, no período da implantação do comunismo, do regime ateu-russo.

Acervo da mostra

Logo após a queda do Czarismo, no ano de 1917 e em 1918 houve uma tragédia da batalha assim chamada de “KRUTY” em 27 de janeiro, onde perante a negligência das autoridades da época, assim chamada de “Verxóvna Ráda”:  Aproximadamente 500 estudantes da Escola Militar entre 12 a 15 anos, preocupados com a situação da eminente ocupação comunista que se aproximava, saíram armados com o seu diretor e alguns professores para defender a Capital Kiev. E por erro de estratégia caíram em uma emboscada após uma noite de batalha sem nenhuma vítima. Mas foram alertados que deveriam recuar, e assim recuando do lugar da batalha mais de 300 adolescentes morreram. Já estando mortos os inocentes meninos ainda tiveram seus olhos perfurados por espadas ou baionetes.

Acervo da mostra

Também outros membros do corpo das vítimas foram cortados de forma bárbara. Os relatos desta tragédia sem igual na história da humanidade são indescritíveis, a ponto de fazer a capital cair de joelhos diante desses mártires, registrando em seus arquivos: «Злочин» pg.47, “Жахлива Жостокість, Хитрість і Лукавство” – (Violência horrível, falsidade e maldade). Este fato levou à comoção nacional e acordou o patriotismo, mas já era tarde demais. No ano de 1917 a Igreja Ortodoxa Russa perdeu o seu papel de orientadora espiritual da população, mas tornou-se coadjuvante principal para a implantação da Ideologia Marxista e do regime Bolchevique-Comunista. E problemas da vida espiritual começaram ser resolvidos através de escritos literários e filosóficos intensificando-se assim o ensino materialista.

A primeira igreja a sofrer perseguição foi a Ortodoxa Autocéfala, que foi planejada e implantada pelos verdadeiros patriotas que assim queriam salvar a pátria, mas ela própria logo foi presa fácil e destruída pelo regime, onde 2 arcebispos, 36 bispos e 3.000 padres, todos juntamente com seus fiéis morreram em “СОЛОВКИ” e outros campos de concentração, entre os 230 campos, sendo que 20 destes eram ultra secretos. Em 1942 do total destes fiéis deportados, voltaram somente 270 padres, todos doentes, inválidos e com terríveis lembranças das atrocidades sofridas. O metropolita Vacylh Lypkivshkyj foi fuzilado em Kiev em novembro de 1937. Com a igreja aniquilada e os seus belíssimos templos com cúpulas douradas transformados em prisões em condições desumanas, resultaram em 30.000 cadáveres retirados das igrejas-prisões. Nesses locais  havia gente de várias nacionalidades: Cáucaso, Ásia Central, Tártaros e da própria Ucrânia Oriental.

Selo em memória do holodomor.

 

3. Esse genocídio se deu principalmente em função da falta de alimentos, concorreram ainda outros fatores  nessa tragédia?

O Genocídio da Nação Ucraniana e de outras nacionalidades é um fato histórico inegável, comprovado por inúmeras publicações, cerca de 6.000 títulos. Todos eles contendo material de arquivos fidedignos públicos e secretos das autoridades da época. Por isso, são provas fidedignas – e comprovadas pelo linguajar dos historiadores oficiais existentes e vistos pelos olhos de testemunhas (que ainda vivem tanto na Ucrânia atual e no mundo livre) e essa história foi escrita e baseada em documentos oficiais existentes nos arquivos. Também estes escritos são de vários países do mundo e idiomas diferentes e alguns escritos por historiadores russos, claro que com uma certa tendência de minimizar os fatos. Os arquivos conservam-se na Ucrânia, na Russia e em outros países da Europa, e todos eles comprovam os fatos da grande fome provocada artificialmente e intencionalmente.

As causas desta fome artificial foram:

A) – COLETIVIZAÇÃO SOCIAL – Coletivização planejada e executada pelo regime totalitário, que destruiu e arruinou 4.600.000 (quatro milhões e seiscentos mil propriedades rurais e que impôs prejuízos catastróficos à República Ucraniana, fato este que jamais será reparado pela história e por ninguém. Retirou por este meio de coerção e tortura 6 milhões e várias centenas das terras produtivas dos colonos. Também após a Coletivização uma grande quantidade do gado morreu no inverno por causa do intenso frio nas recém-criadas fazendas coletivas-estatais, criadas pelo regime, as assim denominadas “KOLHOSPY”. Elas não foram adaptadas para isso, com instalações de aquecimento artificial, o que não ocorria na casa do colono, porque a vaca tinha um lugar junto da casa, e era aquecida pelo calor do fogo juntamente com seus proprietários. Mas também morreram por falta de alimento.

B) – “KOLHOSPY” (fazendas coletivas) –  Inventadas e planejados pelo ditador  Stalin, que deviam tornar-se fábricas de produtos agropecuários. No ano 1934 já existiam 24 mil destas fazendas que uniram 4 milhões e 600 mil das propriedades rurais dos colonos retirando-lhes as terras e a propriedade, toda a comida, roupas e todos os pertences. E já bem antes, no ano de 1932 mostrou-se que era um método improdutivo que deixou 9 milhões de pessoas sem alimento e sem meios de sobrevivência. Foi intencionalmente proibida a distribuição de alimentos forçando assim a fome coletiva de milhões de seres humanos. Por decreto deviam levar o próprio pão ao trabalho forçado, mas como já não tinham nada acabavam morrendo de fome nas ruas, campos, casas etc. Neste projeto a intenção era expressa e consciente de privar os colonos de todo e qualquer alimento, essa situação chegou a extremos até de canibalismo.

C) – “ ROZKURKULYNHA” (Desapropriações) – “Kúrkulh” significa em Russo “Colono rico”, e “Rozkurkúlynia”, significa desapropriar o colono rico. Este foi o motivo principal da fome artificial. Retirava-se à força toda e qualquer semente e alimentos dos colonos. Confiscava-se tudo o que ele possuía até os agasalhos e calçados próprios para o frio,  e assim quase nus eram expulsos das suas próprias casas e isso era feito sempre no mais rigoroso inverno. As Ícones, riqueza espiritual e cultural da nação, eram retiradas das paredes e queimadas ou destruídas diante dos indefesos colonos. E foi assim com frio, fome e sem teto, seminus vagavam desesperados procurando socorro, o que era expressamente proibido. Usava-se meios punitivos e repressivos para privá-los de víveres, moradia ou negociar e guardar qualquer alimento era motivo de fuzilamentos, prisões e deportações para trabalhos forçados na Sibéria e outros lugares inóspitos.

Tudo isso foi demonstrado e comprovado por milhares de cartas, escritos e documentos oficiais existentes até hoje, onde os colonos recorriam ao próprio governo pedindo socorro. Toda esta documentação encontra-se nos Arquivos Oficiais da extinta União Soviética, constituída pela própria Ucrânia e Rússia, cidades de (Kiev, Moscou, Xarkow e outras). Também encontram-se nos arquivos dos periódicos, jornais e revistas da época, onde estão registrados as formas horríveis e indescritíveis de terror praticado pelo Estado Totalitário que levou ao genocídio pela fome milhões de seres humanos indefesos de várias nações vizinhas que compunham a União Soviética.

Em 1932 a produção de trigo foi de 12.800.000 toneladas de trigo. E em 1933 foi de 22.600.000 toneladas de trigo colhido e o povo morria de fome por falta de uma migalha de pão. As pessoas sobreviventes moíam sabugos e cozinhavam com folhas de árvores para comer, também colocavam os detritos da palha nesta sopa para mitigar a fome. Mas era a fome que as matava, não centenas, mas milhares todos os dias e cada vez mais.

4. Quantos holodomores houveram na história da Ucrânia, e quais as consequências que esses episódios tiveram para o país?

O Holodomor, pode ser dividido em épocas:

I – A Primeira, foi logo no início da implantação do comunismo já nos anos de 1921 a 1923. Morreram de Fome aproximadamente 3 milhões de vítimas. Poderiam ser muito mais se não houvesse a ajuda da Cruz Vermelha, que amenizou o sofrimento e o número de vítimas. Em seguida a Cruz Vermelha foi impedida de atuar naquele território e foi convidada pelo  ditador Stalin a deixar a Ucrânia.

II – A Segunda,  foi logo após a conclusão da coletivização, que também somou um número incalculável de prisões, deportações e fuzilamentos no inverno rigoroso de 1932 a 1933. Neste período, segundo os dados mais recentes e comprovados com documentos, calcula-se que morreram mais de 10 milhões de pessoas apenas de fome. Durou 22 meses e  chegou-se ao canibalismo e em vários lugares comia-se até os próprios cadáveres e de animais mortos de fome também devido ao desespero de querer sobreviver. Outras pessoas eram presas e fuziladas por se oporem à coletivização ou por guardarem  alimento, ou negociarem, ou ainda por tentar socorrer outras pessoas:  era expressamente proibido dar comida ao faminto ou recolhê-lo em casa. Se ele estivesse vagando pelas ruas, campos ou estradas é porque deveria morrer assim.

Se uma pessoa caridosa recolhesse alguém, era denunciada imediatamente e fuzilada no ato. Então calcula-se que assim morreram mais de 2.600.000 pessoas e outras foram presas, deportadas e condenadas a trabalhos forçados na Sibéria, Kazakistan e lugares mais remotos da Ásia. Só para a Sibéria foram deportados mais de 5.950.000 pessoas. Estas quase na sua totalidade morreram de fome, frio polar, doenças e devido às condições desumanas. Os trens que os levavam para deportação eram boiadeiras. Em DOMBÁS 15.166 mil homens foram fuzilados em enormes quantidades por dia. Também foram deportados para KUBANH, Norte do Cáucaso, Kazakistão e centro do Rio Volga. A produção do trigo nesse ano foi duas vezes maior do que o normal, e Moscou exigia que fossem entregues 8 milhões de toneladas.

Acervo da mostra

Em 20 de novembro de 1932 foram enviado 60 mil homens chamados de “Milheiros” para retirar todo o produto dos colonos. Logo em seguida foram enviados mais 112 mil homens, totalizando 172 mil partidários de Stalin que controlavam e retiravam até o último grão de trigo do povo faminto. Eram condenados a morte “por fuzilamento” aqueles que recolhessem os grãos espalhados no campo, e os produtores recebiam somente 5 espigas após a colheita. Também era proibido comercializar, procurar ou esconder víveres em algum lugar. E em 8 de dezembro de 1932 foi decretada pena de morte a todos que não entregassem a safra exigida por Moscou. Também não era permitida nenhuma ajuda humanitária do exterior.

Uma legião de agentes bem preparados confundiam a OPINIÃO PÚBLICA MUNDIAL, negava-se toda e qualquer existência de fome. Também mais de 86 mil agentes secretos espalharam-se tanto na Ucrânia como principalmente no exterior para seguir e controlar todos os cidadãos importantes fugitivos do Regime. Todos os chefes militares ou personalidades de destaque foram assassinados em atentados. No Brasil houve vários agentes enviados para conturbar a nova colonização e o seu desenvolvimento, crianças com mais de 12 anos eram fuziladas. Nunca a história teve uma tragédia igual, chegou-se ao extremo sadismo, mas esses fatos  foram uma verdade muito bem guardada, negada e silenciada perante a opinião pública mundial.

Selo ucraniano em memória do Holodomor, 1993.

 

III- A Terceira época do Genocídio foi após a IIª Guerra Mundial, nos anos de 1946 a 1947. Morreram mais de um milhão e meio de pessoas. Na noite de 11 de abril de 1946 foi preso o Metropolita D. José Slipyj. E bem antes o Metropolita chefe e pai espiritual da nação que se opunha com firmeza ao regime Dom ANDREI SCHEPTECHKYj, OSBM, que morreu em novembro de 1944.  Estes dois líderes espirituais estiveram aqui no Brasil, e é importantíssimo lembrar: – a perda cultural foi enorme, no período de Postechev em 1933 em Kiev, 30 mil intelectuais ucranianos foram presos e condenados. Eles eram os mais visados, vigiados e reprimidos porque inflluenciavam a opinião pública. Eram seguidamente levados a tribunais, sempre com a acusação de inimigos da nação e do poder constituído. Todos acabaram morrendo em prisões ou fuzilados, deportados para lugares terríveis, sem condições de vida.

Os encarregados dos fuzilamentos tinham como tarefa executar 200 vítimas por dia, e a noite eram enterrados em valas comuns, sem deixar suspeitas. Os Campos de Concentração eram maiores que alguns países da Europa e continham milhares de presos, sujeitos a trabalhos forçados em indústrias, construções de canais, ferrovias, indústria pesada, pesca, mineração, derrubada de florestas, plantio de algodão no Kazakistão que terminou em fracasso, além de levarem a terra negra da Ucrânia para lá. Importante salientar que enormes projetos foram roubados de outros países por agentes secretos ou espiões. Assim os aviões Tupolev, por exemplo, o projeto foi roubado da LUFTANSA. O projeto do Metrô de Moscou também foi roubado, assim como muitos outros.

Selo em memória do holodomor, 2003.

 

Na construção do Canal do Mar Branco – Mar Báltico,  feito através de trabalho escravo, morreram 100 mil detentos e destes 70% eram ucranianos. Nestes trabalhos forçados era necessário realizar toda tarefa designada a cada manhã, por exemplo derrubar 6 metros cúbicos de madeira ou lenha e só a tarde recebiam o pagamento constituído de 600 gramas de pão por dia, caso realizassem toda tarefa. Recebiam uma sopa feita de restos de peixes pescados e cheios de vermes, assim cozidos e distribuídos, mas era uma sopa de odor e aparência horrível, segundo os relatos. Quem não podia realizar totalmente a sua tarefa por estar desnutrido, recebia um pedaço de pão de 200 gramas e nada mais, e o restante morria de fome. Essa era a única comida recebida por dia de trabalho forçado, e os castigados ou revoltados, ou os que estavam doentes, eram levados para assim chamadas “Clinicas”, e daí dificilmente voltavam vivos. Só eram retirados para serem enterrados em valas comuns.

Aqueles que sobreviviam,  estavam arruinados fisicamente, psicologicamente e espiritualmente abalados. O líder Postechev designado por Stalin trouxe consigo 112 mil homens fiéis ao líder maior para serem seus agentes e para realizarem o trabalho de liquidação da nação indefesa, acuada e agonizante. Estes executores em geral eram homens recrutados principalmente entre os mais degenerados, bandidos e sádicos. Em 1930 a Ucrânia Oriental que já era anexada à União Soviética, somava 81 milhões de habitantes. A Galícia, ou Ucrânia Ocidental, a Bielorússia ainda não eram anexadas à Moscou. Em 11 de março de 1933 o navio Xarkiv afundou perto do estreito de Bósforo carregando 8.900.000 toneladas de trigo, sendo levados da Ucrânia faminta para a rica Inglaterra.

5. Qual a finalidade desta exposição sobre o Holodomor?

A Ucrânia luta para que o mundo reconheça que de fato o Holodomor tratou-se de um Genocídio. O primeiro país a reconhecer esse fato foi o Canadá, seguido pela Bélgica e outros, o nosso Brasil está demorando a reconhecer. Sim, foi um genocídio na recente história mundial exatamente na Ucrânia. Porque aconteceu?  porque as terras negras sempre foram e são até hoje cobiçadas pelos seus vizinhos poderosos. Por isso o povo era escravizado até a recente queda do Regime da União Soviética. Mas o maior crime é que o “mundo civilizado” sabia dos acontecimentos e calou-se propositalmente diante de tais horrores. Somando-se as três etapas, fuzilamentos e deportações a nação perdeu aproximadamente 32 milhões de vítimas e toda União Soviética na implantação do regime fez no total 114 milhões e 200 mil vítimas. PARA QUE ISTO NÃO SE REPITA EM NENHUM OUTRO LUGAR DO PLANETA, JAMAIS DEVEMOS ESQUECER O QUE ACONTECEU!

Estátua em homenagem às vítimas do genocídio, Ucrânia.

Finalizando quero expor a verdadeira intenção dessa mostra, que não é ditada por um desejo de vingança ou por opiniões políticas tendenciosas. O único desejo é apenas conseguir compreender o que realmente aconteceu, somente assim poderemos vencer o erro e a omissão com a verdade. Ela nos fala com a voz da Eternidade. Comecemos todos juntos o processo da Revolução Espiritual e Moral em nossas almas e não permitamos que outros modifiquem e ocultem do mundo essa verdade, a Verdadeira História da Ucrânia entre os anos de 1917 a 1991.

Homenagens e preces em memória das vítimas do Holodomor, Ucrânia.

 

São João Paulo II é um dos destaques recentes no reconhecimento desse genocídio, a partir da visita do Papa à Ucrânia em junho de 2001, que durou de 21 a 27 de junho. Ele esteve na Floresta de Bykivnia próximo a Kiev, onde mais de 200 mil ucranianos foram fuzilados durante o período soviético de Stalin entre 1929 e 1941. A visita a esse local não estava programada no protocolo de viagem do Santo Padre, mas ele pediu que o levassem lá para que pudesse ver e rezar pelas vítimas. Por isso, a foto reforça a veracidade do Holodomor – Genocídio Ucraniano. O Santo Padre conhecia a maldade do regime comunista – pois era polonês (e sua mãe Emilia Kaczorowska, era ucraniana) – e à frente da Igreja Católica, atuou para a queda da URSS.

Visita do Papa João Paulo II à Ucrânia em 2001

 

*Pe. Domingos Miguel Starepravo, OSBM.
Sou sacerdote religioso da Ordem De São Basílio o Grande, a primeira Ordem Religiosa no mundo cristão. Trabalhei sempre na formação de novos membros, alguns deles hoje ocupam cargos de destaque tanto na igreja ucraíno-católica como na Ordem. Minha formação religiosa tive aqui na cidade de Ivaí – Pr. A formação acadêmica como o científico e a Filosofia também aqui. A formação Teológica em Roma na Universidade de Santo Anselmo e paralelamente fiz uma especialização em Psicologia Religiosa e de Apostolado na Faculdade Antonianum – Roma. Fiz a escola em busca de ser em Curitiba e do CETESP no Rio de Janeiro. Fui duas vezes Provincial da Ordem no Brasil, Superior quatro vezes em Ivaí, 4 anos de Diretor do Colégio São José em Prudentópolis, trabalhei uma curta temporada em Londres, voltei para assumir a noviciado em 2009, onde estou exercendo este trabalho até hoje.

Numa viagem aos EUA estando na cidade Detroit, no bairro Worren, no prédio do Ucrainian Cultural Center encontrei uma exposição do Holodomor, fiquei muitíssimo chocado pelo que vi, e no momento me veio a ideia: porque não trazer isso para o Brasil? aqui ninguém conhece esta história. Perguntei a Sra. Lida Wroblevski, minha amiga, que trabalhava ali, se era possível eu obter algo parecido e imediatamente ela foi até o Consul e me presenteou com este conjunto precioso de painéis feitos na própria Ucrânia por legistas e profissionais do ramo de investigação, isto é um trabalho perfeito. Existem poucas cópias desse material, e aqui no Brasil o meu acervo é o único. Já fiz várias exposições, como na Universidade de Tuiuti de Curitiba, Em União da Vitória, Irati no UNICENTRO, em Prudentópolis e em Ivaí por ocasião do centenário da Imigração Ucraniana nesse chão sagrado. Agora vou expor na nossa Faculdade de Filosofia,  a FASBAM em Curitiba nos dias 10 a 30 de novembro de 2017.

**Entrevista concedida a Izabel Liviski, colunista permanente e co-editora da Revista ContemporArtes.

Cartaz da Exposição em Curitiba.

 

Serviço:
Exposição Holodomor – Genocídio Ucraniano (1932-1933)
De 10/11 a 30/11
FASBAM (Faculdade São Basílio Magno)
Rua: Carmelo Rangel, 1200
Bairro Seminário
Curitiba-Pr.
(41) 3243-9800
www.fasbam.edu.br

Obs. Essa exposição se encontra em itinerância, e abre no dia 05/12  em Porto Alegre (RS), detalhes abaixo:

Cartaz da Exposição em Porto Alegre.

 

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Izabel Liviski é professora e fotógrafa, doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Escreve a coluna INcontros desde 2009. É Co-Editora da Revista​ ContemporArtes e Diretora de Redação do TAK! Agenda Cultural Polônia Brasil. Contato: bel.photographia@gmail.com

2 Comments

  1. Francisco Pucci disse:

    Os horrores perpetrados pelas ditaduras não foram suficientes para nos ensinar o caminho da Paz e da Fraternidade. O pior é que, seguindo o espírito da época, contabilizamos e hierarquizamos nosso horror em escalas quantitativas. O que é mais horroroso? A morte de 10 milhões de judeus (que foi certamente horroroso) ou a morte de ucranianos pela forma e pelo frio, de ciganos, homossexuais, religiosos, nos campos de concentração? Não há MAIS ou MENOS horroroso. Como disse o poeta inglês John Donne, do século XVI: “A morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”.

  2. Wanda disse:

    Maravilhoso como pertinência do tema, horroroso como ideia do que fazemos nós, seres humanos.

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