nunca conheci quem tivesse dado porrada
todos os meus conhecidos têm sido vítimas em tudo
e eu, que furto versos alheios, que procuro meios de enganar,
pela curva das palavras, uma linha consagrada, que não tenho nada
senão a vontade do que me falta e o descaso pelo que está.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência de trocar uma vírgula,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridiculamente absurda,
que tenho enrolado quitutes no guardanapo, que tenho ficado de papo
quando há tanto a se fazer, que tenho falado, opinado, condenado sem motivo,
Eu, que tenho bebido tônico e cachaça com mel,
Eu, que tenho um dedo erguido para o piscar dos moços de fretes, que tenho atrasado no
aluguel e vendido o almoço por um café, que tenho a fé minguada, exaurida, mesquinha,
que tenho ido à cozinha e perdido, no caminho, a razão da viagem.
Eu, que não tenho se quer paciência para terminar
o poema
Olga Maria Baker | MIXTAPE