POEMA EM GANCHO

Um poema de Olga Maria Baker, poeta mineira e autora de Mixtape.

nunca conheci quem tivesse dado porrada
todos os meus conhecidos têm sido vítimas em tudo

e eu, que furto versos alheios, que procuro meios de enganar,
pela curva das palavras, uma linha consagrada, que não tenho nada
senão a vontade do que me falta e o descaso pelo que está.

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência de trocar uma vírgula,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridiculamente absurda,
que tenho enrolado quitutes no guardanapo, que tenho ficado de papo
quando há tanto a se fazer, que tenho falado, opinado, condenado sem motivo,
Eu, que tenho bebido tônico e cachaça com mel,
Eu, que tenho um dedo erguido para o piscar dos moços de fretes, que tenho atrasado no
aluguel e vendido o almoço por um café, que tenho a fé minguada, exaurida, mesquinha,
que tenho ido à cozinha e perdido, no caminho, a razão da viagem.

Eu, que não tenho se quer paciência para terminar
o poema

Olga Maria Baker | MIXTAPE

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Lucca Tartaglia é doutor em Letras Vernáculas, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, possui mestrado em Letras (Estudos Literários) pelo programa de pós-graduação da Universidade Federal de Viçosa (2014) e graduação em Letras (Língua Portuguesa / Literaturas de Língua Portuguesa) pela mesma instituição (2013). É colaborador, como pesquisador, no grupo Formação de Professores de Línguas e Literatura (FORPROLL), linha de pesquisa Estudos de cultura, linguagens e suas manifestações, vinculado ao CNPq.

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