Quem me colonizou? ou: Os ouvintes de Rude Cruz.

Por Esther de Souza Alferino[i]

         Chamarei este escrito de uma tentativa ensaística de traduzir o que foi minha criação religiosa. Acredito que tentativa ensaística é um termo generoso demais para o que virá a seguir, mas não consigo encontrar nada melhor no momento. Outra coisa que pode estar passando pela mente do leitor é por que minha criação religiosa teria alguma relevância para alguém além de mim mesma. Tentarei justificar, e peço a generosidade do leitor, pois é a primeira vez que escrevo algo que se pretende acadêmico assim, em primeira pessoa, e ademais, para falar de mim mesma.

            Eu nasci e cresci crente, evangélica, protestante, os nomes eram variados durante a minha infância, e ainda são. Mas eu não faço parte daqueles que tem uma história de conversão recente na família, eu sou a quarta geração de pessoas nascidas protestantes históricas. Originalmente presbiterianos, mas quando eu cheguei já metodistas. Isso remonta dos primeiros anos do século XX, primeiros mesmo, bem no começo do século, quando meus bisavós maternos, Palaio e Adelia, se converteram em alguma igreja presbiteriana, talvez da zona rural, talvez já na área urbana de Itaperuna, não sei exatamente. Minha avó materna, Drucila (nome peculiar, porém bíblico) nasceu em um lar cristão protestante, e foi assim que ela criou seus oito filhos que permaneceram vivos, duas meninas morreram ainda bebês, não sei se chegaram a ser batizadas, porque tanto a igreja presbiteriana quanto a metodista batizam crianças, bem diferente de outras tradições protestantes, e essa é uma das coisas que no senso comum pouco se sabe.

            Mas por que tudo isso teria alguma relevância para além do meu núcleo familiar? Eu acredito ter, porque o Brasil não foi e não é apenas uma colônia portuguesa católica. Há quem tenha sido colonizado de outra forma, por outros, e isso também faz parte da História, com “h” maiúsculo que nos forma enquanto nação.

            Pierre Bourdieu (2002), o sociólogo francês, escreveu sobre o estudo de trajetórias nas Ciências Sociais, em uma tentativa de afastar tais estudos do conceito de biografia presente no senso comum, onde a vida segue um curso linear, em uma sequência de acontecimentos que obedecem ordem lógica e cronológica. Para uma análise sociológica, Bourdieu propõe que o pesquisador organize os fatos de maneira inteligível, e que o agente pesquisado seja considerado em sua totalidade, sujeito com nome próprio, que perpassa por diferentes campos. Mas nesse caso a pesquisadora sou eu, e a trajetória é a da mina família, seria isto possível?

             Já Paulo Renato Guérios (2011) traz o conceito de história de vida, onde o sujeito pesquisado oferece sua própria perspectiva, geralmente por meio de uma entrevista concedida ao pesquisador. Cada ator histórico participa, de maneira próxima ou distante, de processos de dimensões e níveis variáveis, do mais local ao mais global. Não existe portanto hiato, menos ainda oposição, entre história local e história global. O que a experiência de um indivíduo, de um grupo, de um espaço permite perceber é uma modulação particular da história global. Particular e original, pois o que o ponto de vista microhistórico oferece à observação não é uma versão atenuada, ou parcial, ou mutilada, de realidades microssociais; é […] uma versão diferente. (REVEL, apud. GUÉRIOS, 2011, p. 16).

Recorrendo à citação acima, e, mais uma vez, contando com a generosidade do leitor, arrisco aqui propor uma apresentação do meu contexto religioso familiar, em uma tentativa de, com isso, gerar uma reflexão sobre o Brasil que vai além do catolicismo, em sua formação. Não teremos aqui espaço para uma análise aprofundada do que estou chamando de colonização protestante histórica do Brasil do século XIX e início do XX, mas o objetivo deste escrito ensaístico é de provocação, para que se possa pensar em análises aprofundadas de trajetórias de vida, no sentido bourdiesiano, de sujeitos que não foram catequizados por jesuítas, franciscanos, ou qualquer outra ordem enviada ao país para salvar nossas almas, mas que foram catequizados por calvinistas, wesleyanos, arminianos, e que também compõe o Brasil profundo, o Brasil rural, o Brasil urbano desorganizado, do interior e das capitais, que fazem parte de gerações que nunca rezaram uma Ave Maria sequer.

            Daqui, deste lugar de quem viveu essa outra colonização que neste espaço me proponho a brevemente narrar, recorro a Gilberto Velho (1978), para, mais uma vez salientar que o que está diante dos nossos olhos, neste caso, as famílias crentes há gerações, não estão necessariamente sendo vistas com curiosidade sociológica.

O que sempre vemos e encontramos pode ser familiar mas não é necessariamente conhecido e o que não vemos e encontramos pode ser exótico mas, até certo ponto, conhecido. No entanto, estamos sempre pressupondo familiaridades e exotismos como fontes de conhecimento ou desconhecimento, respectivamente. (VELHO, 1978, p. 126, grifos do autor).

Dito tudo isto, irei reproduzir abaixo um texto originalmente publicado em meu blog pessoal, espaço onde escrevo livremente sobre qualquer tema que me cause inquietação. Manterei o texto exatamente como foi publicado em 17 de novembro de 2020, às vésperas de minha defesa de mestrado, com todos os termos não ortodoxos, pois acredito que mantê-lo assim será a maneira mais fidedigna de contemplar o ser que sou, em todos os meus aspectos e por todos os campos pelos quais circulo. Ser social, que carrega nome próprio, ser biológico, ser individual, ser histórico, ser político.

            O texto foi escrito em contexto de eleições municipais, de indignação com o campo político com o qual me identifico ideologicamente, o campo da esquerda progressista, e sua incapacidade, na minha visão, de dialogar com colonialidades outras, que não as suas próprias.

Quem me colonizou? ou: os ouvintes de Rude Cruz[ii]

Acho que estou finalmente na última semana da escrita da minha dissertação de mestrado, e, depois de uns longos minutos encarando a tela com as páginas já escritas, eu fiquei querendo pensar em outra coisa por um momento. A questão é que eu não sei mais no que pensar. Não faço a menor ideia. Eu estudo o que estudo já há alguns anos, com diferente recorte, diferente objeto, mas com a mesma temática: os crentes pentecostais brasileiros.

Eu poderia agora pensar no resultado das eleições de domingo, eu poderia pensar na pandemia que não sei quando nem se vai acabar um dia, poderia pensar que sexta-feira tenho análise, e que tenho muita coisa pra falar, como sempre tive, minha vida é um eterno falar demais, poderia pensar, sei lá, que está ventando muito e parece que vai chover. Mas eu não consigo tirar da minha cabeça que dentro de alguns dias vou defender as páginas que escrevi como se estivesse lutando pela minha vida. É exagerado e dramático, mas eu sou exagerada e dramática, dizem que é culpa do meu signo, o que me faz pensar por uma fração de segundo que meu aniversário é mês que ve4m e que em poucos dias o sol vai entrar em sagitário, e eu não faço ideia do que isso significa, mas vou aceitar a culpa dele pelo meu exagero e drama.

Eu poderia pensar em tudo isso que já falei, mas ainda assim estaria pensando nos crentes pentecostais brasileiros, porque esse país não funciona mais da mesma forma e isso também tem a ver com eles, e nas eleições de domingo eles foram em peso votar e porque tudo isso faz parte de quem somos enquanto nação, e eu pareço uma obcecada (talvez eu seja) e não retiro essas pessoas de nenhuma equação. Acho que o fato de que vou tentar ser “dotôra” logo depois da defesa do mestrado, e que vou seguir querendo analisar os pentecostais brasileiros tem a ver com tudo isso. Imagina minha ousadia de querer ser doutora?! Se eu fosse o resto do mundo estaria rindo da minha cara agora, mas eu não sou o resto do mundo, então vou dar ao mundo minha cara a tapa pra estar nesse lugar também, o lugar dos doutores, o lugar que me parece tão claramente não ser meu, mas que eu vou teimar em tentar. Ao menos tentar. Talvez isso também seja culpa de sagitário, sei lá.

Hoje cedo eu li um texto do Anderson França[iii], esse também sagitariano desajustado, tão diferente de mim, mas que me traduz em tantos momentos. Ele nem sabe que eu existo, mas ele me traduz. Ele falava sobre a colonização, não a dos portugueses (que inclusive ele vê melhor agora em seu exílio em Portugal), mas a colonização missionária protestante, que dá à pessoa crente outra visão de mundo, de país. Eu também sofri essa colonização. Não foi a Europa católica que me colonizou, mas foi a ética protestante, a doutrina histórica britânica, os europeus reformados que formaram minha identidade de colonizada. Eu sei muito pouco sobre o Brasil católico, assim como pontuou Anderson. Eu sou fruto de uma mistura de metodistas e presbiterianos, daqueles roxos mesmo, que levam os cânones junto da Bíblia e do hinário, claro. Eu nunca rezei um terço, não sei bem o que é um rosário. Lá em casa a gente cantava Vencendo vem Jesus, e nunca fizemos sinal da cruz. Eita, rimou, que cafona.

A minha forma de ser colonizada no Brasil, na América Latina, é muito estranha aos outros. É tão estranha que as outras esferas da sociedade ignoram que não fomos colonizados da mesma forma, e que, portanto, não pensamos nem agimos da mesma maneira.

Assim como os colonizados pelos televangelistas pentecostais estadunidenses, gente empreendedora, liberal na economia e conservadora nos costumes, que trouxe pra esse país não apenas o dom de línguas e o batismo no Espírito Santo, mas também a Teologia da Prosperidade e a linguagem de mercado. Eles também colonizaram, especialmente os pobres, especialmente os sem perspectiva e sem amparo estatal, especialmente os marginalizados, excluídos, da roça e do subúrbio, da favela e dos rincões distantes aonde ninguém vai. Não deixam nem os índios em paz.

Esse país não aprendeu a lidar nem com aquela ética protestante que não existe mais, será que vai aprender a lidar com o colonialismo neopenteca[iv] que oferece argumentos e recursos discursivos para uma expectativa de mudança de vida que os partidos políticos não são mais capazes de oferecer? Será que as exxxquerdas[v] tão limpinhas e desinfetadas vão saber falar com a tia do reteté[vi] ou com a avó que acorda cantarolando Céu lindo Céu? Até agora parece que não.

Eu não sou neta de bruxa nenhuma que não conseguiram queimar, eu sou neta de crente, mulher plantadora de igreja[vii], que equilibrava a criação de oito filhos com seu evangelismo simples e direto, mas muito eficaz. Não tente trazer os signos gramaticais das Laranjeiras[viii] pra quem foi colonizado de outra forma. Parem de achar que as pessoas são burras e bitoladas, que coisa mais feia e irritante.

Eu ando de saco cheio dessas exxxquerdas mais acéticas que os puritanos, ouvindo João Gilberto, mas também a nova MPB, claro, sem saber quem foi Luís de Carvalho, e nunca ouviu Rude Cruz, porque essas coisas de crente pra cima deles não, isso é lavagem cerebral. Ahhhh gente, faz favor, vai fazer a lição de casa, vai aprender o que é esse país e entender que ele vai muito além das nossas leituras eruditas.

Eu ando de saco cheio, mas a culpa deve ser do meu signo, assim o jovem místico me entende melhor.

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[i] Esther de Souza AlferinoCientista Social pela Universidade Federal Fluminense e Mestre em Sociologia Política pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

Referências Bibliográficas:

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, J; FERREIRA, M de M (Orgs) Usos e abusos da história oral. Trad. Glória Rodriguez, Luiz Alberto Monjardim, Maria Magalhães e Maria Carlota Gomes. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002, p. 183 – 191.

GUÉRIOS, Paulo Renato. O estudo das trajetórias nas Ciências Sociais: trabalhando com as diferentes escalas. In: Artigos, Campos 12(1): 9 – 29, UFPR, 2011.

VELHO, Gilberto. Observando o familiar. In: NUNES, Edson de Oliveira. A aventura sociológica: objetividade, paixão, improviso e método na pesquisa social. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p. 1 – 13.


[i] Cientista Social pela Universidade Federal Fluminense e Mestre em Sociologia Política pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

[ii] Disponível em <https://estheralferino.wixsite.com/meusite/post/quem-me-colonizou-ou-os-ouvintes-de-rude-cruz>

[iii] Anderson França é um escritor e ativista brasileiro, atualmente exilado em Portugal por receber ameaças de morte de grupos de extrema direita brasileira.

[iv] Termo informal de tratar os neopentecostais, deixando claro que não há aqui intenção pejorativa.

[v] Termo informal e jocoso de falar do campo político de esquerda brasileiro, como forma de autocrítica, já que a autora se identifica como pertencente a este campo.

[vi] Termo comumente usado dentro do pentecostalismo brasileiro. Para mais informações consultar <https://seer.ufrgs.br/debatesdoner/article/view/96166>

[vii] Temo comumente usado no meio protestante para se referir a pessoas evangelizadoras, que iniciavam novas igrejas, geralmente chamadas de congregações.

[viii] Bairro do Rio de Janeiro conhecido por reunir pessoas do campo político de esquerda, em especial do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

GUERRA

Foto: https://www.dw.com/pt-br/brasil-tem-3251-mortes-por-covid-19-novo-recorde-em-24-horas/a-56965782

GUERRA

Estamos em guerra

São dias de espanto e horror

 De espanto e horror é também

o número de mortos

que aumenta a cada dia

Foto: https://climainfo.org.br/2020/05/28/podemos-chegar-a-mais-de-200-000-mortes-por-covid-19-ate-agosto/

Estamos em guerra

Sem armas, sem bombas, sem soldados

Uma guerra feita de ignorância e descrédito

Alimentada por falsas promessas e por fake news

Por remédios milagrosos e enganadores

Pelo negacionismo

Por  palavras bíblicas cuspidas por bocas imundas

“A verdade vos libertará”

Foto: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/07/01/coronavirus-no-brasil-os-impactos-da-pandemia-de-1o-a-15-de-julho-fotos.ghtml

A verdade?

A verdade grita por aqueles que agonizam em frente aos postos de saúde

Por aqueles que morrem se debatendo, sem conseguir respirar

E pelo choro dos que ficam

Atônitos, perplexos, impotentes

A dor, excruciante…

Todo dia apertando o peito, a vontade de chorar represada

Na ilusão da vida “normal”

Foto: https://ricmais.com.br/noticias/saude/coronavirus/fisioterapeuta-uti-covid-intubacao/

Quantas “ondas” surgirão ainda?

Quantos serão os sacrificados

Pela incompetência política e pela negação da ciência?

Quantos ainda morrerão

nessa guerra odiosa

que poderia ter sido evitada?

Foto: https://projetocolabora.com.br/ods3/brasil-segue-rumo-a-triste-marca-de-meio-milhao-de-mortes/
(Photo by CARL DE SOUZA / AFP)

  • Imagens retiradas da Internet sem fins lucrativos.
  • Em memória de todas as vítimas da COVID-19 no Brasil, que já ultrapassam o número espantoso e absurdo de 423.000.

A Matemática da Morte

COVID x NÚMEROS

Abril de 2021: População Brasileira: 209.500.000 habitantes – 374.532 mortes por Covid. Matemática: X = 374.532×100/209.500.000 – X = 0,17% (reserve este índice). 13.493.317 de pessoas contraíram o Covid. Este número representa 6,4% da população; porém, 13.118.785 foram totalmente curadas, que significa 97,22% de cura dos contaminados. Mas, o caos implantado criou 13.000.000 de pessoas apresentando dificuldades de sustento, passando fome e acumulando dívidas.

PRIMEIRA REFLEXÃO: Colocamos 6,22% da população para perecer economicamente por implantar uma ação desastrosa que tenta evitar 0,17% de óbitos contra o pânico de um vírus que em 97,22% dos casos é curado.

ISSO NÃO DEVERIA TER SENTIDO!! Mas, ainda podemos ter outro raciocínio: Desde o anúncio do 1° caso de Covid no Brasil, em março de 2020, passaram-se 400 dias. Também anunciado, desde então, já contabizamos 374.532 óbitos por Covid. Matemática do Covid: 374.532/400 = 936. Sendo assim, no Brasil estão morrendo 936 pessoas por dia só de Covid. Hoje o Brasil é composto por 27 estados e 5568 munícipios. Como a divisão por municípios ficaria muito fracionada, vamos dividir igualmente pelos estados: 936/27=35. Então, nos últimos 400 dias, fatalizados por Covid, o Brasil registrou 35 óbitos por dia para cada estado da federação.

SEGUNDA REFLEXÃO: Justifica fechar todo o comércio? Tirar os direitos de ir e vir? Multar as empresas? Prender comerciantes? Isolar as pessoas em casa? Fazer tudo isso… e deixar de cuidar “COM QUALIDADE” de apenas 35 pessoas por dia para cada estado da federação!? ISSO DEVERIA SER UMA VERGONHA IMPERDOÁVEL!! Para concluir, acompanhe esta evolução anual:

MATEMÁTICA DOS TEMPOS: Ano de 2017: 1.070.623 casos de óbitos registrados no ano. Durante os 12 meses do ano de 2017 (há 4 anos), o Brasil registrou 0,53% de óbitos em sua população. Ano de 2018: 1.198.616 casos de óbitos registrados no ano. Durante os 12 meses do ano de 2018 (há 3 anos), o Brasil registrou 0,59% de óbitos na sua população. Ano de 2019 (sem Covid): 1.266.514 casos de óbitos registrados no ano. Ou seja, durante os 12 meses do ano de 2019 (ainda sem a presença de COVID), foi registrado 0,61% de óbitos no Brasil. Ano de 2020 (1° caso de Covid registrado em março) – 1.455.553 casos de óbitos registrados no ano. Então, (mesmo com a fatalidade do COVID), foi registrado 0,69% de óbitos no Brasil no ano de 2020. Comparativo percentual da evolução dos óbitos registrados nos últimos 4 anos sob a população do Brasil: 2017=0,53% (2016?); 2018=0,59% (+0,06%aa); 2019=0,61% (+0,02%aa); 2020=0,69% (+0,08%aa).

Esta “mensagem” vem circulando a um tempo na rede social Whatzapp e eu a recebi em um grupo de amigos do tempo de juventude e atividades no campo religioso do movimento espírita.

Numa análise inicial a matemática utilizada como modelo de reprodução de uma visão que analisa a repercussão social e econômica (recuso-me tratar da evidente ideologia política presente) da pandemia do Covid 19 no Brasil, parece apresentar caminho indicador de um resultado correto e um pensamento apropriado (a matemática existe para, no campo dos números e do raciocínio lógico, encontrar a exatidão na vida).

Reproduzindo Berger1: “por trás desse relato há um acúmulo de outras informações.” A atitude presente nesta perspectiva de operar a realidade da morte e do morrer inquieta, pois atravessa e feri a dimensão ética, é um pensamento que rompe com a capacidade humana “de acompanhar em imaginação e em simpatia a luta do agonizante ainda vivo.” 2 São números que revelam a “massa indistinta de mortos e moribundos” 2 e que escondem e ignoram identidades, pessoas, dores, perdas… sentimentos.

Imagem 1: “Um velho agachado com uma criança nos braços; ambos estão sangrando profusamente o sangue preto das fotografias em preto e branco.” Berger sobre fotografia de Donald McCullin, registrada em Hue, Vietnã, em 1968.

No texto intitulado Fotos de agonia, escrito em julho de 1972, John Berger, diante de notícias nos periódicos da época sobre a guerra do Vietnã, escreveu que “não há fotos do Vietnã nos jornais de hoje,” 1 apenas uma fotografia (imagem 1) de autoria de Donald McCullin. Ele inicia suas reflexões afirmando: “Durante o último ano, ou algo assim, tornou-se normal para certos jornais de grande circulação publicar fotografias de guerra que antes teriam sido descartadas por serem demasiadamente chocantes…” 1

Todos os dias, a mais de um ano, somos invadidos por imagens da morte, da dor pela perda, do luto impedido, relacionados a pandemia da Covid 19. Diante da imobilidade fria da matemática da morte questiono se as imagens e notícias do morrer, em quantidade que nos assaltam diariamente, de alguma forma deixaram de ou são insuficientes para elevar sentimentos de indignação e compaixão. “Mas o que estas imagens nos fazem ver?… Elas nos tomam de assalto. O adjetivo mais literal que lhes pode ser aplicado é estarrecedoras.”1

Imagem 2: Colapso: com a câmara frigorífica lotada, corpos são deixados no chão, à céu aberto, na área do IML de Belém — Foto: Álvaro Ribeiro/Tv Liberal.
Imagem 3: Pilhas de corpos encontrados pelos Aliados logo após a libertação do campo de Mauthausen, Áustria. Foto tirada após 5 de maio de 1945

Hoje, como em momentos outros de imensa perturbação social, faz-se difícil mensurar, diante de uma realidade mais humana e de empatia com o outro, o quanto é possível se distanciar, para alguns, do que nos revelam as imagens de corpos largados como lixos ensacados ou amontoados (uma triste semelhança com as fotografias dos horrores dos campos de concentração nazistas na 2ª Guerra Mundial – corpos amontoados sem vida e identidade).

O que fazemos? A indignação deveria conduzir a uma ação de enfrentamento, mas apenas seguimos sobrevivendo e desta forma, a “foto torna-se uma evidência da condição humana em geral. Ela não acusa ninguém e acusa a todos.” 1

Imagem 4: Sobrevivente do campo recebe cuidados médicos logo após sua libertação. Bergen-Belsen, Alemanha, foto tirada após 15 de abril de 1945.
Imagem 5: Homem internado em hospital de São Paulo em meio à pandemia do coronavírus — Foto: Reuters/Amanda Perobelli.

Entendo que Berger identifica bem o que ocorre com aqueles que aceitam o olhar que a matemática da morte propõe: “Mas o leitor que se deixou prender pela fotografia tende a sentir [uma] descontinuidade como sua própria e pessoal inadequação moral. É assim que isso acontece, até [que] sua sensação de impacto se dispersa.” 1 Evita-se (é o querer não ver) o momento de agonia… de dor, de perda, de uma experiência que pode se realizar na vida de qualquer um; na minha, na sua ou de alguém próximo.

A matemática da morte mascara um cotejo muito mais extenso e urgente, que neste caso, perpassa pela indiferença com a dor do outro, principalmente se este encontra-se em um espaço social diferente e inferior ao meu.

Imagem 6: Foto de uma cova coletiva tirada logo após a liberação do campo de Bergen-Belsen. Bergen-Belsen, Alemanha, maio de 1945.
Imagem 7: Manaus, Brasil, em 22 de maio de 2020. Vista aérea de uma área no cemitério de Nossa Senhora Aparecida, onde novas covas foram escavadas em meio à nova pandemia de coronavírus. Sem informação do autor.

“O olhar que vê o agonizante como ainda vivo, como apelando para os recursos mais profundos da vida, como carregado pela emergência do Essencial em sua vivência de vivo ainda, é um outro olhar. É o olhar da compaixão… Compaixão, você disse? Sim, mas há que entender bem o sofrer-com que essa palavra significa. Não é um gemer-com, como a piedade, a comiseração, figuras da deploração, poderiam ser; é um lutar-com, (meu destaque) um acompanhamento…” 2

Ainda Ricoeur: “Nos campos de extermínio nazista, durante a 2ª Grande Guerra Mundial, a “fumaça do crematório (era) como atestado da morte “em ação.” 2 Que fumaças mais poderão ainda encobrir a matemática da morte?

Referências:

1 – BERGER, John. Para Entender a Fotografia. Organização e introdução Geoff Dyer. Editora Companhia das Letras. São Paulo/SP. 2017.

2 – RICOEUR, Paul. Vivo até a Morte, seguido de Fragmentos. Editora WMF Martins Fontes Ltda. São Paulo/SP. 1ª Edição, 2012.

ARTE POSTAL, ONTEM E HOJE.

A arte postal ou mail art, aproxima realidades já pensadas nas décadas de 1910 e 1920, pelos artistas do Futurismo Italiano, o qual fortalecia o pensamento por uma nova forma de perceber a expressão artística, buscando fugir dos cânones pré-estabelecidos. Vanguardas históricas como o Dadaísmo, o Surrealismo e o Construtivismo Russo, já esboçavam alguns conceitos que foram despertado pelos futuristas, e que foram absorvidos por artistas dos anos 50 e 60, despertando assim um olhar criativo e questionador. Esses conceitos inovadores já estavam presentes também na obra de Marcel Duchamp, a partir de suas apropriações de objetos de uso cotidiano, abalando assim, as restrições da academia burguesa impostas à obra de arte.

Obra de Hannah Höch (1889-1978), artista alemã dadaista, pioneira da colagem (ou foto-montagem), gênero muito utilizado na arte postal.

Segundo Enock Sacramento, a Arte Postal, tem as mesmas fontes do happening, da performance e da body art. Tendo surgido em Nova York nos anos 1950, expandiu-se rapidamente pelo mundo por sua originalidade e como alternativa para exibir-se um trabalho fora do circuito das galerias e museus. Consistia em uma troca de mensagens criativas, muitas vezes de cunho político e social, utilizando o sistema de correios. Seus suportes utilizavam envelopes, cartões postais, folhas de papel, com imagens impressas ou carimbadas e mensagens diversas, muitas vezes requerendo respostas. Esteve em alta no período da guerra fria e, no Brasil, durante os anos da ditadura militar. Ela se mantém viva ainda hoje, atualizando as plataformas e as mensagens, sem perder seu cunho de crítica social.

Série “Envelopes” de Paulo Bruscky, produzida entre 1977 e 2009.

Um dos destaques desse meio de expressão, é o artista pernambucano Paulo Bruscky (1949) principal organizador em 1975 da 1ª Exposição Internacional de Arte Postal, que foi fechada pelo regime militar. Bruscky tornou-se um expoente da arte postal, que ele prefere chamar de “Arte Correio” e sempre a defendeu como um tipo de arte “antiburguesa, anticomercial e antissistema”.

“Título Eleitoral Cancelado”, de Paulo Bruscky

Articulou-se com o movimento internacional de arte postal e manteve intensa correspondência com membros dos grupos Gutai e Fluxus. “Arte é feita para circular” diz Bruscky. “Na Arte Correio, a arte retoma suas principais funções: a informação, o protesto e a denúncia”, completa.

Arte Postal presente no site IUOMA

A Web Art e o Mail Art são formas de prolongamento do movimento inicial de arte postal, utilizando como meio a rede de computadores e um perfil adaptado à contemporaneidade. Nesta nova modalidade, os arquivos podem chegar abertos ou fechados, possibilitando a intervenção dos internautas, que têm a opção de modificá-los e devolvê-los aos seus expedidores ou reenviá-los a outros internautas. O IUOMA, Internacional Union of Mail-Artists* é um site atuante, que agrega artistas do mundo inteiro.

“Scented Glove” (luva perfumada) de Guy Bleus, 1980.

Em Curitiba/PR entre os anos 1960 e 2000, desenvolveram-se vários projetos de arte postal, entre eles, o “Postal-Poesia” reunindo duas linguagens, fotografia e texto. Com um grupo de amigos, conseguimos fazer algumas pesquisas interessantes na década de 90, juntando a palavra poética e a poesia escrita com a luz. As imagens foram realizadas para o Suplemento Viver Bem do Jornal Gazeta do Povo, e o detalhe curioso é que elas não passaram por nenhum Photoshop, são totalmente analógicas. Entre os escritores participantes estavam alguns nomes conhecidos da cena literária local: Sônia Bittencourt Wolff, Ricardo Corona e Fernando Nascimento (in memorian). Reproduzo abaixo alguns resultados das nossas parcerias. 

"Muros" -  Poema de Sônia Bittencourt Wolff. Foto: Izabel Liviski
“Muros” –  Poema de Sônia Bittencourt Wolff. Foto: Izabel Liviski
“Infância” – Poema de Fernando Nascimento. Foto: Izabel Liviski
“Sereia” – Poema de Ricardo Corona. Foto: Izabel Liviski

Nota: O Centro Estadual de Capacitação em Artes Guido Viaro** em Curitiba/PR, mantém pesquisa e elaboração permanentes de Arte Postal, realizando exposições anuais nessa modalidade.

Convocatória de Arte Postal 2021 do Centro Estadual de Capacitação em Artes Guido Viaro.

FONTES:
Sacramento, Enock – Para entender a arte contemporânea – Curso ministrado na Caixa Cultural de Curitiba, 2012.
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7783/paulo-bruscky
Curta Artes:  https://www.youtube.com/watch?v=Xd_4eFq-qQo
https://jornalggn.com.br/literatura/hannah-hoech-e-a-resistencia-dadaista-ao-nazismo/

LINKS:
* https://iuoma-network.ning.com/
** http://www.centrodeartesguidoviaro.com.br

MULHERES POETIZAM

A Coluna Espaço do Leitor apresenta o E-book Mulheres Poetizam, organizado por Isabel Furini em 2020. Boa Leitura!

Isabel Furini, mora em Curitiba/PR. É poeta, escritora, educadora e palestrante. Foi colunista do Suplemento Viver Bem da Gazeta do Povo. É coeditora da  revista Carlos Zemek. Ministrou a oficina de Criação Literária no Solar do Rosário.  Seus poemas foram premiados no Brasil, Portugal e Espanha. Realizou Recitais de Poesia na 36a. Semana do SESC & XV Feira do livro de UFPR, Curitiba/PR,  e na Burlingame Public Library, na Califórnia, USA.

O convite da poeta

Ano passado recebi o convite para escrever o prólogo do e-book Melhores Poemas 2020. Confesso que fiquei surpresa com o convite feito pela querida poeta e jornalista Isabel Furini e naquela ocasião me perguntei se era mesmo a melhor pessoa para fazê-lo. Fiz! E foi um grande momento para a leitora que sou. Conheci ali poetas que não conhecia e isto deixou maior meu coração de poeta. Sempre me surpreendo ao me colocar diante da poesia. Sempre agradeço a certeza que tenho dessa força e delicadeza que a poesia imprime no mundo. Faço parte disto!

Este ano fui convidada para compor um novo e-book, Mulheres Poetizam. Outra surpresa! Agora estou não apenas como leitora, mas sou uma das poetas que compõem a obra. Sim, a menina maringaense que nasceu apaixonada pelas palavras e descobriu a poesia muito antes de saber ler agora está ao lado de grandes mulheres. E já lhe adianto que ao ler este livro percorrerá em passo conjunto com a artista completa Etel Frota em busca da airosidade poética do sutil, seus olhos irão brilhar diante da jovem poeta Jéssica Iancoski, ficará sem palavras ao caminhar entre gardênias e girassóis ao chegar diante da esfinge poética de Barbara Lia, mergulhará na delicadeza profunda de Maria Antonieta Gonzaga Teixeira, vai desejar ter muito mais dos versos fortes e libertos de Adriane Garcia e não sairá ileso da fecundidade entregue pelos poemas de Juliana Meira. São nestas páginas que encontrará a beleza confessa nas letras de Carla Ramos, a poesia minimalista e selvática de Anna Apolinaro. E semeamos o poético juntas com Elieder Corrêa da Silva, Devora Dante, Elciana Goedert, Jeovana P., Juliana Oliveira Nascimento, Marcela Gonzales,  Maria da Glória Colucci, Maria Teresa Marins Freire, Marilís de Assis, Marli Andrucho Boldori, Regina Bacellar, Rita Delamari, Sheina Lee, Solange Rosenmann, Sonia Andrea Mazza, Vanice Zimerman.

Não pense você que fazer poesia é coisa fácil. É palavra qualquer posta em plano envergado na brancura do sensível. Poesia é caminho sem volta, é um emaranhado de amor, dor, beleza que – para quem se entrega – não se respira um só dia sem tê-la. É a busca da perfeição no rosto da amada. É lida sem descanso. É bebida exata para as horas sem música.

E estamos aqui, todas nós expostas em plano poético. Visíveis em nossa mais íntima beleza. Únicas, cada uma em seu cabedal de palavras. Florada sem obedecer estação, daquelas mudas que nascem até na rachadura do asfalto. Aqui o respiro do mundano no melhor que se representa, a poesia.

Meu convite é este: aceite o delicado presente que foi concebido pela generosidade e olhar da poeta  verdadeira e admirável Isabel Furini e você terá seu dia inundado dos mais belos poemas. Existe coisa melhor?

(Por Flavia Quintanilha)

Capa do E-Book

Poemas e fragmentos de poemas das poetas que participam do e-book “Mulheres Poetizam”:

Paixão e anjo decaído (Adriane Garcia)

As labaredas sobem

Querem o céu

No baixo ventre

Queima esse inferno

De luz.

*

Poema sem título (Anna Apolinário)

Pássaros apalpam

A palavra pulmão

Sem pudor,

Lábios asfixiam

O voo.

*

outono (Barbara Lia)

folha de plátano

baila ao sol

acha crepitante

desaba no solo triste

epitáfio da folha:

não desapareço

feito espuma nas ondas

regenero o solo

com ternura feroz

para colorir azaleias

gardênias e girassóis

*

Renasço em Essência (Carla Ramos)

Minha alma nasce

Mas, grita em silêncio

Há em mim, ainda, muito barulho

Que me impede de ouvir

O Volume do Silêncio (…)

*

Expectativa (Elciana Goedert – Ciça)

(…) Ansiosa, espero a alvorada

Pois sei que virás, afinal

Depois d’uma noite enluarada

“Tu vens, eu já escuto teu sinal…”

Coração feliz, em disparada

Não tira os olhos do quintal.

*

Realidade (Elieder Corrêa da Silva)

(…) Com passos leves enfrentei

o proposto pela vida.

Fiz semeaduras no passado,

floriu vida e com ela,

espinhos e cardos,

e também nasceram flores.

Hoje, colho frutos sagrados.

*

Trágico (para Abílio – Etel Frota)

lavra o árido

cala o ávido

anacrônico

verte o cálido

fala o óbvio

pentatônico

lega o ótimo

vai, num átimo

cessa, anônimo

*

notas envelhecidas (Flavia Quintanilha)

pela tarde sem brisa e luz

as palavras não encontram

plano na nota pianíssima

da canção que busco em seus lábios

mas sou só

sustenido

no que não expresso

pela pele

sua pele

que toquei

na mais dolorosa delicadeza

*

Antonela (Isabel Furini)

passou a habitar as cavernas do tédio

e das lembranças

as lembranças devoraram as distâncias

e permaneceram ancoradas

(caoticamente)

no quarto de um fantasma

Antonela analisou as memórias

de sua mente e compreendeu

que o fantasma era ela.

*

Silepses (Para Nicola Otávio – Jéssica Iancoski)

(…) O Incutido,

Incurso

Indiscutível.

A omissão pressupõem-lhes

O erro.

Errante persisto

Não com,

Mas preso no     sss silêncio

Das minhas    sss silepses.

*

Dor de poeta (Jeovania P.)

(…) É uma dor de viver intensamente

de está aí no mundo

pronto para a chuva

para o sol

para pular de paraquedas

e dançar a noite inteira

feito tapa que se leva na cara

que vai e volta

*

Poema sem título 3 (Juliana Meira)

quando vierem virar meu rosto

              dedos de ampere

estarei entre outros dentro de mim

moendo vida feito os miúdos de um bicho

por isso tragam silêncio e fome

*

Entusiasta (Juliana Oliveira Nascimento)

Entusiasta da Vida

Se tu tens um sonho,

Insista, persista!

Sejas pleno, inteligente, racional

e realista.

Não desistas e sejas mais que otimista…

Sejas entusiasta da tua vida!

*

Tempo (Maria Antonieta Gonzaga Teixeira)

Tempo

que não dá tempo

Sobra tempo

Espera o tempo.

O tempo rabisca o ensaio

escreve a história.

O tempo ensina

se der tempo. (…)

*

Iguais (Maria da Glória Colucci)

Fluem suaves, sutis em desalento,

Nas leves hastes dos cataventos,

Nas trêmulas dobras da memória

Nas vagas luzes da história…

Sem volta; sem licença viajam:

 – Tempo e vento. Vento e tempo.

Iguais em tudo! Velozes passam!

*

Rever (Maria Tereza Marins Freire)

O olhar surpreso

Acompanha o passo

Que no compasso

Da música ecoando no espaço

Se faz e refaz

Volteia e se retrai (…)

*

Vale das Águas (Marílis de Assis)

(…) A flor colorida

Palavras que dançam ao vento

Amores que suspiram em vigorosos ais

Solidão sem fim,

Temperança

Teu rosto, bonita lembrança

Desenho inacabado

Vale das águas

Homem alado

*

Metamorfose (Marli Andrucho Boldori)

Mulher é a palavra dita

desenhada

escrita grafada

decifrada ou guardada

a sete chaves. (…)

*

O Palhaço (Regina Bacellar)

Vive para brincar,

brinca para viver.

Ri, chora, grita,

desabafa  problemas,

descarrega emoções.

No palco, são rostos,

utopias, vidas a representar.

Na vida, é um só

a se angustiar. (…)

*

Mulheres da Vitória (Rita Delamari)

Sob o escudo de luz,

Cavalga sobre as colinas

E contempla a beleza

Da aurora boreal…

Defensora das tradições.

A paz como escolha! (…)

*

Que procura é esta? (Solange Chemin Rosenmann)

(…) Quero-te em mim.

Vens, habita-me em calmaria,

Mesmo trazendo tua ventania,

Deixes a maré brilhante,

Em pôr de sol, mirar-se n’água,

Narciso de ti, vem habitar-me.

Quero-te em mim, estando em ti.

*

Haicai (Vanice Zimerman)

brisa de verão –

aroma de aquarela

desliza no Canson

POEMAS EN ESPAÑOL

Árbol # 1 (Dévora Dantes)

La sombra que me albergo

su suave olor a naranja.

Atrapada mi niñez en cada

una de sus ramas. (…)

*

Anhelo (Marcela González)

Llevo guardadas las cartas que me diste.

Siento el aroma de las flores que traías.

Tengo el recuerdo de tus caricias.

Hasta cuándo?

Cuándo será el momento de reencontrarnos?

Por qué te marchaste antes dejándome muerta en vida?

Sé que pronto partiré.

Espera.

*

Camino a la igualdad (Sheina Lee)

La luna late con fuerza,

enciende la oscuridad,

aplaude las diferencias,

y con fervor la igualdad,

mujeres con gran firmeza,

hombres buscando la paz,

vistiéndose de promesas,

llevando a la libertad (…)

*

Corazón torturado (Sonia Andrea Mazza)

Cuando ya ni recuerdes a tu primer amado

y tu último enamorado se haya ido

Has de entender al despertar

que el amor es un sueño que se esfuma

Por calles desgastadas de rutinas

infestadas de parvadas de palabras muertas,

Observada por pérfidas miradas, (…)