SEMENTES DO FUTURO

A arte divinatória atende de certo modo ao desejo humano de conhecer o futuro como forma de controla-lo; desde sempre os astrólogos, magos, videntes e todos os pretendentes a enxergar através das brumas do tempo tiveram lugar garantido entre nobres e plebeus. O exemplo mais extremo é o do francês Nostradamus, que produziu uma abundante coleção de previsões, em forma de versos cifrados – a interpretação de muitas delas parece demonstrar sua acuidade, porém sempre após a ocorrência dos acontecimentos supostamente previstos, e mediante malabarismos interpretativos.

Em termos mais realistas, o futuro é imprevisível, disto todos sabemos, dado que muitos eventos, nem todos ruins, podem modificar aos poucos ou repentinamente aquilo que as vezes supomos que será nosso amanhã. No entanto, diversas variáveis do presente, relacionando-se entre si, determinariam com certa precisão algumas tendências, e a estas forças de mudança são muitas vezes denominadas Sementes de Futuro, ou seja, peças chaves na construção de cenários prospectivos: são fatos ou sinais existentes num passado recente ou até mesmo no presente que sinalizam possibilidades de novos encaminhamentos dos eventos vindouros.

Identificar estas sementes permite a elaboração de bons cenários, estar preparado para as possíveis alterações no curso dos acontecimentos, representam tendências importantes, embora sempre tenhamos que admitir algumas incertezas, ou mesmo estar de sobreaviso sobre eventuais surpresas. No entanto, determinados aspectos da realidade atual estão suficientemente visíveis e consolidados para que consideremos tais movimentos extremamente prováveis num futuro mais próximo, e autorizando pensar em sua permanência durante ainda um bom tempo.

Ilustração de Vladimir Kush

Como exemplo, ao que parece a população mundial continuará crescendo ao longo de todo o século XXI, embora mais lentamente nos países mais desenvolvidos que naqueles de terceiro mundo, e isso vai demandar mais água tratada, mais fontes de energia, e claro, mais alimentos, o que provocará problemas ambientais.

Em adição a isso, nos países economicamente desenvolvidos o aumento da expectativa de vida somado à baixa natalidade trará um envelhecimento populacional significativo, que pressionará a previdência social e principalmente os serviços de saúde; enquanto o crescente número de jovens dos países menos adiantados enfrentará o desafio da inserção no mundo do trabalho, principalmente se considerarmos que outro grave problema mundial é o da migração, constituída em sua maioria por jovens dispostos a oferecer sua mão-de-obra em locais diferentes de sua nacionalidade, em função de guerras, desastres ambientais ou perseguições políticas em seus locais de origem.

Esta dinâmica das migrações possivelmente intensificará as desigualdades sociais, provocará novos impactos ambientais, e até algumas epidemias, pois a cobertura vacinal não é a mesma em diferentes países.  Migrações mudam também a urbanização, se a comunidade cresce mais rapidamente nas cidades que nos campos, o que parece ser tendência em todo planeta, embora em alguns – muito pobres – ainda exista boa parte da população em regiões rurais, podemos prever que megacidades, nas quais as questões como controle de resíduos, distribuição de recursos e estruturas de lazer, entre outras, tornarão a gestão sustentável pleito indispensável.

É fundamental nestas necessidades não esquecermos de incluir boas escolas, sem as quais a população não terá como auxiliar governantes e dirigentes políticos a atingirem estes objetivos. A melhoria do sistema educacional,  capacitando para o progresso social e científico, exige a urgente consolidação do ensino fundamental com qualidade, garantindo recursos humanos que possam contribuir para com a emergência da economia, a inovação e o favorecimento da ampliação de uma classe média, reduzindo a pobreza.

DIREITO DE SABER…

“O Homem é parte da natureza e a sua guerra contra a natureza é, inevitavelmente, uma guerra contra si mesmo.” (Rachel Carson)

Logo ao início dos anos 1960 a bióloga Rachel Louise Carson foi responsável por uma imensa revolução no conceito de meio ambiente nos Estados Unidos, ao lançar um livro chamado “Primavera Silenciosa”, no qual discorria sobre a grande possibilidade de morte dos pássaros, insetos e contaminação da água com consequente desaparecimento de peixes no planeta em função dos agrotóxicos.

Indústrias químicas promoveram na época uma das maiores campanhas difamatórias já efetivada contra um ser humano, inclusive tentando desacreditá-la como cientista; chegou-se a acusa-la pela morte de pessoas por malária e dengue, já que em função de seus estudos foi banido o inseticida DDT do mercado americano, como se a dissociação entre a ética e a ciência para atender interesses empresariais pudesse justificar a guerra contra a vida.

A designação de um agrotóxico como “defensivo agrícola” é parte desta empreitada, insinuando que este proteja os cultivos, independente de seus efeitos sobre a saúde humana e de animais. Esta não é uma questão puramente semântica e sim de essência; em função dela a indústria insiste na divulgação de seus produtos com a suavização da terminologia, tornando-a mais palatável ao grande público e mais conveniente no atendimento aos seus interesses.

A agricultura próxima dos grandes centros no Brasil é normalmente de pequeno porte, e exercida de forma familiar, na qual crianças e jovens são auxiliares diretos, estando, portanto, sujeitos à contaminação, e muito pouco se sabe até hoje sobre os riscos da exposição continuada destes tipos de compostos sobre organismos em desenvolvimento, porém pesquisas já comprovaram que várias das substâncias componentes dos agrotóxicos parecem inequivocamente ter atividade carcinogênica ou afetar diretamente o desenvolvimento hormonal.

Ilustração: Igor Morski

Embora muitas tecnologias tenham sido implementadas para o controle de doenças e proteção contra algumas espécies de pragas, deixamos bastante a desejar em programas de requalificação para o trabalho, o que traz para as comunidades rurais um risco pouco avaliado quando usam extensivamente substâncias químicas perigosas.

Se a isso acrescentarmos a falta de saneamento básico, dificuldades nos transportes, contaminação de lençol freático, e, principalmente, acesso adequado ao sistema educacional, que traria a melhoria da habilidade de interpretação de uma situação potencialmente capaz de trazer dano à vida, ou capacidade de leitura correta de instruções de uso e ações de socorro porventura indispensáveis.

Quanto maior o nível educacional, mais possibilidade de percepção de ameaças presentes ou futuras, já que vários determinantes socioeconômicos estão envolvidos na redução do impacto da contaminação. O desrespeito às normas básicas de segurança, a comercialização de produtos ao arrepio da lei, a pressão descabida de empresas distribuidoras ou produtoras, as mazelas sociais brasileiras, tudo agrava o quadro, que muitas vezes culpa o próprio agricultor pelas sequelas produzidas pelo incorreto manuseio.

A maior ou menor percepção de risco é consequência direta da qualidade educacional recebida, pois aumenta ou diminui segundo o sistema de crenças da comunidade, seus mitos, suas tradições, os cuidados médicos disponíveis e também da imagem construída pela propaganda destes produtos, na informação comunitária sobre procedimentos e resultados anteriores.

A intervenção sobre as técnicas de trabalho utilizadas para obter menos acidentes é estratégia aderida à capacidade de perceber riscos, por isso países com sistema educativo mais adequado e competente tem melhores chances que aqueles com educação deficitária.

O direito de saber envolve assim não apenas boa vontade da população, mas também a capacitação e o conhecimento, que é o que pode diminuir sensivelmente a obrigação de apenas suportar decisões de outrens, conforme Rachel Carson já declarava quase sessenta anos atrás.

MELANCOLIA….

“Todos os dias que depois vieram, eram tempo de doer. Miguilim tinha sido arrancado de uma porção de coisas, e ainda assim, estava no mesmo lugar! Quando chegava o poder de chorar, era até bom – enquanto estava chorando, parecia que a alma toda se sacudia, misturando ao vivo todas as lembranças, as mais novas e as muito antigas, aquelas coisas bonitas que o tempo havia de sempre teimar em tirar.”

Guimarães Rosa conta genialmente, como sempre, a melancolia do menino Miguilim, e nisso descreve uma condição humana, um mal que atinge ricos e pobres. Situado entre o passado e o presente, difícil de classificar entre o somático e o espiritual, dele padecem muitos brasileiros, e, em particular, muitos jovens estudantes em nossas escolas.

Apesar de frequentemente idealizarmos um passado em que não havia poluição ambiental e estávamos mais próximos da natureza, o fato é que, na média, grande parte da humanidade vive hoje em condições materiais melhores das que jamais existiram para tantos, ainda longe da verdadeira justiça social, o acesso a alimentos, a tempo livre e algum nível de informação é uma realidade quase geral. Além das evidentes vantagens para a sobrevivência, isto resulta na fragilidade potencial para a “melancolia”.

Moços demais para serem responsáveis pelo sustento familiar, mas já sofrendo as consequências dos descalabros econômico-financeiros provocados, em grande parte, pelos equívocos políticos de nossos governantes, são os alunos das escolas públicas as principais vítimas deste mal.

Ilustração de Rafal Olbinski

Este fenômeno parece ter origem em alguns mecanismos simultâneos, manifestos em um percurso escolar mais longo e cheio de percalços, de desistências do estudo para auxiliar a família ou pelo sentimento de inutilidade dos seus esforços, repleto de avanços e recuos, ao final dos quais o estudante – quando chega a concluir seu curso, já que a evasão é imensa – descobre-se em idade social defasada em relação aos demais, quase sem poder obter alguma recompensa material ou mesmo simbólica pelo esforço de manter-se na escola.

Quando não fracassam totalmente, obterão um diploma relativamente desvalorizado, e o mais cruel é que, aparentemente, terão tido todas as chances; ou seja, seu fracasso será pessoal, e não creditado a um processo perverso que os carimba como preguiçosos ou incapazes.

É preciso considerar que desde os anos 1950 até a década de 1990, o sistema de ensino praticamente no mundo inteiro passou por uma mudança que teoricamente democratizou a instituição escolar. Se antes estudantes eram eliminados, pura e simplesmente, ao início do processo de escolarização, o que quer dizer reprovações em massa ao início do primeiro ciclo do ensino básico, em nome da crença no valor dos títulos e conhecimentos escolares passíveis de verificação pelas avaliações, hoje tal eliminação fica diluída no tempo, de certa forma provocando sua postergação para os níveis superiores da escolaridade.

Um dos exemplos, no caso brasileiro, foi a instituição da continuidade dos estudos pela não reprovação, agenda bem-intencionada porem efetivamente incapaz de sanar as causas do mau aproveitamento escolar. Sem solução para a necessidade de acréscimo de qualidade no ensino, o resultado foi apenas o de “empurrar” os alunos para os níveis seguintes, onde dificultavam ainda mais o trabalho docente, que somado à infraestrutura deficiente e uma contingência social de frequência às aulas muitas vezes exclusivamente pela merenda – quando esta não era desviada – provocou o caos em que nos encontramos hoje.

Quando observamos estes alunos em profunda melancolia, lamentamos pensar que muitos são inteligentes, criativos, poderiam aspirar melhores condições de vida e contribuir no desenvolvimento do país. Mas parecem ter desistido, em grande parte devido ao círculo vicioso infernal que deixamos ser criado na educação que lhes é proporcionada: há pouca qualidade no ensino, então pouco desempenho é cobrado, portanto a qualidade diminui mais ainda, daí a cobrança idem, etc. Até quando?

PENSAMENTO MÁGICO

No país temos muitos problemas: violência, corrupção, incompetência, impunidade, tráfico de drogas e armas; a lista é longa e parece aumentar sempre. E no horizonte surge uma solução mágica, que não é tocar um tango argentino, no entanto parecida: intervenção militar.

Como todas as mágicas, trata-se de um embuste e de um equívoco, os que sabem do que se trata e ainda assim defendem a panaceia pretendem enganar o distinto público com sabe-se lá que propósitos, os que não tem a menor ideia do que seja uma ditadura, e a pedem mesmo assim, possivelmente são jovens demais, ou adultos totalmente carentes de conhecimento da história brasileira e de outros países que passaram por esta tragédia.

As Forças Armadas têm sua missão e seus deveres, nem uma nem outros incluem governar ou salvar o país de si mesmo, comandar uma tropa, uma divisão ou exército, é processo que se realiza dentro de uma hierarquia bem definida com disciplina rígida; fatores necessários para fins militares, um campo de batalha não é o lugar mais adequado para debates.

Dirigir um país, um estado ou uma cidade é bem diferente. Os cidadãos, as instituições, as empresas, as famílias, os grupos mais diversos, todos têm suas necessidades, suas ambições, suas opiniões, e todos devem ser ouvidos, diretamente ou através de seus canais de representação. Governar é, ou deveria ser, conciliar as demandas da sociedade dentro de princípios legais, morais e orçamentários e realizar o máximo possível do bem comum seguindo diretrizes políticas e ideológicas. Em uma nação de mais de duzentos milhões de habitantes, isto é extremamente complicado.

É inegável o direito que militares reformados têm de apresentar suas candidaturas aos cargos que desejarem, dentro das regras eleitorais; se eleitos, acredita-se que a maioria deles honrará seus mandatos com dignidade e patriotismo. É impensável que após o sacrifício de gerações para chegarmos a uma democracia “não relativa” ainda existam grupos que proponham a solução do atalho castrense.

Ilustração de Jakub Rozalski

A proposta da intervenção supõe a instalação de um “governo forte”, aparentemente tudo se resolveria com algumas ordens peremptórias. Os corruptos seriam presos e nenhum ministro do STF os libertaria através de habeas corpus afrontosos à Justiça e à opinião pública; pensando bem, não existiria mais habeas corpus, talvez nem STF. Todo obstáculo às intenções dos salvadores seria removido de imediato, a “mídia” se submeteria voluntariamente a um “controle social”. A paz dos cemitérios cairia sobre a nação.

Não temos um governo forte, talvez atualmente sequer tenhamos o que se possa chamar de governo, mas ainda temos um Estado constituído dentro de princípios republicanos, com três poderes definidos. Se o Executivo é uma lástima, o Legislativo nos cobre de vergonha e o Judiciário é uma esfinge em câmara lenta, ainda assim existem e são fundamentais. Soluções radicais podem ser tentadoras à vista dos descalabros a que assistimos, mas são apenas radicais e não soluções.

Prisões sem processo legal, linchamentos, violência legalizada, todo encurtamento de caminho para obter justiça nada mais é do que vingança e barbárie, e determinado pelo pior que há no ser humano: ódio e medo. Cabendo ainda a questão mais importante: saber quem escolherá inocentes e culpados se não pudemos contar com um sistema judiciário, com uma Constituição e com, vá lá, deputados e senadores.

Se nossos políticos são péssimos, não esqueçamos quem lhes deu mandato, nós. Se nossa educação é lamentável, demos um crédito de confiança a estas pessoas para que procedessem de forma a nos manter na ignorância e escuridão.

O sistema educacional brasileiro tem, entre suas metas, auxiliar família e organizações sociais a promover cidadania e melhorar nossa convivência, não apenas no mundo do trabalho, porém em todas as esferas comunitárias, compreensão política – no seu sentido mais amplo – é essencial.

EDUCAÇÃO PRISIONAL, META COMPLEXA…

No presente momento, um ex-presidente da República, vários políticos importantes, muitos empresários destacados, estão cumprindo penas em prisão fechada ou domiciliar. Sem entrar na questão complexa e controversa da justiça ou da injustiça de suas condenações, o fato suscita reflexão sobre a validade mesma da privação de liberdade para pessoas que não oferecem risco de violência física à sociedade. Evidente que o desvio de verbas públicas, o uso abusivo do poder, todo o imenso repertório dos “crimes sem vítimas”, têm um custo material muitíssimo maior do que aquele que um ladrão comum pode produzir.

A população carcerária brasileira é a terceira do mundo com quase 750 mil presos, “perdemos” apenas para EUA e China. Segundo o Departamento Penitenciário Nacional – Depen, do Ministério da Justiça, mais da metade deste contingente tem entre 18 e 30 anos, e mais de 60% são negros. Cerca de 75% não chegaram ao ensino médio e menos de 1% tem formação superior. Há quase 46 mil mulheres presas, 5% do total, a maioria por crimes relacionados ao tráfico de drogas, entre os presos homens um quarto responde por esse tipo de crime.

O sistema prisional brasileiro consegue ofertar apenas a metade das vagas que seriam necessárias para abrigar toda a população apenada em condições minimamente dignas, o que explica a superlotação na maioria dos estabelecimentos com a péssima salubridade física e mental imposta aos reclusos. O governo federal tem procurado tratar desta questão através da oferta de penas alternativas e uso de tornozeleiras eletrônicas, e também pela construção de novas unidades, mas o crescimento das condenações supera o benefício obtido por essas medidas, criando o proverbial “enxugamento de gelo”.

 

Ilustração de Estevão Ribeiro

 

Além das afrontas a direitos humanos universais e despesas cada vez maiores, os resultados positivos obtidos pelo nosso sistema penal são pífios. A ideia de privação de liberdade surgiu como alternativa, até humanitária, aos castigos selvagens que eram impostos aos criminosos, geralmente tortura seguida de morte, algo muito mais próximo da vingança do que da justiça. A prisão cumpriria quatro objetivos: isolar elementos perigosos impedindo-os de tornar a cometer crime; dar uma satisfação às vítimas pela punição aplicada; servir de exemplo para os demais; recuperar o condenado para a sociedade pela reflexão e pelos bons conselhos que receberia enquanto preso.

Infelizmente, praticamente nada disto acontece através de nossos presídios. Pelo contrário, parte dos apenados em primeira condenação termina por se unir a alguma facção das que controlam as penitenciárias, por questão de sobrevivência visto que o Estado não consegue garantir sua segurança. Adicionalmente, a maior parte que adentra estas instituições não consegue um programa de ensino que efetivamente a requalifique para o mercado de trabalho e a vida em sociedade, melhorando sua convivência social e potencialidade de sobrevivência.

O auxílio para sair deste ciclo vicioso tem sido muito pequeno, apesar da ampliação do atendimento escolar nas prisões paranaenses, que tem ofertado EJA – Educação de Jovens e Adultos – desde a alfabetização ao ensino médio, instalado por convênio entre Secretarias de Educação e de Justiça, Tribunal de Justiça e Ministério Público. No entanto, este programa atinge pouco mais de três mil pessoas, número muito aquém da necessidade, além da limitação de ofertas de outros tipos de atividades: profissionalizantes para capacitação ao próprio sustento, ou culturais para melhor compreensão do mundo e patrimônio humano.

Assim, a reincidência tem sido a norma, e precisaremos construir mais e mais unidades de detenção, em lugar de mais escolas. A violência aumenta, e o problema da segurança se torna cada vez mais urgente em nossas comunidades.

Crédito da Imagem: (https://www.ceert.org.br/noticias/direitos-humanos/15615/como-um-pai-de-familia-assalariado-foi-parar-em-uma-cela-do-pcc)